Miscelânea: Pureza e impureza

 
 
 
Antes de entrar no tema programado para esta edição de Miscelânea, – o que e quem eram impuros e em que consistiam a pureza  e  a  impureza, para os hebreus dos tempos bíblicos – seja-me permitido explicar, a pedido de mais de um leitor, (ora graças que os tenho!), o significado do termo “eunuco”, aparecido, lá pelas tantas, em nossa edição passada. 
 
Sem mais, ao trabalho!
A palavra eunuco nos veio do Grego “Eunuchos”, (em caracteres vernáculos: Ch com som de k), através do Latim “eunuchu” (o ch igualmente com som de k). O termo original grego é constituído de dois outros: de “Euné”, em caracteres vernáculos, que significa leito, e do verbo “Eko”, também em caracteres nossos, “guardar”, no sentido de cuidar de. Portanto, literalmente, guarda de leito. 
 
Como assim? 
Vejamos.
Para os povos dos tempos bíblicos, eunuco era o homem castrado, isto é, aquele cujos órgãos reprodutores – no macho, os testículos; na mulher, os ovários – foram extraídos ou destruídos. A ele, devido a isso, por não constituir perigo algum de assédio sexual, no antigo Oriente confiava-se a guarda dos haréns.
 
A título de curiosidade: harém – do árabe “harim”, proibido, através do Francês harem – era a parte do palácio do sultão (antigo título do imperador da Turquia e de alguns príncipes maometanos e tártaros), onde ficavam encerradas as odaliscas (as mulheres aí residentes). Também eram assim chamadas as camareiras escravas a serviço das mulheres de um sultão. Harém era, ainda, o conjunto das odaliscas de um harém, bem como a parte da casa muçulmana destinada à habitação das mulheres. Em sentido figurado, os prostíbulos, locais de prostituição.
 
No Oriente, os poderosos de antanhos costumavam ter muitas esposas e outras tantas concubinas. O famoso rei bíblico Salomão, por exemplo, era um deles. O 1º livro dos Reis, 11, 3, nos diz que no seu harém ele tinha, dia e noite a seu inteiro dispor, exatamente setecentas esposas e trezentas concubinas. Ele e os demais que assim agiam, faziam-no, quero crer, não tanto por serem lascivos ou, pior, depravados, quanto para aparecer, mera fita, uma vez que naqueles velhos tempos o simples fato de tê-las em grande número era sinal de riqueza e de prestígio. E, como bem sabe o leitor, a raça humana jamais foi exemplar, muito pelo contrário, em se tratando de vaidade. 
Entrando no assunto de hoje.
Entre nós, cristãos, normalmente, desde há séculos, melhor dizendo, desde nossas origens, quando se fala em pureza e se afirma que alguém é puro, dá-se a ambos os termos uma conotação moral. Assim, pureza equivale a castidade, abstinência sexual, domínio e ordenação dos apetites carnais, e puro e casto é quem se abstém de sexo ou domina seus desejos.
Para os hebreus dos tempos bíblicos, diferentemente, como para a maioria das religiões, quer da Antiguidade, quer dos povos primitivos, a pureza não se identificava, nem com a pureza física, nem com a moral, nem com a nossa castidade. Para essas religiões, concepção comum a todas elas, a pureza, embora pudesse implicar acessoriamente a virtude moral oposta à luxúria, era a disposição requerida para a aproximação com as coisas tidas como sagradas, a condição ou a preparação que permitia à pessoa aproximar-se da divindade. E a impureza, consequentemente, do ponto de vista religioso, era concebida como obstáculo para quem quer que fosse aproximar-se-lhe.
 
Estar em estado de pureza significava estar em condições de participar do culto e a impureza, concebida, repito, mais como um fato físico do que como condição moral, excluía dessas atividades. 
Ficamos por aqui. Na edição vindoura voltarei a esse assunto, pois sobre ele há muito, e da maior importância, a dizer. Shalom!

 
 
 
 

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