COP30: carta pública

Pede o fim da desinformação sobre mudanças climáticas

Manifestantes em Belém  (AFP orlicensors)
Manifestantes em Belém (AFP orlicensors)

Cerca de 400 organizações científicas, ambientais e sociais lançaram um apelo aos negociadores da COP30, exigindo “ação imediata e vinculativa” para deter a crescente onda de desinformação sobre as mudanças climáticas.

Cinco dias após o início, a COP30 de Belém enfrenta seus principais obstáculos: a definição de critérios de adaptação e a discussão sobre as finanças públicas dos países participantes. Os negociadores estão desvendando os 145 pontos da agenda da conferência com um “espírito construtivo”, considerando o difícil contexto geopolítico, como destacou o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, ao falar sobre o evento.

“Estamos a todo vapor, discutindo todas as questões de forma transparente”, afirmou a diretora-executiva da COP30, Ana Toni.

Uma das grandes missões deste mês é estabelecer uma lista unificada de critérios para mediar, monitorar e avaliar o progresso das ações de adaptação à emergência climática. Atualmente, existe uma lista com aproximadamente cem critérios. Mas, como têm sido as primeiras reuniões, não será fácil chegar a um consenso.

Segundo fontes locais, o grupo de países africanos pretende prolongar os trabalhos técnicos por mais de dois anos e adiar a decisão final para 2027, algo que é visto com preocupação por outras nações, que interpretam a medida como uma intenção de ampliar a adoção de metas concretas de adaptação.

Emissão de gases de efeito estufa

As emissões globais de gases de efeito estufa atingirão 38,1 bilhões de toneladas em 2025, estabelecendo um novo recorde no ano que marca o décimo aniversário do Acordo de Paris. Essa é a previsão do Global Carbon Project (GCP), um programa que reúne mais de 100 cientistas de 80 instituições do mundo todo, contida em uma análise apresentada na COP30.

O documento alerta para as emissões de petróleo, gás e carvão, que devem crescer mais de 1% em comparação com 2024, apesar de meio século de alertas científicos sobre a urgência de reduzir os gases de efeito estufa. Para o GCP, os dados destacam a discrepância entre os compromissos assumidos em 2015 em Paris e a atual trajetória climática global. 

Na COP30, limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau Celsius é apontado como o tema central das negociações. O objetivo é garantir condições climáticas seguras para as futuras gerações em uma área — a Amazônia — que representa uma das frentes mais sensíveis da crise climática.

Entretanto, cerca de 400 organizações científicas, ambientais e sociais lançaram um apelo aos negociadores da COP30, exigindo “ação imediata e vinculativa” para deter a crescente onda de desinformação sobre as mudanças climáticas.

O pedido consta de uma carta pública assinada por mais de 375 personalidades e ONGs, incluindo a Rede Internacional de Ação Climática, o WWF, a 350.org, a Client Earth e o Índice Global de Desinformação. Os signatários denunciam que a disseminação de notícias falsas e conteúdo climático manipulado mina a confiança pública, dificulta a adoção de políticas eficazes e retarda a transição energética. A carta acusa a indústria de combustíveis fósseis de financiar campanhas coordenadas de desinformação com o objetivo de criar “uma percepção artificial de divisão e apatia” e desacreditar as soluções de energia renovável.

Pela primeira vez, o tema da desinformação foi oficialmente incluído na agenda de negociação de uma conferência climática das Nações Unidas.

Fundo Clima

O Brasil anunciou a captação de mais de € 3,4 bilhões (R$ 21 bilhões) para o Fundo do Clima, graças a novos acordos assinados durante a COP30. O anúncio foi feito pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante, que classificou a operação como “uma das maiores iniciativas de financiamento verde do mundo”.

Os recursos provêm de instituições de desenvolvimento da Itália, Alemanha, França, Japão e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O anúncio ocorre uma semana após a primeira fase de financiamento, na qual o Tesouro Nacional colocou US$ 1,5 bilhão em “greenbonds” no mercado internacional, títulos de dívida destinados a financiar projetos ambientais e apoiar a transição energética. Os recursos do Fundo do Clima serão destinados a programas de redução de

emissões, proteção da biodiversidade e expansão de energias renováveis. Segundo o governo, este é um passo concreto para consolidar o papel do Brasil como líder na transição energética global, tema central da COP30.

200 barcos

Uma flotilha de aproximadamente 200 barcos desfilou ontem pelas águas da cidade de Belém para denunciar a exploração dos rios da Amazônia e o impacto da expansão do setor agropecuário sobre a floresta. A navegação coletiva marcou a abertura da Cúpula dos Povos Indígenas e Movimentos Sociais que se realiza paralelamente à COP, como um espaço de protesto e debate sobre políticas ambientais globais.

A flotilha, segundo os organizadores, visa “mostrar a força do povo” e propor alternativas sustentáveis ​​como a agroecologia.

Pirogas, barcos à vela, pequenas lanchas e grandes balsas participaram da manifestação. A balsa Imperatriz liderava o movimento, transportando um grupo de líderes indígenas, ativistas e pescadores de Sinop, a “capital da soja” brasileira, que cantaram contra os planos do governo de usar os rios da Amazônia para o transporte agrícola.

Monitorar a floresta

E os países amazônicos anunciaram um novo sistema conjunto de monitoramento da floresta tropical para fortalecer o combate ao desmatamento e à degradação ambiental.

A iniciativa, apresentada ontem na COP30 em Belém, será coordenada pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e financiada com 55 milhões de reais, do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco do Estado de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O projeto visa integrar os sistemas nacionais de observação florestal dos membros da OTCA — Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela — unificando metodologias e dados científicos.

Fonte: Vatican News / Por Silvonei José – Belém

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