A cada ano a Igreja propõe aos fiéis a celebração do mistério que podemos chamar de nossa páscoa pessoal, a realidade daquela que São Francisco de Assis chamou de “irmã morte”, a inevitável morte corporal. E são muitas as pessoas, também de outras confissões cristãs ou outras religiões, que se agregam ao calendário litúrgico católico para recordar os parentes e amigos falecidos. Entretanto, a Igreja não se detém na morte, mas abre o horizonte para a plenitude da realização humana e cristã, comemorada na Solenidade de Todos os Santos. Olhamos para aqueles que já chegaram, contemplando eternamente a alegria do Céu e, ao mesmo tempo, refletimos sobre os passos a serem dados pelos que caminham na terra, todos chamados, sem exceção, à salvação, pois, no plano de Deus, todos foram feitos para a bem-aventurança, alegria sem fim e realização total de suas legítimas aspirações.
Temos à nossa disposição, como exemplo e oração, os santos e santas de Deus, aqueles que já percorreram a estrada da felicidade, como nos exorta a Palavra de Deus: “Com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição. Em vista da alegria que o esperava, suportou a cruz, não se importando com a infâmia, e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensai pois naquele que enfrentou uma tal oposição por parte dos pecadores, para que não vos deixeis abater pelo desânimo” (Hb 12,1-3).
Faz parte de nossa aventura cristã olhar ao redor para identificar o sonho de felicidade presente em todas as pessoas. Entretanto, pode até acontecer, e infelizmente acontece, que tantos de nós, confundindo o que efetivamente nos realiza, façamos escolhas inadequadas. É o mistério do pecado, com suas armadilhas sempre preparadas! No entanto, é sempre mais vigilante e poderoso o amor de Deus, que não se cansa de perdoar! Assim, a esperança não se apaga, mesmo nos períodos eventualmente mais críticos de nossa vida e da sociedade.
Para nós andarmos corajosamente contra a correnteza do mal e do pessimismo tantas vezes reinante, vem em nosso socorro a proposta das Bem-aventuranças, com indicações precisas e provocantes, incitando-nos à vida nova nascida do Evangelho (Mt 5,1-12):
“Bem-aventurados os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Ser feliz é colocar Deus em primeiro lugar, aprendendo a relativizar todo o resto, experimentar sua Providência amorosa, participar de sua generosidade, na partilha dos bens que nos são confiados! Ricos do Reino de Deus seremos ao descobrir que só temos mesmo o que aprendemos a doar!
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. Chorar é adquirir sensibilidade diante do sofrimento e dos apelos dos outros, vencer a indiferença, ir ao encontro dos que padecem mais, ter a coragem de tomar iniciativa para fazer o bem!
“Bem-aventurados os mansos, porque receberão a terra em herança”. Uma contradição diante de um mundo que se arma cada vez mais e quer ganhar no grito e na força, mas esta é a estrada do Evangelho e da história do mundo. Os violentos, mais cedo ou mais tarde, caem de sua empáfia! Quem é aparentemente fraco está construindo um mundo diferente, no silêncio e na mansidão!
“Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados”. Que dignidade se encontra nas pessoas que olham ao seu redor e não ficam satisfeitas com o pão que as sustenta, mas abraçam os valores do Evangelho, sentem-se incomodadas com a maldade e a injustiça e põem mãos à obra para mudar o mundo!
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. A força do perdão e da misericórdia é incomensurável! Aliada da mansidão, a misericórdia é bálsamo capaz de lenir as muitas feridas existentes nos corações. Corações apaixonados de amor pela fraqueza e pela miséria dos outros se entregam para transformar pessoas e estruturas da sociedade.
“Bem-aventurados os puros no coração, porque verão a Deus”. Ter o olhar puro de Deus dentro do próprio coração limpa nossos olhos, fazendo-nos ver as pessoas de modo diferente, em todos os sentidos, inclusive na cura da exorbitante e insaciável busca do prazer sensível, existente em nossos dias!
“Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Paz como Jesus a dá, e não como o mundo a procura ou pretende oferecer, feita de medo e ameaças recíprocas. E esta paz começa no coração que se desarma para ir ao encontro dos outros!
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. Na lista dos santos e dos mártires, nunca faltou a perseguição e a incompreensão. Ilusória é a busca de acomodações diante do mal existente! São felizes os perseguidos por causa do bem! Outras perseguições não são fonte de realização!
“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós”. Não pode o cristão viver no mundo sem a perspectiva do Céu. Olhar para o alto é fonte de alegria e realização nesta terra, malgrado toda a incompreensão diante dos autênticos valores do Evangelho.
Caminho difícil? O único que é digno dos filhos de Deus, chamados à santidade, para ter vidas realizadas aqui e na eternidade!
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Conversa com meu povo: Vidas realizadas
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