Miscelânea: Jesus, na casa de um outro fariseu

 
 
Na quarta e última residência, a de um fariseu, em que, a seu convite, Jesus assentou-se à mesa para uma refeição (Lc 11,37- 52), a quando de sua longa viagem a Jerusalém (Lc 9,31-19, 40), ao fim da qual, sabia ele muito bem, seria crucificado, mas mesmo assim, ou justamente por isso, dirigiu-se resoluto para lá, além de recriminar seu anfitrião, como vimos em nossa edição passada, estigmatizou os juristas presentes, com palavras não menos fortes que as dirigidas àquele, como, nesta de hoje, passamos a ver, a partir de agora. Seu causador foi um deles, ao se sentir atingido pela censura de Jesus ao dono da casa. Sua queixa: 
 
– Mestre, ao dizer isso nos ofendes. 
– Pra que! Sobrou para ele e seus pares. Quem mandou se meter? Aguenta!
Jesus, com a coragem e o destemor de sempre, sem perda de tempo, voltou-se contra eles, servindo-se de três irrespondíveis, porque justíssimos, “ai de vós!”, expressão profética, clássica, de maldição, encontrada na Bíblia, já o vimos aqui, nada menos que oitenta e uma vezes: sessenta e quatro no AT e dezessete no NT. Com a palavra o Senhor:
– Ai de vós também, juristas, que carregais os homens com cargas insuportáveis, enquanto vós não tocais essas cargas sequer com um dedo. Ai de vós, que construís mausoléus para os profetas que vossos antepassados assassinaram. Assim vos tornais testemunhas e cumplices do que vossos antepassados fizeram; pois eles os mataram e vós construís os mausoléus. Por isso diz a Sabedoria de Deus: eu lhes enviarei profetas e apóstolos; alguns eles matarão e perseguirão; assim se pedirá conta a essa geração de todo o sangue de profetas derramado desde a criação do mundo; desde o sangue de Abel até o de Zacarias, assassinado entre o altar e o santuário. Sim, eu vos digo, serão pedidas contas a esta geração. Ai de vós juristas, que ficastes com a chave do saber: vós não entrastes, e fechastes a passagem aos que entravam.”
 
Esmiuçemos essa objurgatória do Mestre.
Inicialmente, (V 46) “Ele os repreende energicamente por sobrecarregarem os demais, sem dó  nem piedade, com um número excessivo de leis, mandamentos, ordens e obrigações, todos dificílimos de observar – “Carga insuportável”, no dizer de Jesus- , quando eles recorrem a sutilezas casuísticas para se eximir de, como seria o certo, servir-lhes de exemplo, sendo os primeiros a pô-los em prática.
 
Depois, (V 47-51), acusa-os de, ao construírem mausoléus para os profetas assassinados por seus antepassados, serem testemunhas e cúmplices desses assassínios, asseverando por duas vezes (v 50 s) que serão pedidas – entenda-se, por Deus – contas, a eles e à sua geração, do sangue derramado de todos os profetas.
 
Enfim, (v 52), responsabiliza-os por, literalmente, ficarem com a chave do saber, ou seja, segundo uns biblistas, arrogarem para si o monopólio da compreensão do verdadeiro sentido das Escrituras, impedindo os demais de entendê-las; segundo outros, barrando-lhes a entrada no reino de Deus, cujo caminho elas nos ensinam. 
Oxalá não estejamos precisando dessas recriminações de Jesus. Se estivermos, corrijamo-nos, pois que é isto, creio, que ele quer, para o nosso bem.

 
 
 
 

Compartilhe essa Notícia

Leia também