Em novembro de 2025, Belém do Pará receberá a 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30), um evento global fundamental para a definição dos caminhos que o mundo deve seguir para proteger a Casa Comum. Essa conferência reunirá líderes, cientistas, ativistas e representantes dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, especialmente da Amazônia e dos territórios indígenas e tradicionais.

Porém, mesmo antes do início da COP30, um grave problema já ameaça a participação plena e legítima dessas vozes essenciais: o aumento abusivo dos preços das hospedagens em Belém. Relatos apontam que diárias de hotéis e pousadas têm chegado a custar de cinco a dez vezes o valor usual, criando barreiras econômicas que podem excluir delegações dos países mais pobres, povos originários e comunidades tradicionais, justamente aqueles que mais precisam estar presentes para defender suas causas e modos de vida.

Esse cenário não é apenas um problema logístico ou econômico, mas uma questão de justiça social e ambiental. A exclusão de representantes vulneráveis por barreiras financeiras contradiz o princípio central da COP30: a justiça climática, que visa garantir que os mais afetados tenham voz e participação nas decisões que impactam diretamente suas vidas.

Os desafios para o Brasil e para a credibilidade da COP30

Além de excluir atores essenciais, a especulação no mercado da hospedagem compromete a imagem do Brasil diante da comunidade internacional. Um país que se apresenta como anfitrião do maior evento climático do mundo não pode ser associado a práticas que reforçam estigmas de exploração e oportunismo, como alertam diversas lideranças sociais e religiosas. Isso pode prejudicar o interesse e o engajamento das delegações, fragilizando o diálogo e o alcance das negociações.

Belém, conhecida pela diversidade cultural e pela riqueza da biodiversidade amazônica, tem a oportunidade de demonstrar que é possível conciliar crescimento econômico, justiça social e cuidado com a natureza. Porém, isso depende de uma mobilização responsável e ética de todos os setores — público, privado e sociedade civil — para garantir um ambiente acolhedor, acessível e justo.

A mobilização da Igreja e da sociedade civil: Igreja Rumo à COP30

Entre as diversas frentes que se articulam para enfrentar esses desafios, destaca-se a iniciativa Igreja Rumo à COP30. Coordenada por entidades como a CNBB, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), a Cáritas Brasileira e o Movimento Laudato Si’, essa articulação busca fortalecer a presença da Igreja e de comunidades vulneráveis no debate climático, pautando-se pelos princípios da ecologia integral e da justiça climática.

Baseada nos ensinamentos do Papa Francisco, especialmente na encíclica Laudato Si’ (2015) e na exortação apostólica Laudate Deum (2023), essa rede promove a formação, espiritualidade, escuta e participação ativa de lideranças e comunidades, contribuindo para a construção de alternativas sustentáveis e justas.

Hospedagem solidária: uma resposta concreta e humana

Diante do problema dos preços abusivos, uma das propostas que têm ganhado força é a prática da hospedagem solidária. Essa iniciativa, já presente em grandes eventos católicos como a Jornada Mundial da Juventude e diversas romarias, consiste na oferta voluntária de hospedagem por famílias, comunidades e instituições, proporcionando alojamento digno e acessível para delegações com recursos limitados.

Além de ampliar o acesso, essa prática favorece o encontro entre diferentes culturas e realidades, fortalecendo o sentido de fraternidade e partilha que devem permear um evento como a COP30. A hospedagem solidária também representa um gesto concreto de acolhimento, que contrasta com a lógica da especulação e do lucro a qualquer custo.

Mais do que ofertar hospedagem, a Igreja e outras organizações da sociedade civil têm um papel importante na formação de consciências e mobilização social, promovendo o entendimento da importância da COP30 para a proteção da Amazônia e do planeta, e a necessidade de um acolhimento justo e responsável.

Iniciativas que envolvem rodas de conversa, celebrações, momentos de oração e ações educativas aproximam a população local da realidade dos povos indígenas e comunidades tradicionais, despertando solidariedade e compromisso. Essa mobilização ajuda a criar um ambiente onde o evento pode ser vivido não apenas como uma ocasião política, mas como uma experiência coletiva de cuidado e respeito à vida.

Por que a ampla participação é essencial para a legitimidade da COP30

A COP30 representa um dos momentos mais importantes do século XXI para enfrentar as mudanças climáticas. Seu sucesso dependerá da diversidade e qualidade das vozes presentes, que precisam incluir os mais afetados pela crise ambiental.

Impedir a participação dessas vozes por razões econômicas compromete a legitimidade política da conferência e reduz a pluralidade das discussões, enfraquecendo as decisões e o impacto global do evento. Garantir preços justos, acesso facilitado e acolhimento solidário são condições éticas e políticas indispensáveis para que a COP30 seja democrática, inclusiva e efetiva.

Assim, as instituições, o poder público, o setor privado e a sociedade civil — todos nós — somos convidados a assumir um compromisso coletivo para garantir que a COP30 seja um espaço de diálogo, justiça e acolhimento. Belém pode e deve ser exemplo não só pela sua biodiversidade, mas também pela sua capacidade de construir um ambiente justo, solidário e respeitoso para todos.

Que essa mobilização reflita o verdadeiro espírito da ecologia integral e da justiça climática, colocando a defesa da vida humana e da criação no centro das ações, para que a COP30 seja um marco transformador para o Brasil e para o mundo.

Fonte: Portal A12 / Com CNBB

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