Evangelização no Terceiro Milênio: A mística do silêncio (Parte 1)

 
 
No mundo barulhento em que vivemos, falar em silêncio pode parecer estranho para muitos. Mas, para quem busca o que chamamos de “vida interior”, vida de diálogo íntimo com Deus, o silêncio verifica-se imperioso. Há como que uma ânsia infinita de solidão silenciosa.
 
Jesus, em seus ensinamentos, recorda a importância do silêncio. Ele retirava-se para lugares desertos e silenciosos, a noite, para fazer vigílias de oração (Lc 6, 12). Três nomes de singular importância na história salvação são tidos como modelos da vida de oração silenciosa: a Santíssima Virgem Maria, São José e São João Batista. Na tradição monástica, a prática ascética dos monges de retirar-se para o silêncio eremita no deserto, remonta Moisés, Elias e demais profetas. Na tradição cenobítica, desde os primeiros séculos, o silêncio surge como “Preceito de Perfeição”, indispensável para a santidade. Os séculos XIX e XX são pródigos de exemplos de santos que tinham particular atração pelo silêncio: Teresinha do Menino Jesus, Charles de Foucauld, Elisabethda Trindade (conhecida como “Santa do Silêncio”), Faustina, Tereza Benedita da Cruz (Edith Stein), Padre Pio, João Paulo II…
 
Na perspectiva mística, podemos dividir o silêncio em três tipos, a saber: Silêncio Exterior, Silêncio Interior e Silêncio Divino. Vejamos cada um, resumidamente.
 
I. SILÊNCIO EXTERIOR – Trata-se de uma condição ambiental (exterior) do silêncio interior. O silêncio exterior é importante e necessário, como também o é o recolhimento e a solidão (mesmo sendo difícil no tempo em que vivemos), porém, é insuficiente para a completude da vida espiritual. Deve, pois, ser associado ao silêncio interior, sobre o que falaremos adiante. Ele subdivide-se em: 

a) Silêncio das Palavras – falar pouco com as pessoas e falar muito com Deus. É sabido que a palavra falada exterioriza sentimentos e pensamentos, o que, por conseguinte, esvazia a alma do que lhe é íntimo e pessoal. Desta feita, quando muito se fala, as palavras tornam superficializam o sentido de existência ontológico e, por via de consequência, enfraquecem a capacidade de crescimento e aperfeiçoamento espiritual. 
 
b) Silêncio no Trabalho e nos Movimentos – a agitação, o barulho, a velocidade dos gestos (movimentos), correrias, ansiedades, colocam-nos em um frenesi vicioso, que redunda em “ativismo”, no qual o homem se deixa ocupar em demasiado com inúmeras atividades e, desta feita, impede a ação de Deus. As atividades agitadas e frenéticas perturbam a paz da alma, de modo que se perde a sensibilidade espiritual na experiência com Deus e, assim, torna-se incapaz de ouvir quanto Ele fala.
 
II. SILÊNCIO INTERIOR – É aquele que se refere ao nosso mundo íntimo, interior. Este tipo de silêncio não depende do Silêncio Exterior, embora possa por este ser ajudado, apenas minimamente. Não obstante, o crescimento do Silêncio Interior, por vezes, se desencadeia a partir do exterior, dado que este cria um ambiente favorável à atração da alma para a vida interior. O Silêncio Interior, a bem da verdade, é alcançado por meio de um incessante processo ascético de pacificação da alma, um silenciar do mais íntimo desta. Assim, temos: a) Silêncio da Imaginação e da Memória; b) Silêncio com as criaturas e Silêncio do Coração; e c) Silêncio do Espírito e do Juízo.No próximo artigo, discorreremos sobre cada dessas perspectivas de silêncio.
 
Por ora, ficamos com eloquente frase de Santa Elisabeth da Trindade sobre o silêncio interior: “Parece-me que no céu minha missão consistirá em atrair as almas, ajudando-as a saírem-se de si mesma para aderir a Deus, num impulso espontâneo e amoroso, e de mantê-las naquele grande silêncio interior, que permite que Deus se imprima nelas, para as transforme em si mesmo”.
 
 
 

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