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A quarta e última casa em que Jesus, a quando de sua longa viagem a Jerusalém, fez refeição foi a de um fariseu, a seu convite (Lc 11, 37-52).
Os Judeus de então, em especial os fariseus, como nos relata Marcos em seu evangelho (Mc 7,1-47), levavam ao extremo algumas observâncias referentes a lavatórios e abluções, tais como, não comer sem antes lavar as mãos esfregando-as ao máximo, especialmente ao voltar do mercado, a lavagem excessiva de taças, jarras e panelas, costumes que, mais que práticas simplesmente higiênicas, tinham tudo a ver com a pureza legal e cultual. Ou seja: devia-se estar bem limpo, para poder receber o sustento como dom de Deus.
No episódio em questão, o fariseu que acabara de levar Jesus a sua casa para uma refeição, estranhou ao vê-lo sentar-se à mesa assim que chegou, antes de, como seria o certo, lavar-se.
Tenho pra mim que Jesus agiu desse modo, não por esquecimento ou desleixo, ou por ser mal educado, mas, sim, de propósito, para, sabendo que seu anfitrião, sendo quem era, não deixaria de reprová-lo, dar-lhe, a ele e aos outros comensais, uma lição mais que oportuna, sobre a verdadeira pureza. Passando, magistralmente como sempre, de réu a acusador, Jesus o recrimina, estendendo a recriminação aos fariseus em geral, e o faz com palavras fortes e duras. Sua fala (Lc 11, 39-44), embora longa, cinco versículos, merece ser transcrita literalmente, dada sua importância:
“Vós, fariseus, limpais por fora a taça e o prato, mas por dentro estais cheios de roubo e malícia. Insensatos! Aquele que fez a parte de fora também não fez a de dentro? Dai, antes, o interior em esmola, e tereis tudo limpo. Ai de vós, fariseus, que pagais o dizimo da hortelã, da arruda e de todo tipo de verduras e descuidais a justiça e o amor de Deus. Isso é o que se deve observar, sem descuidar as outras coisas. Ai de vós, fariseus, que desejais os assentos de honra nas sinagogas e as saudações pela rua. Ai de vós, que sois como sepulcros não assinalados que os homens pisam sem dar-se conta.”
Em sua condenação, por três vezes, como se acaba de ver, Jesus emprega a expressão “Ai de vós”, forma profética clássica de maldição, pesadíssima. A título de curiosidade, ela é encontrada, ao todo, na Bíblia, a menos que minha conta esteja errada, oitenta e uma vezes: sessenta e quatro no AT e dezessete no NT.
Aqui, os fariseus, que se julgam os tais, são taxados por Jesus de insensatos, palavra que, asseveram os dicionários, é antítese de doutos, entendidos, significando, portanto, desentendidos, ou seja, na melhor das hipóteses, faltos de senso ou de razão e, na pior, dementes, loucos, e, como tais, sem direito de ensinar, coisa de que eles mais gostavam, para mostrar sapiência, erudição.
Só nesse trecho, eles são acusados, sem o menor engano por parte do Mestre, de quatro grandes falhas. Pela ordem: dar muita importância ao exterior e nenhuma ao interior, do qual o exterior, para não ser mera aparência, deve provir e ser expressão; de observar ninharias, como saldar o dizimo da hortelã, da arruda e de outras verdurinhas e se descuidar do essencial, a prática da justiça, no trato com o próximo, e do amor a Deus, enquanto que, frisa Jesus, não é correto observar alguns preceitos e descurar os demais; de serem cheios de si, ávidos a todo custo de honrarias e rapapés; enfim, de viver camuflando o que de fato eram: simultaneamente corruptos e corruptores.
Se queremos estar com Jesus, que é nossa Vida, não sejamos, prezado leitor, como esses senhores, nem por brincadeira.
Nessa mesma ocasião Jesus se voltou contra os juristas presentes, que é o que veremos em nossa próxima edição, se até lá eu ainda estiver por aqui, coisa que nunca se sabe.
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Miscelânea: Jesus em casa de um fariseu
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