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Se, por um lado, fico uma fera quando ouço ou leio afirmações errôneas ou incorretas, a respeito de seja lá o que for de nossa Igreja, por outro, até que gosto, pela simples razão de me servirem de assunto para meus rabiscos semanais neste bendito jornal.
As mais recentes se deram, duas dia 21, sexta-feira da oitava da Páscoa, e outra dia 23, segundo domingo da Páscoa, todas três na liturgia diária “Deus conosco”, para minha tristeza useira e vezeira em vacilos que tais, a meu ver incompreensíveis, reprováveis pois se, profissionalmente, não se tem o direito de errar, – assim me foi ensinado, – quanto mais, liturgicamente, nas coisas de Deus.
Como, pelo que sei, todos temos o dever de corrigir os erros que se nos deparam, desde que com caridade, vamos a eles e às correções.
As do dia 21 de Abril: a primeira, na já citada liturgia diária, afirma o comentário inicial à celebração eucarística: “Jesus aparece ressuscitado aos discípulos que estão à beira do mar de Tiberíades. Era de manhã, a manhã da ressurreição.” Antes do mais: ressuscitado não é o modo como Jesus apareceu e, sim, a identificação de quem apareceu. Pelo que, a palavra ressuscitado não deveria vir como está lá inadequadamente, depois do verbo apareceu, mas antes, assim: Jesus ressuscitado apareceu aos discípulos…
A segunda: lá se afirma que essa aparição de Jesus se deu na manhã da ressurreição. Ela nos é relatada, apenas, pelo quarto evangelho, o de João, (21, 1-14). O evangelista informa que ela foi a terceira do ressuscitado aos seus discípulos, mas não diz que ela se deu nesse dia. E mais, nem diz quando. O capítulo 21 que, a título de curiosidade, não foi escrito pelo evangelista, é um acréscimo evidente, provavelmente de autoria de um dos membros da chamada escola Joânica, acréscimo feito bem cedo, pois se encontra em todos os manuscritos. A única informação que aí se dá, a meu ver muito vaga e pouco informativa, é que ela aconteceu depois. Depois do que? Entendo que depois das outras, que em João foram ao todo três. A primeira (20,19-23), ao entardecer do dia da ressurreição, a dez dos discípulos – Judas já se enforcara e Tomé estava fora – que, por medo dos judeus, como informa o autor, estavam em Jerusalém, com as portas fechadas, muito bem trancadas. A segunda, (Jo 20, 26-29,) oito dias depois, no mesmo lugar, a dez dos discípulos, mais Tomé que já retornara. De modo algum a terceira e última pode ter acontecido no dia da ressurreição. Como os discípulos estavam pescando no lago de Genesaré, se estavam trancadinhos em Jerusalém, apavoradíssimos? Absolutamente ilógico, improcedente, sabendo-se que ninguém, seja lá quem for, pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
O último erro do citado manual, o do dia 23, segundo domingo da Páscoa, infelizmente, sei lá por que, comuníssimo, e não é de hoje: uma pequena gravura que mostra Tomé levando uma das mãos para por-lhe um dos dedos na chaga do lado de Jesus. Como dizemos nós de Belém do Pará, em casos assim: mas quando, já então!
Tomé seria muito cara de pau, cabeça duríssima, se o fizesse. Evangelho algum afirma, nem o poderia, que isso aconteceu. Se tivesse acontecido, estaria ali, certamente, e com todas as letras. O que João diz, tão somente, é que, ao ouvir de Jesus “põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”, é que, certissimamente caindo em si, ele se limitou a exclamar: “Meu Senhor e meu Deus!”, ato de fé que muitos fiéis costumam repetir, à hora da elevação, na Santa Missa. Tudo o mais, pura imaginação, fantasia. Por hoje, é só. Shalon!
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Miscelânea: Inexatidões
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