Evangelização no Terceiro Milênio: as delicadezas espirituais do Círio 2017 (I)

 

 
Muitos foram os fatos carregados de delicadeza espiritual, humildade profunda, ternura poética e sensibilidade estética (alguns pequeninos, outros grandiosos), que encantaram o meu olhar neste tempo santo da graça divina, desde os seus preparativos no mês de agosto até a presente quadra nazarena, que ora vivemos. Convido você, caro leitor, na companhia dos anjos da Corte Celeste, a fazer um passeio por alguns desses momentos/espaços que, como um mosaico, compuseram a beleza espiritual-artística do Círio 2017.
 
Nossa primeira parada dá-se na manhã de formação dos dirigentes de peregrinação, realizada no Hangar em 27 de agosto de 2017. Em meio ao barulho reinante, eis que um sacerdote, de olhos fechados, em um profundo silêncio interior, corria entre os dedos as contas do Terço. Como se estivesse transportado para outro espaço, pe. João Paulo Dantas (coordenador teológico do Livro de Peregrinação do Círio 2017, que ali estava para presidir a Oração da Manhã e orientar os dirigentes), entre um momento e outro da formação e rezava silenciosamente o Rosário, fato não passou despercebido do povo que próximo dele estava e muito os edificou.
 
No intento de conhecer os detalhes e as significações do desenho do Manto que vestiu Nossa Senhora no Círio 2017, vislumbrados pela designer Aline Folha (para efeito de escrever o Memorial descritivo), quando este ainda estava em construção pela delicadeza das mãos e do coração de Marilza Ramos, nosso passeio fez duas paradas em sua casa. Tudo naquele ambiente transcendia amor…leia-se, de um lado, o amor de uma filha de Maria, que ultrapassou os limites do cansaço e do sacrifício para fazer o Manto que vestiria a sua Mamãe Celestial para o Grande Dia e, de outro, o amor da Mãe Maria por essa virtuosa filha, cuja sensibilidade estética e espiritual muito lhe agradava. Como não ficar feliz e rezar diante daquela obra de arte que transcendia ternura poética?
 
Seguimos nosso passeio até a Faculdade Católica, onde nos dias 19, 20 a 21 de setembro de 2017 aconteceu o Simpósio Internacional de Mariologia. Sentimos o Céu se abrindo e vindo a nós, descortinando conhecimentos antiquíssimos e outros mais novos, interligando temáticas teológicas e artísticas, dando real significação à fervorosa devoção mariana do povo paraense. Uma verdadeira dádiva.
 
Chegamos ao dia 5 de outubro de 2017, data de apresentação do Manto que vestiria Nossa Senhora para os festejos do Círio. Que outro lugar do mundo faz uma festa, como se diria antigamente, com pompas e circunstâncias (aqui inclusa a Santa Missa primeiramente, e uma superprodução de lançamento, com direito a holofotes, música e cerimonial) para apresentar um rico e belíssimo Manto para a Rainha do Céu e da Terra? Só mesmo em Belém do Pará… E eu ali, pequenininha, impactada, como se estivesse vendo o Manto pela primeira vez. Em minha companhia estavam duas romeiras de primeiro Círio: Irmã Silvana (da Comunidade “Luz da Vida”) e Tamara Bessa (minha sobrinha, que reside em Ribeirão Preto). O olhar e o semblante das duas transcendia uma luz inigualável. Aliás, a mesma luz emanava do olhar de Dom Alberto. O estado de alegria santa e elevação espiritual era tamanho que não consigo explicar. Mas você, caríssimo leitor, sabe muito bem a que me refiro…
 
 

 

No sábado do Círio vivi dois momentos únicos: a chegada da Mamãe do Céu à escadinha da Estação das Docas, vinda da romaria fluvial; e a saída da Berlinda, toda decorada de rosas, do barracão dos carros, situado ao lado da Casa de Plácido, sendo levada até a frente do Colégio Gentil Bittencourt.
 
A chegada dos barcos, lanchas e jets sky à Estação das Docas, Ver-o-Peso e Complexo Feliz Lusitânia foi algo bastante emblemático e de uma beleza mística imensurável. Nesses três espaços, localizados às margens da Baia do Guajará, temos representados três momentos históricos da nossa Belém: o nascimento da cidade e seus primeiros anos (Complexo Feliz Lusitânia e Ver-o- Peso), a Belle Époque e os tempos contemporâneos (Estação das Docas, onde funcionou o antigo Porto Fluvial de Belém). Eis que a Estrela da Evangelização nestas terras amazônicas perpassou todos esses momentos históricos dessa feliz e abençoada cidade e chegou ao século XXI, sempre a abençoar o povo e sendo por ele homenageada. Que outro lugar da terra honra a Mãe do Céu com uma colorida e bonita romaria nas águas? Somos mesmos privilegiados. Presenciar essa beleza transcendente naquele complexo arquitetônico histórico e, ainda, ver a Rainha da Amazônia receber honras de Chefe de Estado, não tem preço.
 
No sábado à tarde, testemunhamos a finalização da decoração da Berlinda, feita por Paulo Morelli e uma equipe de valorosos colaboradores. As poucas pessoas ali presentes no barracão (Guardas da Santa, diretores do Círio e esposas, funcionários da limpeza, assessoria de comunicação da Basílica, entre outros…) ficaram extasiados, como que em estado de torpor. Afinal, estávamos diante do Trono da Rainha, todo perfumado por belas rosas.
 
Chegarmos perto daquela beleza mística, tocar nas rosas, rezar, sentindo-se parte daquele Jardim suspenso e nele depositar, em oração, pedidos de inúmeras pessoas cujos nomes vinham ao nosso coração, foi uma experiência ímpar que para sempre nos marcará a memória. Como não elevar a alma ao céu ante o perfume inebriante que emanava daquele Jardim Sagrado?
 
No próximo artigo, daremos continuidade ao nosso passeio. Por enquanto, fiquemos a aspirar o odor da santidade que emanou desses momentos, ora retratados.
 

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