Miscelânea: Lições de Jesus durante a longa viagem a Jerusalém (III)

 
 
Continuemos acompanhando Jesus em sua longa viagem a Jerusalém (Lc 9,31 – 19,40), para nos enriquecermos com seus preciosíssimos ensinamentos.
 
Adentremo-nos no capítulo 10 do evangelho de Lucas, onde eles são, ao todo, seis. O primeiro deles (Lc 10, 2) é por ocasião da escolha e do envio de setenta de seus discípulos, – em alguns códices setenta e dois – em dupla, à sua frente, a todos as cidades e aos lugares aonde pensava ir, não para lhe prepararem hospedagem e cuidar da alimentação, mas sim, creio eu, para preparar espiritualmente seus habitantes, de modo a poderem tirar o máximo proveito da visita.
 
Note-se que esse envio é o segundo feito por Jesus. No primeiro, foram doze os enviados e seu destino o norte, a Galileia. No de agora, ele é mais longe, o sul, a Judéia, com o que se alarga o círculo da evangelização.
 
Por que setenta os enviados e por que dois a dois?
 
Setenta, explicam os exegetas, como era o número dos povos que então compunham a humanidade, de acordo com as informações do livro do Gênesis, cap. 10. E também, ou antes, como eram setenta os auxiliares de Moisés, participantes de seu espírito. (Nm. 11,16-30).
 
Dois a dois, porque iam como testemunhas de Jesus, e, como estatui o livro do Deuteronômio, só é válido, legal, o testemunho de, no mínimo, duas pessoas.
 
Messe, ensinam-nos os dicionários, é uma extensão de terra cultivada, já no ponto da ceifa. 
 
Ao enviá-los, Jesus recorre à metáfora da messe, dizendo que ela é abundante, mas que os operários são poucos, querendo significar, com ela, que a população está pronta para ser evangelizada, enquanto que escasseiam os evangelizadores. Pelo que, ordena-lhes: pedi, pois, ao dono da messe que mande operários para sua messe. Ou seja: que orem, para que Deus envie mais evangelizadores, ficando implícito, aí, que eles, nem ninguém, devem julgar-se monopolizadores da evangelização, pois que ela não é privilégio de uns poucos, mas sim um dever de quem quer que se diga seguidor de Jesus. Portanto, amigo leitor, também seu, de você. 
 
E logo os previne contra as dificuldades e os inimigos que encontrarão, uma vez que, sendo a Verdade, não é de enganar a ninguém, ao contrário de certa denominação religiosa que, como chamariz, vive anunciando dia e noite, aos quatro ventos: “venha para nós e pare de sofrer”, muito embora saiba muito bem que isso não acontece, pois que o sofrimento faz parte da existência humana.
 
“Eu vos envio como ovelhas entre lobos”, previne-os Jesus. A seu exemplo, serão rejeitados, alguns maltratados e, até, mortos.
 
Quando em missão, não deverão levar consigo “nem bolsa, nem sacola, nem sandálias”. Ou seja: cumpre-lhes renunciar a quaisquer seguranças e comodidades. Penso que por duas razões: para dar crédito ao que ensinarão e para sua mensagem não ficar só em palavras, ser ao vivo, encarnada em suas pessoas. 
 
Como entre os orientais de então as saudações, por tradição, costumavam ser demoradas, intermináveis, e sua missão era urgentíssima, não saudassem a quem quer que fosse, “a ninguém”, pelo caminho.
 
Ao entrarem numa casa, o que primeiro devem fazer é dizer: “paz a esta casa.” Se houver aí gente de paz, continua Jesus, a vossa paz descansará sobre ela. Do contrário, voltará para vós. 
 
Por hoje é só. Em nossa próxima edição, abriremos um parêntese para ver o que se entende por paz.

 
 
 
 

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