Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo auxiliar de Belém
Caros leitores, eis que iniciamos esta nova semana com as alegrias da Solenidade de Pentecostes! E para adentrarmos nessa riqueza de reflexão sobre o Espírito Santo, conto com a colaboração de Ir. Ivoneide Queiroz, da Congregação das Irmãs Franciscanas de Maristela.
Para início de conversa, recordamos que embora o Evangelho segundo João nos fale que o Espírito Santo veio sobre os apóstolos ao anoitecer do primeiro dia da semana e, portanto, no mesmo Domingo da Ressurreição, a Igreja celebra esta Solenidade 50 dias depois da Páscoa, seguindo, assim, o relato de Lucas, que pode ser interpretado à luz do calendário judaico onde a Páscoa e Pentecostes eram festas agrárias: na Páscoa, os judeus celebravam a semeadura e, em Pentecostes, a colheita dos primeiros frutos. De qualquer forma, a vinda do Espírito Santo é, para a Comunidade Cristã, um acontecimento importante que traz vida, renovação e esperança.
Refletir sobre esta Solenidade a partir do relato de Lucas nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), onde ele fala: “quando chegou a festa de Pentecostes…”, nos faz compreender que o Espírito Santo é o primeiro fruto que a comunidade colhe da Ressurreição do Senhor. Se olhamos a partir do Evangelho segundo João (Jo 20,19-23), que nos diz: “ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana…”, podemos compreender que a Ressurreição de Jesus é vida nova, é esperança renovada.
A Festa de Pentecostes nos enche de alegria por reforçar em nós a certeza de que a comunidade cristã nunca estará sozinha, abandonada à sua própria sorte. Jesus percorreu o caminho da cruz, foi até o fim e venceu a morte, a injustiça e o pecado. Os discípulos, naquela época, experimentaram o medo, o sofrimento, a frustração, o desânimo. Hoje somos nós que presenciamos a cada dia acontecimentos que nos trazem esses mesmos sentimentos. O mundo está cheio de guerras, injustiças, opressões e violências de todas as formas. Na nossa vida pessoal também enfrentamos dificuldades e desafios diversos, porém, somos chamados (as) a não nos deixarmos vencer pelo cansaço, desânimo ou pessimismo.
Recordemos sempre que o Ressuscitado cumpre o que fora prometido: “não vos deixarei desamparados” e, assim, “ao anoitecer”, ou seja, nos momentos de trevas, quando necessitamos de apoio ou proteção, sintamos a presença de Jesus em nosso meio, assim como Ele esteve no meio dos discípulos oferecendo-lhes a sua paz e soprando sobre eles o Espírito que vivifica. O Espírito Santo é o sopro de Vida que nos recria e nos transforma quando nos sentimos matéria inerte e, portanto, paralisados (as), fechados (as) em nossas casas ou templos, incapazes de agir e de ser testemunhas de vida e esperança. O Espírito Santo vem sobre nós para eliminar o medo e a incerteza.
Outro dado a se mencionar é sobre os carismas enumerados por Paulo na Carta aos Coríntios, como dons do Espírito Santo concedidos aos membros da comunidade. Há uma diversidade de carismas, mas é o mesmo Espírito que atua em todos. Essa reflexão é muito importante neste tempo em que falamos de sinodalidade, de diversidade de dons e de funções, mas sempre com o desejo de unidade em prol da comunidade.
É necessário renovar a nossa fé e esperança acreditando sempre mais na ação transformadora do Espírito que ilumina, aquece, orienta e nos fortalece na caminhada. O Espírito Santo é um presente que o próprio Jesus nos dá para que não nos sintamos desamparados (as), abandonados (as), vencidos (as) pelo medo, cansaço ou sofrimento. Por isso devemos pedir como o salmista: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e renovai a face da terra! (Sl 104, 30).
Por fim, celebrar a Festa de Pentecostes nos faz pensar também em nossa missão de continuadores da obra de Jesus, afinal, Ele disse aos discípulos e hoje diz a cada um de nós: “como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,22). A ação do Espírito Santo está presente em todas as pessoas de boa vontade, dispostas a lutar por um mundo mais justo e fraterno. Os gestos de amor, de partilha, de solidariedade, de acolhimento e cuidado acontecem em muitos espaços como sinais concretos da presença e ação do Espírito Santo. Com estas convicções, sigamos adiante anunciando a vida e a esperança.