Retornemos, nesta edição, ao estudo do SILÊNCIO INTERIOR, em suas três perspectivas, a saber:
a) Silêncio da Imaginação e da Memória – É certo que o ser humano tem poder para implantar o silêncio nos seus movimentos exteriores, nos barulhos que a sua atividade diária pode produzir. No chamado “reino interior”, no entanto, o homem tem pouco ou nenhum poder. Trata-se de uma instância que, só à custa de muito exercício de paciência, perseverança e constante ascese, poderá alcançar algum êxito. Ab initio, cumpre ressaltar que o verdadeiro silêncio só pode ser outorgado por Deus e, via de regra, somente acontece após muitos esforços. Trata-se, pois, de um dom de Deus, que nos é dado para a Contemplação. Destarte, o encontro pessoal com Deus exige que sejam elididas as dissipações da atividade interior, de modo que sejam efetivamente controladas. Esta ascese deve criar um ‘vazio’ em nossas “potências interiores”, esvaziando a alma de forma ativa. Isto exige um esforço contínuo para dominar pensamentos, desejos, imaginação, etc, os quais, normalmente, fixamos naquilo que amamos ou tememos. É o que Santa Teresa de Jesus chamava de “desocupar o Palácio da alma” de todas as recordações interiores que perturbam a paz, empregando todas as suas forças para entrar no recolhimento ativo.
b)Silêncio com as criaturas e Silêncio do coração – para quem procura “ver” a Deus, uma das condições necessárias e das mais importantes é a de possuir um coração puro, recolhido para a pura contemplação. Este silêncio é também conhecido pelo nome de “silêncio do amor vigilante”, que consiste em reagir, vigorosa e energicamente, contra todo o afeto puramente natural que se manifesta em pensamentos, conversas “interiores”, desejos demasiado sensíveis, dirigindo-se, com um movimento de fé e amor, para Deus. É preciso, portanto, vigiar o desejo das satisfações que são contrárias à Vontade de Deus (prazeres, gostos, preferências, simpatias absorventes etc), leia-se, tudo o que dificulta a adesão total a Ele. Na perspectiva transcendente, há que se mortificar as devoções demasiadamente sensíveis; simplificando a nossa relação com Deus e aceitar, em paz, as purificações que se manifestam de inúmeros modos na nossa vida cotidiana.
c) Silêncio do espírito e do juízo – A vida contemplativa do homem resume-se no ato de abrir-se para a escuta de Deus, para receber a irradiação da Sua Luz, o que somente se possibilita quando a inteligência permanece livre e vazia de raciocínios, razões e juízos naturais, de investigações intelectuais e de intenções alheias a Deus. São João da Cruz, em sua ontológica meditação intitulada “Noite do Espírito”, caracteriza tal silêncio como o despojamento total do intelecto. São Paulo, por seu turno, o chamava de “nescivi” (nada sei); e Santa Elizabeth da Trindade o encontrava no ato de “apagar qualquer outra luz”. No próximo escrito dissertaremos sobre o SILÊNCIO DIVINO, encerrando-se, assim, esse ciclo de meditações sobre a Mística do Silêncio.
Concluímos o presente artigo com a sábia meditação de São João da Cruz: “Uma Palavra disse o Pai, que foi o Seu Filho e esta Palavra o Pai a diz sempre no eterno silêncio e em silencio é preciso que pela alma Ela seja ouvida”.
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Evangelização no Terceiro Milênio
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