Miscelânea: Pureza e impureza II

 
 
Voltando ao tema aí do cabeçalho, uma vez que, como deixei dito no parágrafo final, não cheguei a esgotá-lo. Eu explicava, se bem me lembro, em que consistiam ambas, quer para os hebreus dos tempos bíblicos, quer para as religiões da antiguidade, como para os povos chamados, a meu ver impropriamente, de primitivos. Assim, vimos que, para todos eles, tanto a pureza quanto a impureza não tinham conotação idêntica à de nós, cristãos em geral, e que a pureza, muito embora pudesse implicar acessoriamente a virtude moral oposta à luxuria, era concebida essencialmente como um fato físico, ou seja, a disposição requerida para a aproximação com tudo quanto, então, tido e havido como sagrado, a condição, ou a preparação, que permitiam a alguém aproximar-se da divindade. E a impureza, consequentemente, do ponto de vista religioso, um obstáculo, que como tal, impedia quem quer que fosse de aproximar-se-lhe, pelo que, afirmar que uma pessoa estava em estado de pureza significava, tão somente, que ela estava em condições de participar do culto, nada a ver com estar em estado de graça, isto é, sem pecado mortal.
 
Prossigamos a partir daí. Adquiria-se essa pureza, não por atos morais e, sim, pelo cumprimento de certos ritos. E incorria-se na impureza pelo simples contato físico com pessoas, animais, objetos e lugares impuros, independentemente de qualquer responsabilidade moral.
 
Alguns exemplos de toques ou contatos que tornavam impuros seus autores e de como, nesses casos, purificar-se.
Tocar num morto – entenda-se: num cadáver humano – tornava a pessoa impura, isto é, excluída de Israel por sete dias. Para voltar a tornar-se pura deveria ser aspergida com água lustral (Nm 19, 11-13).
 
Quando um homem morria dentro de uma tenda, ela, tudo que nela houvesse e quem nela entrasse ficavam impuros por sete dias. (Nm 9,14).
 
Quem no campo tocasse no cadáver de um homem apunhalado, ou qualquer outro morto, ou ossos humanos ou sepultura, ficava impuro. Um homem puro deveria apanhar um pouco de cinza da vítima queimada, pôr água corrente num vaso sobre as cinzas, apanhar um hissopo, molhá-lo na água e aspergir a tenda, os utensílios lá existentes, todas as pessoas que aí estivessem e quem tivesse tocado em ossos ou em cadáver ou numa sepultura. (Nm 19, 16-18).
 
A pessoa impura, se não fosse aspergida com água lustral, continuava impura e, como tal, excluída da assembleia. (Nm 19,20).
 
Tudo que tocasse o impuro ficava impuro. A pessoa que tocasse no impuro ficava impura até à tarde.
Ter relações sexuais com animal tornava impuro esse audacioso (Lv 18, 23).
 
Quem tocasse numa mulher menstruada ou onde ela sentou ou deitou, ficava impuro até à tarde.
Se algum dos leitores estiver interessado em saber tudo que os hebreus consideravam impuro, tomo a liberdade de lhe recomendar a leitura das regras referentes ao puro e ao impuro, encontradas no Levítico 11-16, mais a chamada “lei de santidade”: Lv 17-26.
 
Tendo aqui meu espaço chegado ao fim, voltarei ao assunto, em nossa próxima edição. Shalom!

 
 
 
 

Compartilhe essa Notícia

Leia também