A Tradição nos apresenta um antiguíssimo exercício de piedade, conhecido pelo como Via Crúcis, que se recomenda seja rezado às sextas feiras, em especial durante a Quaresma.
Trata-se de exercício que remonta aos primórdios do Cristianismo, dada a profunda veneração dedicada ao caminho e lugares percorridos por Nosso Senhor Jesus Cristo desde a hora em que foi condenado até o seu sepultamento. Contam os registros históricos que fiéis dos mais diversos lugares peregrinavam à Palestina, com o objetivo de lá rezar. Muitos desses fiéis nos legaram minuciosas narrativas dos lugares santos percorridos pelo Salvador a caminho do Calvário, ilustradas com quadros e pequenos monumentos. Os mais importantes desses registros datam do século IV dC, assinados por Etéria e pelo peregrino de Bordéus.
Ressalte-se que nos séculos XI e XIII dC, por influência das Cruzadas (séc. XI/XIII), houve uma forte tendência à reprodução dessas cenas da Paixão e Morte de Jesus Cristo, o que gerou nos fiéis o desejo de conhecer os lugares santos, além de proporcionar o desenvolvimento de uma espiritualidade própria da veneração dessas cenas/lugares. Eis que, especialmente nos mosteiros, ergueram-se capelas e monumentos que recordavam os diversos santuários da Terra Santa, que se tornaram destino de “peregrinação espiritual” de religiosos do mundo inteiro, impossibilitados de peregrinarem a Jerusalém. Vem daí o costume de termos pequenos quadros das cenas da Via Sacra nas paredes de nossas Igrejas.
As reproduções da Via Dolorosa no Ocidente, em pintura ou escultura, já nos séculos XV e XVII, eram de diversas formas. Havia reprodução que enumerava sete etapas, também ditas “Sete quedas de Jesus”, aqui considerando os momentos em que o Cristo se prostrou por terra sob o peso da cruz, desejoso de reerguer-se. Houve, porém, outras reproduções que contavam oito, dezenove, vinte cinco e até trinta e sete estações. A sequência mais conhecida, que perdura até o presente, sendo meditada por devotos de todo o mundo, é a seguinte: 1ª estação – Jesus é Condenado à morte; 2ª estação – Jesus carrega a Cruz; 3ª estação – Jesus cai pela primeira vez; 4ª estação – Jesus encontra Maria, sua Mãe Santíssima; 5ª estação – Simão, de Cirene ajuda Jesus a carregar a Cruz; 6ª estação – Uma piedosa mulher, Verônica, enxuga o rosto de Jesus; 7ª estação – Jesus cai pela segunda vez; 8ª estação – Jesus consola as filhas de Jerusalém; 9ª estação – Jesus cai pela terceira vez; 10ª estação – Jesus é despojado de suas vestes; 11ª estação – Jesus é pregado na Cruz; 12ª estação – Jesus morre na Cruz; 13ª estação – Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe; 14ª estação – O corpo de Jesus é sepultado.
Registre-se que, ao realizar a Via Sacra no Coliseu de Roma, na Sexta-feira Santa dos anos de 1991 e 1992, o Papa São João Paulo II modificou as estações conforme segue:
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1ª estação – Jesus no Horto das Oliveiras
2ª estação – Jesus, traído por Judas, é aprisionado
3ª estação – Jesus é condenado
4ª estação – A negação de Pedro
5ª estação – Jesus diante de Pilatos
6ª estação – A flagelação e a coroação de espinhos
7ª estação – Jesus carrega a Cruz
8ª estação – Jesus e o Cirineu
9ª estação – O encontro de Jesus com as mulheres de Jerusalém
10ª estação – A crucificação
11ª estação – Jesus e o Bom Ladrão
12ª estação – Maria e João ao pé da Cruz
13ª estação – A morte de Jesus
14ª estação – Jesus deposto no sepulcro
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Procuremos, em especial nas sextas-feiras da Quaresma, que ora vivemos em retiro espiritual, realizar esse exercício de piedade, meditando as quatorze estações da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Façamos o percurso da Via Crúcis, em espírito, vivendo cada uma das cenas como se lá estivéssemos, cheios de piedade, trazendo à mente o Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que ama e sofre na própria carne pela Redenção do homem.
Vereis, caro leitor, como diria São Josemaria Escrivá, que “esta Cruz já não é um patíbulo, mas o Trono do qual reina Cristo. E a seu lado encontrarás Maria, sua Mãe, Mãe nossa também. A Virgem Santa te alcançará a fortaleza de que necessitas para caminhar, com decisão, seguindo os passos do seu Filho” (in Amigos de Deus, n. 141).
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Evangelização no Terceiro Milênio: Via Crucis: Tradição e piedade
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