Menino Jesus na Santa Missa na Noite de Natal na Basílica de São Pedro  (Vatican Media)
Menino Jesus na Santa Missa na Noite de Natal na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

“A fixação da data do Natal não tem preocupação cronológica, mas litúrgica e teológica”. A data de 25 de dezembro “viria da adoração do “sol invencível” (NatalisSolisinvicti), que era uma festa romana e pagã que celebrava o solstício do inverno no hemisfério norte. Chamava-se “festa do sol”. O Cristianismo aproveitou essa data para apontar Cristo, sol nascente que nos veio visitar, como luz do alto para os que jazem nas trevas e na sombra da morte ali morte ali estão sentados”.

“Aos peregrinos provenientes de todas as partes do mundo que visitarem a Praça de São Pedro, a cena da Natividade recordará que Deus se aproxima da humanidade, tornando-se um de nós, entrando na nossa história com a pequenez de um menino. Com efeito, na pobreza do estábulo de Belém, contemplamos um mistério de humildade e amor. ¹(Leão XIV)”

Jesuso assume a fragilidade humana, tornando-se um de nós. Isso é uma prova do amor de Deus, que desceu até nós para nos resgatar, e a salvação se torna uma realidade presente, não apenas uma promessa distante. E se a encarnação é o “como” Deus veio, a ressurreição é a “garantia” de que a vitória sobre o pecado e a morte foi alcançada.  Assim, esses dois movimentos – encarnação e ressurreição – devem ser mantidos juntos, disse o cardeal Cantalamessa.

Já às portas do Natal, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “Natal de Luz: singular e especial”:

“O Concílio Vaticano II não dedicou um documento exclusivo ao Natal, mas tratou de modo profundo e central do mistério que o Natal celebra: a Encarnação do Verbo Divino. Esse tema aparece de forma transversal em vários documentos conciliares, sobretudo na Constituição dogmática Lumen Gentium, na Constituição pastoral Gaudium et Spes e na Constituição dogmática Dei Verbum

A constituição Pastoral Gaudium et Spes, no número 22, aponta que Deus entra na história humana, assume a nossa condição e revela plenamente o seu amor: “Na realidade, o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado”. Na Constituição Dogmática Lumen Gentium, lê-se assim no número 3: “O Filho de Deus… assumiu a natureza humana para realizar a obra da redenção”. No Natal, Deus não apenas envia uma mensagem: Ele mesmo vem. Jesus é a Palavra viva, o Verbo feito carne, a revelação plena do Pai.

Cada celebração de Natal, não é mais uma vez que se celebra, de uma maneira repetitiva e talvez rotineira, mas um novo ciclo litúrgico que acontece de maneira singular e genuinamente especial. Segundo o filósofo Kierkegaard, com a encarnação de Cristo, quando um Deus tão imenso se fez tempo e espaço, fazendo-se pingo de gente, a eternidade entrou no tempo e criou-se assim a própria possibilidade da esperança. Por esses dias, findamos o Ano Santo Jubilar da Esperança. Na “teologia da esperança” não seria a encarnação o fundamento da esperança, mas a ressurreição. Porém, Cristo não se encarna simplesmente para se encarnar, mas com um objetivo próprio e concreto, ou seja, para salvar a humanidade, para morrer e ressuscitar por amor a nós.

Esses dois movimentos precisam ser mantidos juntos: a encarnação e a ressurreição. É o que nos aponta o cardeal RanieroCantalamessa, ex-pregador da Casa Pontifícia: “As duas coisas devem ser mantidas juntas. Num ponto da história – a Encarnação – a humanidade entrou no tempo, em outro ponto da história – a ressurreição – o tempo entrou na eternidade! O horizonte cristão da eternidade – como mais genericamente da salvação – é possibilitado, conjuntamente, pela encarnação e ressurreição de Cristo.”

O Papa Leão XIV tem enfatizado que a mensagem do Advento é viver uma espera ativa, abrindo-se ao Senhor que vem, a colocar nossa confiança em Cristo como centro da vida cristã e que o tempo natalino é ocasião para renovar compromissos com a paz, justiça e cuidado com o outro.

Cristo não se fez homem, no Natal, para fazer turismo e vir tão somente uma visitinha qualquer entre nós e depois partir de volta para o Pai. Quando se faz gente como a gente, tem uma missão, uma tarefa fundamental: a salvação de cada homem e cada mulher. Veio para iluminar todo o homem do planeta, segundo nos aponta o Concílio Vaticano II. A razão do Natal é a Páscoa. Mas, oNatal não é menos indispensável para a esperança cristã do que é a Páscoa. Outros homens morreram e ressuscitaram, segundo a Bíblia, mas não fundaram nenhuma esperança nova. Se isso aconteceu com Cristo, é porque a sua não era a morte e ressurreição de uma pessoa qualquer, mas de um homem-Deus”, conforme aponta Cantalamessa.

Kierkegaard ainda diz assim: “A Esperança do Cristianismo é a eternidade e Cristo é o caminho; o seu abaixamento (kênosis na teologia, que celebramos na concepção, no Natal e sobretudo na cruz) é o caminho, mas também quando ascende ao céu, Ele é o caminho”. Para o pensamento bíblico, o ser humano não é tanto o que é determinado a ser pelo seu nascimento, mas o que é também chamado a se tornar, mediante o exercício de sua liberdade, na obediência à Palavra de Deus, em toda a sua trajetória.

Na liturgia, foi demarcada em 25 de dezembro o dia do nascimento do Salvador. Diferente da Páscoa, a fixação da data do Natal não tem preocupação cronológica, mas litúrgica e teológica. A demarcação da festa do Natal em 25 de dezembro viria da adoração do “sol invencível” (NatalisSolisinvicti), que era uma festa romana e pagã que celebrava o solstício do inverno no hemisfério norte. Chamava-se “festa do sol”. O Cristianismo aproveitou essa data para apontar Cristo, sol nascente que nos veio visitar, como luz do alto para os que jazem nas trevas e na sombra da morte ali estão sentados e mergulhados (cf. Lucas 1,79).

O profeta da esperança já anunciava: “O povo que jazia nas trevas, viu uma grande luz” (Isaías 9,2). Quando Jesus começa seu ministério, se cumpre essa profecia em Mateus 4,15-16: “o povo que jazia nas trevas, viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma grande luz”. Não é por nada, que no Natal, se ascendem incontáveis luzes, em todos os lugares. Em todas as cidades se faz “Natal Luz”. Cristo é nossa luz, esperança para cada amanhecer. O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, o oitavo dia, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Enfim, Cristo nascido-morto-ressuscitado é a verdadeira luz, dos homens e das nações. Jesus mesmo se apresentou como “Luz do mundo” (João 8,12). Quem o seguir, não andará nas trevas”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹ Discurso do Papa Leão XIV aos doadores do Presépio da Sala Paulo VI e da Árvore de Natal da Praça São Pedro: 
https://www.vatican.va/content/leo-xiv/pt/speeches/2025/december/documents/20251215-delegazioni-presepe-albero.html

Fonte: Vatican News / Por Jackson Erpen

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