Na edição passada de Miscelânea, por uma questão de justiça e a bem da verdade, – o seu a seu dono – afirmei que em não poucas das inúmeras coisas boas existentes na festividade de Nossa Senhora de Nazaré, em especial no Círio, havia o dedo de Mízar Bonna. E, para comprovar a veracidade dessa minha afirmação, citei os onze mantos da Senhora da Berlinda – prefiro essa expressão à de “imagem peregrina”, pois peregrinos somos nós, não Ela – bem como o uso de símbolos nos mantos e a iluminação feérica das lojas da João Alfredo, no tempo em que a Trasladação, inadequadamente, uma vez que essa rua muito estreita, passava por lá. Quando ia me referir ao belo arco permanente, que fica à entrada da praça fronteira à Basílica, na esquina da Generalíssimo, meu espaço acabou. A título de curiosidade: sabiam que, como nota, surpreso, o poeta pernambucano Manoel Bandeira, num belo poema sobre nossa cidade, com a qual se encantou à primeira vista, é só em Belém que o marechal Deodoro da Fonseca é chamado de generalíssimo?
Comecemos daí, desse bendito arco. Não havendo dinheiro, não sei em que ano, para fazê-lo, imaginado que fora, em boa hora, pela Diretoria da Festa e encomendado à arquiteta e artista plástica Dina Oliveira, uma das glórias do nosso Pará, com o Círio praticamente às portas, Mízar, atrevida e intrometida como ela própria se auto-define, – com o que não concordo – falou: “Faço um arco naquela esquina. Não vai ser o imaginado, mas não faltará o arco. A festa não pode ficar sem esse arco.” E acrescentou: “Necessito de ferreiro, eletricista e confiança. Imaginei e desenhei um arco simples.” Ele, palavras suas, deveria ser assim: “saía das duas esquinas numa espécie de poste com arabescos que se juntavam no meio, no alto. Nesse meio, armado, um Lírio com as pétalas feitas de folhas de flande mesmo recortadas, abrindo o Lírio para o céu. Dentro, aparecendo como saindo do Lírio, a imagem de Nossa Senhora bastante iluminada pelas lâmpadas postas no interior das pétalas. O Lírio pintado de branco, só a Senhora colorida e os arabescos tomados de lampadinhas.” Ela tomou a frente e fez, a danada, como diz o nosso povo ao elogiar a criatividade e a ousadia de alguém. Duvidando, dê o leitor um pulo à praça para vê-lo: está lá até hoje.
E sua luta, felizmente vitoriosa, pela saída dos ônibus e caminhões pesados, que trafegavam dia e noite pela 14 de março por trás da Basílica, provocando comprovadas rachaduras por baixo do presbitério? E a soltura dos 300 pombos brancos, ideia simultânea, em 1966, sua e do Oswaldo Tuma, coordenador da Festa, e mais, dos balões, das pétalas de acácias amarelas e do papel picado, atirados à chegada da berlinda à Basílica?
Faz poucos dias, abro meu e-mail e que vejo? Uma queixa sua, mais ou menos nestes termos, sintetizada: “por favor, cônego, pare de me elogiar em seus artigos! Quer matar a velha?”
Parece que já estou vendo-lhe a carranca ao ler este artigo: tiririca, vá a má palavra, por não ter sido atendida. E eu, com isso? Não estou nem aí. Faço-o porque sinto dever fazê-lo: por uma questão de justiça e de direito e por amor à verdade. Como afirmei lá em cima, o seu a seu dono, senhora com nome de estrela. Matar nada! Mulher resistente está aí. Tanto mais que, como a senhora mesma escreve em seu “Meus 80 Círios”, à pag. 246, textualmente: … “Eu sempre fui boa para receber elogios, eles não me alteram, e as críticas, então, não dou a mínima bola se forem contra minha pessoa.”
É, dona Mízar? Pois então vá se preparando para aguentar, que ainda vem mais por aí, a menos que eu chine antes, no que não creio, pois, como dizem meus inimigos, aquele velho, segundo uns, é carne do cão, segundo outros, carne de cabeça. Ainda bem. Ai de mim se não o fosse: há muito já teria ido para o beléleu. Shalom!
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