Há mais de 20 anos a Pastoral Carcerária promove a peregrinação da imagem de Nossa Senhora de Nazaré às unidades penais da região metropolitana de Belém. Junto ao Arcebispo Dom Alberto Taveira Corrêa, e do Bispo Auxiliar, Dom Irineu Roman, Dom Antônio de Assis Ribeiro também partilhou da experiência este ano, e a Voz de Nazaré publica nesta página sua reflexão sobre a programação que integra o calendário oficial do Círio de Nazaré.
VN – Dom Antônio como o senhor define a experiência das visitas às casas penais?
Creio que toda pessoa que visita um presídio brasileiro sempre tem uma experiência chocante. É uma experiência de toque naquilo que há de mais degradante e dramático para o ser humano que é a perda da sua liberdade; é o encontro direto com o sofrimento humano. É uma experiência de profunda reflexão sobre o mais profundo poço a justiça social em nosso país, pois o presídio é a caixa de ressonância das nossas misérias, das negligências dos governos, da lentidão da justiça e da corrupção.
VN – O que o senhor percebeu nas visitas?
Não posso negar: percebi, acima de tudo, a experiência do tratamento humilhante de jovens tratados como animais irracionais confinados. Em relação ao tratamento humilhante não me refiro à dinâmica da relação dos agentes prisionais com os presos, mas em relação ao sistema judicial brasileiro que só deixa preso os pobres, mantendo-os amontoados e na ociosidade. Percebi, já há tempo, que temos um sistema carcerário decadente, que carece de inteligência, estéril, seco! Percebi um ambiente fisicamente assustador, sem higiene, sujo, fedido, estreito, desordenado. Percebi um sistema de manutenção de depósitos humanos que é caro para o Estado, psicologicamente deplorável e com baixo resultado positivo porque é revoltante. Percebi que tudo deve ser repensado e transformado radicalmente. Percebi que falta visão, sensibilidade, educação preventiva! O trabalho é uma das mais sagradas atividades humanas e ao mesmo tempo é terapêutico, mas para esse sistema isso não existe.
VN – Já conhecia o trabalho da Pastoral?
Sim, na verdade ao longo da minha vida sacerdotal tive diversas experiências com esse público e em lugares diferentes: em Ananindeua nos anos 80, em Manaus, em Porto Velho e em Manicoré no Amazonas. Sempre me esforcei para apoiar a Pastoral Carcerária. Trata-se de um serviço maravilhoso de contato direto com a parcela da população mais desprezada e humilhada. Jesus veio para Salvar os mais pobres, humilhados e pecadores! Ir ao encontro deles levando uma presença serena, uma palavra de esperança e de conforto é uma ação sagrada.
A Pastoral Carcerária é a experiência de uma das mais belas obras de misericórdia. Jesus declarou que se identifica com os presos: “eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt 25,36). Trata-se de uma experiência profundamente educativa para quem a faz. Vale à pena! Quem nunca contempla de perto o sofrimento humano é frio.
VN – A peregrinações juda os aapenados viver a festa?
É uma atividade educativa de grande importância que os presos acolhem com fé, respeito e participam com intensidade dos momentos de oração e escutam com atenção as pregações. Isso é muito importante porque se trata de uma atividade religiosa que contribui para a promoção da sensibilidade humana, recorda a necessidade do cultivo de valores morais, lembra que fomos criados para o bem e para o amor, infunde esperança e desperta neles a consciência de são filhos de Deus. Não se trata só da entrada da imagem nas celas, mas também de momentos de reflexão e oração. Se há uma categoria de pessoas profundamente carente de reflexão sobre a ternura, a amizade, o respeito, a delicadeza, a paciência, o perdão são os detentos. A visita da imagem de Nossa Senhora de Nazaré relembra para eles o carinho da Mãe que nunca abandonas seus filhos. Eles precisam se sentir amados e respeitados para aprenderem a amar e a respeitar. Além dos presos, outro público beneficiado pelas visitas da imagem são os agentes prisionais, eles trabalham em estado de tensão e por isso precisam da atenção da pastoral carcerária para receber uma palavra educativa e estimulante.
VN – Sua mensagem final.
Jesus é o libertador dos encarcerados seja qual for o cárcere! Para isso precisamos de evangelizadores para a pastoral carcerária, devemos reforçar esse maravilhoso serviço. Estamos precisando de mais voluntários. Os interessados telefonem para Cúria, se identifique e deixe seu contato telefônico. No mês de novembro promoveremos um breve curso de capacitação de novos agentes. Não tenha medo!
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