Miscelânea: Lições de Jesus durante a longa viagem a Jerusalém (V)

 
 
Comecemos esta edição de Miscelânea situando-nos: há quatro edições estamos estudando os ensinamentos de Jesus a seus discípulos durante sua longa viagem a Jerusalém (Lc 9, 31-19,40). 
 
Na edição da semana passada vimos, sem chegar a terminá-las, suas recomendações aos setenta discípulos – em alguns manuscritos setenta e dois – prestes a sair em missão, por ordem sua, aos lugares da Judéia a que ele pretendia ir. Vejamos o pouco que falta para isso, recorrendo à Bíblia, tradução ecumênica, edições Loyola. 
 
“Mas em qualquer cidade onde entrardes e não vos acolherem, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira de vossa cidade que se colou aos nossos pés, nós a sacudimos para vô-la restituir. No entanto, sabei: o reinado de Deus chegou!’” (Lc 10s).
 
Ao enviar, antes, os doze, dissera-lhes quase que a mesma coisa.
 
Queira o leitor compará-las. Aos doze: “Se não vos acolherem, deixando essa cidade, sacudí a poeira de vossos pés, será um testemunho contra eles.” (Lc 9s)
Os doze, como se pode ver, não deveriam falar nada. Apenas abandonar a cidade, depois de sacudir a poeira dos pés. Jesus lhes ensina o sentido desse gesto: “será um testemunho contra eles”. 
 
Já aos setenta, caberá explicar-lhes a finalidade do gesto de sacudir a poeira que se lhes colou aos pés: restitui-la a eles. E acrescentar o que acaba de acontecer graças à sua estada ali: o reinado de Deus chegou. E, implicitamente, que eles saíram perdendo por não terem sabido aproveitar tão grande graça. “Eu vos digo, conclui Jesus, que naquele dia” – entenda-se: o decisivo e final, o da prestação de contas – “Sodoma será tratada com menos rigor que essa cidade.”
 
Esclareça-se, a bem da verdade e por uma questão de justiça, que, ao mandar, primeiro os apóstolos, depois os discípulos, sacudirem a poeira dos pés quando não forem aceitos no lugar, Jesus não está sendo original: isso era um gesto fortíssimo, altamente significativo, de ruptura, por demais conhecido no mundo antigo. 
 
Com ele, no caso, tanto os apóstolos, quanto os discípulos, queriam dizer que aquela localidade era totalmente indigna de receber o Evangelho, a menos, é claro, que mudasse de atitude.
 
Em At 13, 51, vemos Paulo e Barnabé agirem assim, tal e qual, ao se verem expulsos de Antioquía da Pisidia e, deixando-a, dirigirem-se a Icônio.
 
Trata-se de uma ação simbólica, o mais das vezes, como faziam alguns profetas, explicada com palavras. Simbolismo: esse pó está contaminado, pelo que é preciso sacudi-lo totalmente dos pés, antes de voltar a pisar no solo da Terra Santa.
 
Seu povo considerava impuros – na semana vindoura veremos o que lá era ser impuro – os países estrangeiros, pelo fato de venerarem outros deuses, e não o deles, que o verdadeiro.
 
Veja-se, por exemplo, a ordem de partida da Babilônia, em Is 52, 11: “Fora, fora! Saí daí, não toqueis nada impuro! Saí dela, purificai-vos!”, etc…
 
Como não deu para terminar o assunto, voltarei a ele.

 
 
 
 

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