Irmã Marília vence concurso de poesia

 
No próximo dia 31 deste mês, a Academia Paraense de Letras, entregará a Irmã Marília Menezes à honraria de vencedora do quarto Concurso de Poesia “Cidade de Belém” versão 2016-17, cujo tema é em homenagem aos 400 anos de Belém, Capital do Pará.  A solenidade ocorre às 19h na sede da Academia, localizada na rua João Diogo, no bairro da Campina.
 
 Irmã Marília Menezes é missionária, professora, poetisa e jornalista, além de membro correspondente da Academia Amazonense de Letra, com longos anos de trabalho nas cidades e no interior do Pará e Amazonas. Foi conselheira geral da congregação religiosa (católica) irmãs adoradoras do sangue de cristo, com sede em Manaus. (Duas casas em Belém) e trabalhou alguns anos em diversos países. Herdou a arte da poesia do pai, o  poeta Bruno de Menezes, sua veia poética, questionadora e forte, que lhe serviu de referência para redigir no livro histórias de fé, e missão. 
 
MEU POEMA PARA BELÉM
 
Este meu versejar
quer ser o pagamento de uma vida de uma dívida –
uma dívida de gratidão, zelo e paixão 
 Por ti, minha cidade, – 
– dividida que foi crescendo, 
 E que aspirei resgatar em instante propício.
 
Eis que chega o momento, 
a ocasião ideal:
é o jubileu de festa , um grande  festival  
dos quatrocentos anos de Belém, o meu berço natal.
 
É, portanto com amor, com imenso afeto
que eu venho ofertar 
este poema a ti, ó cidade querida, 
CIDADE BELÉM
 
******************
Eu te oferto Belém, o teu “descobrimento”
há quatrocentos anos, no forte do Castelo.
Eu te oferto teu nome de Batismo:
Santa Maria de Belém do Grão Pará.
Ao relembrar teu berço, tua infância,
fico olhando, essas águas que te banham , singradas por canoas  –  caravelas  – 
Água que vai, que vem, pois é a porta de entrada da Amazônia.
E volto meu olhar para a cidade:
Prece- me escutar: Belém, Belém-
Cidade mergulhada em mar de dor, de sofrimento, 
mas também de alegria desmedida:
Um mar de vida.
 
Eu te ofereço, Belém, a Evangelização 
que, há quatro séculos, nesta Amazônia se lançou
e um fértil terreno encontrou 
pois as Sementes do Verbo já estavam plantadas 
dentro do coração .
 
A tua vocação estava bem patente no nome que ganhaste-
tão belo e sugestivo
e sempre redivivo:
Santa Maria de Belém – BELÉM: síntese do Natal, Cruz e Ressurreição.
Missionários partiram 
entre dores, fadigas, a força  de vontade, as orações. 
Surgiram aglomerados – povoados, quais fermentos. 
Desobrigas… Os homens e as mulheres catequistas… cantos e procissões  – 
Que povo está nascendo?  – muitos se perguntavam. São rebentos…
 
E em breve rasgavam a mata as capelinhas, a cruz e um campanário 
Vilas – sons que emergiam da floresta 
Malária – febre – festa…
Nasciam comunidades,
embriões de cidades… E assim ocorreu:
Uma palavra viçosa aqui nasceu, se firmou e cresceu: 
Belém, Belém!
Este teu nome hebraico  – BEITH-LECHEM – 
É O NOME de BELÉM – CASA DO PÃO –
e explicita , reforça a tua trajetória , teu caminho e história! 
 
E então eu te oferto, Belém, este teu povo:
Os índios que acolheram os portugueses – o invasor-
na terra que era deles, lhes vieram lhe mostrar 
suas – as nossas riquezas: a manga, o açaí, remédios naturais,
a floresta e a rede, canoa, peixe farto saltitando na água,
e os banhos de rio, e o linguajar…
 
 Os donos primitivos destas terras serão hoje acolhidos, bem amados?
 
Eu te oferto, Belém,
Os negros transportados da  Mãe África 
entre horrores e dores,
para serem vendidos no mercado de escravos 
que existia  em Belém, e em outros lugares,
cujos restos nos bradam ainda hoje.
Negros amalgamados, valendo ouro, separado dos seus…
Quanto sangue correu…
os negros que te amaram contigo se intregaram
nos cantos e nas danças, nos costumes , 
criando um novo povo,
que me inspira a formar este  neologismo
em que os três elementos, numa cosmovisão, formam um termo apenas:
Povo negrilusíndo!
 
 Eu te oferto Belém, 
o branco, o português que se encantou contigo,
que ensinou e aprendeu. 
Trouxe o Catolicismo!
E te oferto também nossos “brancos” de hoje, 
que te procuram para aqui viver 
pois és cosmopolita. 
não sabes dizer “Não” a quem te busca – nem o deves dizer…
És um caleidoscópio, um mosaico gigante,
Azulejo fantástico de raças, de sabores. 
Traços fortes de imagens, de valores, de aromas e de cores.
 
E te oferto este povo de Belém do Pará:
De coração e ouvido generoso e atento, de olho observador 
de não muito falar 
mas que aprendeu a gritar e a protestar 
a se fazer ouvir, 
a se sentir.
É um povo que resiste, que insiste e que esbraveja,
um povo que persiste, com amor
numa luta incessante, confiante, de trabalho e de insônias, em diuturna peleja 
por um dia melhor.
 
Eu te ofereço, Belém, o teu calor, as tuas chuvaradas,
os canais transbordando , as ruas alagadas, mal tratadas, 
assaltos, furto e droga, correria,
o Por-do-sol nas Docas, Ver – o -Peso, o luar na baía – que magia!
Diárias agonias… 
Todo mal, todo o bem. 
Tudo isto é Belém…
 
 Eu te oferto, Belém, 
O teu corpo e o nosso CÍRIO!
mais que bi-secular ! 
Vela, chama pequena, que sempre resplendeu de fé e de esperança. 
Uma vela a velar – vela de muito amor, que aumentou, se fez Círio 
em volta de Jesus , de Maria e do povo.
Círio que cresce sempre ao dividir sua luz 
e ilumina o Brasil cada ano, de novo.
 
 Eu te oferto, ó Cidade de Belém, 
uma flor destes rios e igarapés que te rodeiam: 
É um ícone, um símbolo…
Nela eu vejo a floresta e as águas da Amazônia, precisando de nossa proteção:
fauna e flora, recursos e tesouros . 
Vês? É a vitória-régia, boiando nos teus lagos…
Tudo louva e exalta o Deus da Criação, ameaçada de destruição!
Representa a Amazônia – 
esplendor de beleza,
poema de natureza
que temos de amar , de preservar.
 
Pra isso, Belém, és chamada a tornar -te sempre mais, 
grande centro de estudos e pesquisas, de comunicação.
E não é utopia, é um belo ideal de sadia ambição 
num  perseguir constante, com firmeza e união.
 
Verifico, porém, cidade de Belém-,
que és tu mesma, um poema inacabado:
que deve continuar a se desenvolver,
 porque tens em teu nome este carisma:
seres casa do pão e casa da partilha.
Teu nome é um desafio, um compromisso:
Seres a casa dos pães multiplicados, 
quanto mais repartidos, mais doados. 
Deves seguir a tua vocação de unir a Amazonas e Pará,
de unir a Amazônia e o mundo.
Compromisso re-afirmado neste mega-evento de fé e de alegria 
 Celebrando este ano, nesta terra, com Congresso da Eucaristia.
 
 Deves continuar a ser a “ Statio Orbis” , 
 A ESTAÇÃO da Amazônia – que é um MUNDO.
Sendo Casa do Pão, geradora de vida – és mãe e irmã – IRMÃE do mundo-
-um novo neologismo ! 
Só assim crescerá na excelsa missão
do teu nome origem !
 
E neste Jubileu de quatrocentos anos, eu desejo  
que os teus sinos repiquem cada dia 
sinalizando o povo que te ama 
com audácia, energia:
Belém, Belém:
O jubileu prossegue!
Povo que ambiciona trabalhar com mais vigor por ti, de se empenhar,
A dar por ti a vida, o coração, 
como quantos tem feito !
Belém, casa do pão…
para o teu bem maior , ó querida cidade de Belém: 
para o teu bem – além , e sempre além –
Belém, Belém!

 

Irmã Marília Menezes

 
 
 

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