Miscelânea: A propósito do Círio (2)

 
 
Ao criticar, na edição passada aqui da coluninha, o costume de se lançar serpentinas, do alto de edifícios, à passagem da berlinda, a título de homenagem, dizia eu que indevida, descabida, fora de hora e, pois, sem razão de ser, à Senhora de Nazaré, – lembram-se? – cheguei a perguntar, textualmente, a meus possíveis leitores: “já repararam o que acontece com muitas delas?” Dispunha-me a responder eu mesmo a essa indagação, quando meu espaçozinho acabou.
 
Teimoso e persistente como sou, começo a desta semana pela resposta. Posso? Pois então, vamos lá.
 
Algumas, infelizmente não poucas, dada a pontaria certeira dos que as lançam, vão cair direto sobre a berlinda, – aí estão, como testemunhas fidedignas, as fotos na imprensa – e lá se entranham nas flores que lhe realçam a beleza, chegando a formar deselegantes, para não dizer horríveis, bololôs, que só o que fazem é enfeiá-la, bem ao contrário do que, certamente, pretendiam seus autores. Outras, não poucas, ficam perigosamente intrincadas nos fios da rede elétrica, ou dependuradas desgraciosamente das copas de nossas mangueiras, onde estão até hoje e, sem dúvida, ficarão, sabe Deus até quando, até envelhecerem, sem que o poder público, sei lá por qual razão, venha retirá-las. 
 
Por que não, em vez delas, pétalas de rosas, ou, mesmo, papel picado, como, ao que me recordo, Mízar Bonna, mais de uma vez, teve a oportunidade de, por vários meios, sugerir e, ora graças, já vi ser feito, aqui e ali, nessa ocasião? Não me venham com a desculpa esfarrapada de que despetalá-las e picá-los dá trabalho, demanda tempo livre e requer uma boa dose de energia. E daí? Em se tratando da Virgem de Nazaré, nossa incansável Mãe e Rainha, que zela o ano todo, sem cessar, por esta, só por isso, ditosa cidade e por todos nós, seus habitantes, independente de crermos ou não nela, todo e qualquer sacrifício é pouco, é nada, nadícula, comparado com as graças e bênçãos que recebemos, dia e noite, de suas mãos benfazejas, pródigas, liberais. Além do que, esse sacrifíciozinho, se o for, pode, e muito bem, servir como penitência para abater as penas devidas por nossos pecados. 
 
Outro ponto que, em meu entender, está a merecer reparos: os cantos então entoados por quem de direito. Em matéria de Igreja, – pelo menos da nossa -, ao que me consta, eles devem ser, sempre, ocasionais, ou seja, de acordo com a circunstância e, não, nunca, qualquer um, a gosto do freguês, por mais belo ele seja. Assim, por exemplo, em procissões, eles devem ser processionais. Em festas de Maria, marianos. De modo que, pelo que entendo, não fica bem, na Trasladação, ou no Círio, cantar-se, como se fez este ano, – sem, com isto, querer desmerecê-los, longe de mim tal aleivosia – “Jesus Cristo, eu estou aqui” e  “Vem, vem, vem, Espírito Santo, transforma minha vida”. Tanto na Trasladação, quanto no Círio, os cantos, em meu entender, devem ser todos de Maria, pois que a festa é dela. Mas não qualquer canto a Maria e, sim, todos em louvor à Virgem de Nazaré.
Graças a Deus e à criatividade de nossos compositores, temo-los   inúmeros. Por que se dar preferência a “Maria de Nazaré, Maria me cativou” e, quase nunca, ou muito pouco, entoar-se “Vós sois o lírio mimoso”, sabidamente seu hino oficial, letra e música belíssimas e conhecido por todo bom católico paraense? Nada, mas nada mesmo, como, salvo engano aconteceu este ano, saírem-se os animadores com cantos difíceis, desconhecidos e, pior, a duas vozes! Têm de ser cantos populares, conhecidíssimos, para que todos – direito seu, portanto dever dos grupos de animação – possam cantá-los, como, certissimamente, gostariam.
 
Voltarei ao assunto, por ainda ter alguma coisa a dizer sobre ele. Shalom!
 
 
 

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