Como prometi no último parágrafo da edição passada de Miscelânea, nesta de hoje procuraremos ver o que, biblicamente, se entende por paz.
 
O termo hebraico para designá-la é, em caracteres vernáculos, “Shalom”, palavra de um conteúdo tão rico que, a exemplo de nossa brasileiríssima saudade, dificilmente pode traduzir-se para outra língua.
 
Shalom, ensinam-nos os biblistas, significa a prosperidade, o passar bem material e espiritualmente, tanto de um indivíduo quanto de uma comunidade, sobretudo do povo de Israel e de seu centro, Jerusalém. 
 
Significa, também, as boas relações entre pessoas, famílias e povos, no matrimônio entre marido e mulher, e, enfim, entre o homem e Deus.
 
Para os profetas, paz, geralmente, quer significar salvação.
 
A palavra Shalom é, ainda, a saudação dos enviados de Javé, nome pelo qual o Senhor se deu a conhecer a Moisés: “Este é meu nome para sempre: assim me chamareis de geração em geração.” (Ex 3,15).
}
A título de curiosidade: os três versículos – Ex 3, 13-15 – em que Deus revela sua identidade estão entre os mais estudados, analisados e discutidos, até os dias de hoje, de todo o AT. 
 
Alguns exemplos bíblicos da palavra paz empregada como saudação pelos enviados do Senhor Javé, significando que Deus concede sua graça especial à pessoa assim saudada, que Deus tem compaixão dela. 
 
No livro dos juízes, em 6, 23s, (Bíblia de Jerusalém), ao ser agraciado com a presença do anjo de Javé, Gedeão, imaginando que deverá morrer por tê-lo visto face a face, apavorado, é acalmado por ele com a saudação “A paz esteja contigo! Não morrerás.”
 
No segundo livro dos reis, em 5, 19, o profeta Eliseu despede-se de Naamã, acabado de ser curado da lepra ao se lavar sete vezes no rio Jordão por ordem sua, dizendo-lhe: “Vai em paz!”.
 
No livro de Tobias, ao saberem, por revelação do próprio, que o jovem responsável pelo êxito da viagem de Tobias, em busca de remédio para a cegueira de Tobit, seu pai, era nada mais nada menos que o anjo Rafael, pai e filho, assustados, prostram-se com o rosto por terra, temerosos, sendo acalmados por Rafael: “Não temais, paz!”
 
“A paz esteja convosco” foi a saudação de Jesus a seus discípulos, ao lhes aparecer no domingo da ressurreição, (Jo 20,19), e, pela segunda vez, oito dias depois (Jo 20, 21).
 
Com essas mesmas palavras, saudou os dois discípulos de Emaús e, ao depois, os outros onze discípulos (Lc 24, 32).
 
Lembra o leitor as palavras da multidão de anjos, vista pelos pastores, na noite do nascimento de Jesus? “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que Ele ama.” (Lc 2, 14)
A saudação ordinária dos judeus – Jz 19, 20; 2Sm 18, 20; Lc 10, 5 – era: “Paz!
 
Que bom seria se nós, católicos, ao invés de saudarmos as pessoas com os costumeiros “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, ou, pior, com, por exemplo, “oi!”, “Olá, tudo bem?”, “Tudo azul?”, fizéssemos como nossos irmãos evangélicos que, invariavelmente, saúdam-se com “A paz do Senhor!” Dou o bom exemplo, ficando por aqui com “A paz do Senhor, prezado leitor.”

 
 
 
 

Compartilhe essa Notícia

Leia também