O Amor-Perdão de Cristo Ressuscitado entre nós

Por Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo auxiliar de Belém

Caríssimos leitores, eis que nos encontramos no Quinto Domingo da Páscoa, e seguimos com o grande desejo de conhecer cada vez mais Nosso Senhor Jesus Cristo. Não é fácil reconhecê-Lo Ressuscitado, porque às vezes Ele se esconde num peregrino, como foi o caso da experiência dos discípulos de Emaús; num jardineiro, como aconteceu com Maria Madalena; ou ainda quando apareceu aos discípulos enquanto pescavam, orientando-os a lançar a rede.

Cristo é surpreendente. Por isso, assim como não foi fácil para os discípulos reconhecerem o Ressuscitado, não é tarefa fácil para nós reconhecê-Lo hoje, pois Ele continua a se esconder em gestos “ambíguos” e humanamente pouco compreensíveis, como no ato do perdão. De fato, o perdão para a maioria das pessoas não é sinal de ressurreição, mas de fraqueza.

Mas nesta peregrinação pascal, quem nos confirma que o perdão é um lugar teológico, no qual o Ressuscitado se manifesta, é o mesmo Jesus. Embora não tenha sido fácil para Ele aceitar a traição de Judas (de fato esta atitude poderia fazer Jesus desistir da missão que o Pai lhe confiou), porém, esta “entrega” do Iscariotes fez com que o Filho do Homem fosse “glorificado”. Aceitando a cruz, por amor e obediência ao Pai, Cristo fez dela um lugar de perdão e, assim, de revelação da glória do Pai. Na cruz, Jesus encarnou o amor do Pai, amando até o fim a humanidade. Foi este sacrifício que revelou a medida do amor de Deus por cada um de nós, que somos pobres pecadores.

Chamo a atenção para a seguinte pergunta: quer conhecer a Deus? Olhe para Jesus Crucificado e veja Nele o Amor de Deus. Olhe para o Crucificado e aprenda com Ele o perdão: “Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Este é o novo mandamento que Jesus nos deixou: Amar! Perdoar!

Aprendamos com Ele e seremos reconhecidos como seus discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos, se tiverdes amor uns para os outros” (Jo 13, 35). O homem novo, ressuscitado, aparece em cada homem e mulher que ama, que se doa, que “perdoa”, ou seja, que doa numa forma exagerada até ao ponto de revelar o exagero do amor de Deus para conosco.

Você conhece alguém que amou-perdoou nesta forma exagerada? A história da Igreja está repleta de pessoas assim, começando pelos mártires: Estevão, Paulo, Lourenço, Cecília, Luzia e chegando aos mais modernos como Carlos Lwanga, Teresa Benedita da Cruz, Maximiliano Kolbe. Todos eles, sem exceção, ofereceram suas vidas com amor e perdoaram seus agressores. “Nisto conhecerão que sois meus discípulos”. Assim o nosso Pai é glorificado. Assim o Ressuscitado vive!

Eu não conheci pessoalmente os Padres mártires Xaverianos: Vittorio Faccin, Luigi Carrara, Giovanni Didoné e o sacerdote diocesano Albert Joubert, martirizados em Baraka e Fizi (diocese de Uvira) na República Democrática do Congo, em 28 de novembro de 1964, mas eles foram reconhecidos pela Igreja como verdadeiras testemunhas da fraternidade. A beatificação deles aconteceu no domingo do dia 18 de agosto de 2024, em Uvira.

Mesmo não os conhecendo, tive a grata alegria de conhecer a irmã de um deles, AmabileDidoné, que me contou a história do seu irmão Padre Giovanni. Descrevia ela: “Meu irmão nasceu em 1930, destacou-se por seu serviço incansável e amor aos mais necessitados. Nunca tinha tempo para ele porque a sua vida era consagrada para o povo africano que tanto amava. Trabalhou na missão de Fizi. Ele sempre foi um pilar de apoio e orientação espiritual para muitos. Morreu ao lado do sacerdote diocesano Albert Joubert na tentativa de proteger aquela gente; morreu perdoando quem o estava matando”.

O testemunho deste homem, caríssimos leitores, assim como dos demais mártires, revela o amor com o qual Cristo nos amou e que nos deve impulsionara amar e perdoar o próximo, como Ele nos ensinou e os santos mártires confirmaram com tanta coragem e fidelidade ao Reino de Deus.

Talvez não nos seja pedido o martírio de sangue, mas o testemunho de uma vida de amor e serviço alegre. É no amor e no perdão que o Pai é glorificado. Quem olha para uma pessoa doada no serviço amoroso ao mais necessitado, faz a experiência do Cristo Ressuscitado. Sejamos testemunhas do Amor!

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