Da morte à vida: Cristo ressuscitou!

Por Dom Alberto Taveira Corrêa

Estamos mergulhados no coração de nossa vida cristã. Não somos apenas religiosos, mas muito mais: somos cristãos, discípulos de Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa vida e salvação. Nestes dias, que já são pascais, proclamamos com toda a disposição: “Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo é o Senhor, Cristo há de voltar! Vem, ó Senhor!” E desejamos seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, para chegar, mais uma vez, à alegria de sua Ressurreição gloriosa!

“Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: ‘Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus’” (Lc 22,14-16). Na Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, começamos a Páscoa. É a Páscoa da Ceia! Tornamos presente o acontecimento com o qual o Senhor instituiu o memorial permanente de sua entrega. Corpo entregue e Sangue derramado, a dinâmica do amor definitivo que nos é dado cada vez que comungamos! É o aniversário da Ceia Eucarística, celebrada desde a sua instituição até o fim dos tempos. Em cada momento, em algum lugar da terra, “Isto é o meu Corpo, entregue por vós” e “Este é o Cálice do meu Sangue, da nova e eterna Aliança” são palavras ditas por um Sacerdote, e são a realização do Mistério que sustenta a feliz esperança no coração da Igreja e de cada fiel. E o fazemos na alegria de receber o mandamento novo do Amor recíproco, tornando-o real e positivamente provocante no gesto do Lava-pés, para ouvir da boca do Senhor:  “Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,12-14).

A Páscoa da Cruz é celebrada na Sexta-feira Santa, não como um dia de trevas e tristeza, mas da infinita coragem e eterno amor com o qual o Senhor nos amou. De fato, “antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). É a Páscoa que nos mergulha no amor maior de Deus, que entrega seu Filho por amor de todos os homens e mulheres de todos os tempos, oferecendo-lhes o resgaste de todos os pecados. Nós a celebramos com uma Liturgia bastante original, que começa com grande silêncio e prossegue com a proclamação da Palavra de Deus, culminando com a Leitura da Paixão segundo São João. Depois, fazemos as orações universais, abrindo coração e vozes a todas as necessidades da humanidade, cravando-as no lenho da Cruz. Em seguida, a adoração da Cruz é um gesto carinhoso e humano, com o qual valorizamos a figura do Crucificado, também presente em nossos lares. Tudo culmina com a Sagrada Comunhão, pois o Senhor morreu uma só vez, sua morte foi gloriosa, ele ressuscitou e está presente entre nós! Alegremo-nos, pois estamos na Páscoa!

A Igreja, em sua sabedoria, convida todos os fiéis a se recolherem em meditação e oração durante o Sábado Santo. É tempo propício para ajuntar, em nossa cabeça e em nosso coração, todos os ensinamentos e as práticas de vida experimentadas na Quaresma. Na Sexta-feira Santa e neste Sábado não se celebra a Eucaristia, para completar a vivência do Mistério Pascal na grande Vigília, em cada Paróquia e Comunidade. No Sábado, é bom tomar conhecimento de que tudo o que se celebra conduz à Renovação dos Compromissos Batismais, pelo que cada pessoa de nossas famílias deve providenciar uma vela, a ser acesa no Círio Pascal na Vigília, que é a mãe de todas as celebrações da Igreja.

A Páscoa da Ressurreição é celebrada de sábado para domingo, na Vigília Pascal na Noite Santa, estendendo-se por todo o Domingo da Páscoa. A Liturgia da Luz começa com a entronização do Círio Pascal, símbolo do Cristo, Luz do Mundo, no qual serão acesas as velas dos fiéis, e que presidirá o espaço litúrgico até o Pentecostes, que se conclui com belíssima Proclamação da Páscoa, rica da memória da expectativa e realização do Mistério Pascal. Depois, característica de uma Vigília, a imensa riqueza da Liturgia da Palavra de Deus, que nos conduz pela História da Salvação, até chegar ao acontecimento da Ressurreição.

Assim chegamos ao Rito do Batismo, com a bênção da água, a celebração dos Sacramentos da Iniciação Cristã dos Catecúmenos preparados em cada Paróquia, e a renovação dos Compromissos Batismais. “Banhados em Cristo. somos uma nova criatura, as coisas antigas já se passaram. somos nascidos de novo!” A Igreja celebra estes ritos como uma grande homenagem ao que aconteceu com todos nós, mergulhados em Cristo, para sermos novas criaturas, ao sermos batizados. Com toda a riqueza de ensinamentos e graças recebidas, aproximamo-nos então do Altar, para a Liturgia Eucarística, ponto auge da Grande Vigília!

Esta é a Páscoa, que traz consigo consequências importantes para nossa vida cristã e o testemunho a que somos chamados. Primeiro, a vida nova recebida no Batismo, na Crisma e na Eucaristia, há de resplandecer em nossa vida, deixando que o Cristo Ressuscitado vença em nós todas as marcas do homem velho, para sermos pessoas renovadas plenamente. Havemos de sair da Vigília Pascal com o sorriso nos lábios, o amor no coração, a caridade a ser vivida e o amor à Igreja, Casa da Vida Cristã. Tendo participado da Páscoa, dela nascem os nossos compromissos de dar testemunho de Cristo, com criatividade e coragem e a prontidão para edificar o Reino de Deus, nos ambientes em que vivemos, sem dar desculpas, que sabemos tantas vezes serem esfarrapadas.

E o lugar privilegiado para amadurecer a vida recebida e celebrada na Páscoa é a Comunidade Cristã, valorizando de modo especial o Domingo, nossa Páscoa semanal. Ressoe entre nós uma afirmação dos primeiros séculos da Igreja. Em Abitene, uma pequena localidade na atual Tunísia, quarenta e nove fiéis foram surpreendidos num domingo, enquanto celebravam a Eucaristia, desafiando as proibições imperiais. Presos e levados para Cartago para serem interrogados, foi significativa a resposta dada por um cristão ao procônsul que lhe perguntava por que motivo violaram a ordem do imperador. Respondeu: “Sem o domingo não podemos viver”. Depois de atrozes torturas, os quarenta e nove mártires  foram mortos. O Domingo, nossa Páscoa semanal, será o espaço para renovarmos nossos propósitos e compromissos assumidos na grande Solenidade Pascal.

Mortos ao pecado, vivos para Deus, alegres na esperança! Esta seja a nossa Páscoa! Feliz Páscoa para todos!

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