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Na edição passada aqui de Miscelânea, depois de mostrar, com base em seus ensinamentos tanto no evangelho de Mateus quanto no de Marcos, o que pensava Jesus sobre os conceitos hebraicos de pureza e impureza, entendidas, como vimos, em sentido cultual, – relembrando, brevemente: que, para ele, não tinham a menor importância, uma vez que o que lhe importava era a pureza moral – afirmei que seu modo de agir coincidia, nem poderia ser diferente, com seu modo de pensar. Ou seja: que, no dia a dia, sistematicamente, de caso pensado e de cabeça erguida, desrespeitava as leis, as tradições e os costumes judaicos de então, referentes a elas.
Alguns exemplos comprobatórios da veracidade do que acabo de afirmar.
Contrariando o que, como já vimos, estatui o Livro dos Números, – “quem tocar um morto, um cadáver humano, ficará impuro durante sete dias.” (19,11); “quem tocar um morto, um cadáver humano, e não se purificar, contaminará a morada do Senhor, e será excluído de Israel, porque não foi aspergido com água lustral. Continua impuro e nele continua a impureza”, (19, 13) – vêmo-lo, em Mt 9, 23, em Mc 5, 41, e em Lc 8, 54, tomar pela mão uma menina, segundo Marcos, de doze anos, falecida havia pouco, e fazê-la reviver.
Em Lc, (7,11-15), à entrada da cidade de Naim, encontra-se com o cortejo fúnebre do filho único de uma viúva e, “movido de compaixão”, aproxima-se, toca o féretro, manda o morto levantar-se e entrega-o, claro está que pela mão, portanto, tocando-o, à sua mãe.
E ainda há mais, pois não era só nesse ponto que Jesus contrariava o que ordenavam as leis, os ensinamentos e as tradições hebraicos de seu tempo.
Uma breve e sintética listagem de suas revolucionárias transgressões: não apenas deixava os leprosos aproximar-se dele, como os buscava e chegava a tocá-los sem a menor repulsa, com todo o carinho; curava enfermos no sábado, dia de repouso absoluto obrigatório, para espanto e revolta dos fariseus; entrava em contato pessoal com publicanos, os cobradores de impostos, tidos por todos como pecadores e traidores da pátria, a ponto de chamar um deles, Levi, ou Mateus, a ser seu discípulo; fazia refeições em casa de publicanos, em companhia de pecadores; deixou que uma prostituta lavasse-lhe os pés com suas lágrimas, enxugasse-os com seus cabelos e os beijasse, e, ainda por cima, abençoou-a e a enalteceu; entrava em terras pagãs, isto é, habitadas por povos estrangeiros, não-judeus, politeístas; conversou em público com uma mulher que, para piorar, samaritana, raça odiada pelos hebreus. E por aí vai.
Libérrimo de preconceitos e, só por isso, já admirável, nosso Jesus, não é mesmo?
Discípulos seus que somos, por sermos cristãos graças ao Batismo, sejâmo-lo de fato, na prática, diariamente. Portanto, imitando-lhe o exemplo, não tendo nenhum preconceito, seja ele de que tipo for, nunca, nunquinha. Shalom!
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Miscelânea: Ainda Pureza e Impureza
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