Foto: Divulgação |
|
Introdução
A espiritualidade do advento nos coloca diante de um vasto universo de temas e reflexões possíveis que muito contribuem para o nosso crescimento espiritual e a qualidade das nossas atitudes. Portanto, vale a pena neste período que antecede a celebração do Natal do Senhor, aprofundar diversas perspectivas do advento.
Corremos o risco de reduzir a compreensão do advento à pura dimensão litúrgica. Isso seria um grande empobrecimento daquilo que ele significa. Ultrapassando as fronteiras da liturgia, somos chamados a pensar na beleza da experiência existencial do advento que abraça a nossa vida em nosso cotidiano.
Somente o ser humano é capaz de advento! O advento é a experiência da “dinâmica expectativa” de alguém profundamente significativo para nós. Essa “dinâmica expectativa” é um conjunto de sentimentos próprios da nossa relação com as pessoas, que não são os mesmos quando estamos esperando uma coisa, ou simplesmente um acontecimento. Isso faz parte do dinamismo da razão e do coração humano.
Infelizmente a cultura em que vivemos, profundamente marcada pelo tecnicismo e idolatrias, está forjando o comportamento contrário ao natural dinamismo do afeto humano que é o apego às coisas.
1 – A dinâmica expectativa
Só vive o advento quem faz a experiência da esperança. Mas a esperança não está alicerçada na previsão técnica do acontecimento de algo numa determinada hora e lugar. A esperança é algo muito maior; ela é como um facho de luz que nos anima a caminhar perseguindo certo horizonte que nos encanta, envolve o nosso coração, a nossa mente e condiciona positivamente os nossos pensamentos, nossa vontade, atitudes, buscas, opções.
Por isso, o advento do Salvador, ou seja, sua vinda, seu movimento rumo à humanidade e humanização de si mesmo, não é algo passivo, mas essencialmente dinâmico para quem crê na sua vinda e também para quem o espera movido pela fé. Dessa forma o advento é também desejo de um encontro!
A experiência de advento não é “espera passiva”, mas expectativa dinâmica. Não é uma expectativa acomodada, mas inquieta porque é movida pela esperança. Dessa forma, tudo aquilo que é abraçado e dinamizado pela esperança, se torna dinâmico, vivo, atraente, expressivo, versátil, motivador, insaciável. O “esperante” é inquieto e insaciável!
É justamente nessa perspectiva dinâmica e proativa que o Papa Bento XVI reflete na encíclica “Spes Salve” (Salvos na Esperança), 35: “toda a ação séria e reta do homem é esperança em ato. É antes de tudo no sentido de que assim procuramos concretizar as nossas esperanças menores ou maiores: resolver este ou aquele assunto que é importante, para prosseguir na caminhada da vida; com o nosso empenho contribuir a fim de que o mundo se torne um pouco mais luminoso e humano, e assim se abram também as portas para o futuro”. Logo, sem esperança, não há advento, pois é loucura esperar por quem não acreditamos, e que nem está vindo ao nosso encontro.
2 – Advento é tempo de gravidez
Uma imagem mais significativa da experiência do autêntico advento foi aquela vivida por Nossa Senhora, a mãe de Jesus Cristo, fazendo a experiência da gestação do Filho de Deus, fazendo-se homem, no seu ventre (cf. Jo1,14). Na experiência da gravidez de Maria está contido tudo aquilo que é essencial para nós hoje na vivência do advento como tempo de preparação ao Natal do Senhor.
Maria vivenciou sua gestação, como boa mãe, com imenso desejo de dar à luz ao seu bebê, mas não só, quis que ele nascesse sadio, que se desenvolvesse, crescesse, se tornasse adulto, e cumprisse sua missão! Mas nessa experiência Maria não ficou parada: sua gravidez também foi tempo de encontro com os necessitados, tempo de deslocamento, de decisão, de serviço gratuito, de experiência de fraternidade e solidariedade (cf. Lc 1,39-45). Esse é o conteúdo da autêntica experiência do advento animado pela fé e pela esperança, que não se esvazia e nem se conclui com um fato, como ponto de chegada. Lamentavelmente em nossos dias há muita atitude de espera passiva e pouca expectativa dinâmica. Com o exemplo de Maria compreendemos que a esperança natalina é sensível, comprometedora, atuante e empreendedora.
A espera passiva empobrece o ser humano, porque degenera o seu dinamismo de sujeito livre e responsável. A mais grave das formas de comodismo é aquela de natureza moral, porque tende a fixar a pessoa na situação em que ela se encontra, congelando a sua possibilidade de crescimento, de ser mais, de explorar-se, doar-se e enfrentar seus desafios existenciais.
Nesse horizonte podemos bem compreender a seriedade da acusação do profeta Isaías em relação ao seu povo que andava estacionado na maldade: “a cabeça é uma chaga só, o coração está enfermo” (Is 1,5). Quando a nossa mente está doente e o coração ferido, estamos completamente enfermos e paralíticos.
3 – O que significa esperar?
O advento é uma experiência de mão dupla. Nós fazemos essa experiência quando estamos chegando a um novo lugar após uma longa viagem. A chegada mexe não somente com quem está esperando, mas também com quem está chegando. Trata-se de um movimento interior, afetivo, emocional, mas também físico.
Quase não paramos para pensar, mas tudo o que sentimos é muito expressivo na experiência da espera. Portanto, o ato de esperar tem muitos significados. Esperar é uma atitude de fé, pois revela confiança na palavra de alguém que prometeu nos visitar.
Esperar é um gesto de afeto e de carinho para com alguém; quanto maior for a intensidade do amor para com alguém, mais alegre e carinhosa será a sua espera; a espera é um gesto de bondade, pois se manifesta como um serviço a alguém através da acolhida. Por outro lado, quem espera alguém está confessando a bondade dele.
4 – O que dificulta a espera?
A experiência da espera dinâmica como realidade profundamente humana pode, por diversas razões, ser atropelada. Por exemplo, a pressa é inimiga da espera! Quem tem pressa não espera; por isso muitos não esperam nem a si mesmos, e por isso queimam etapas e atrapalham processos.
Além da pressa, outro mal que pode nos impedir de fazer a experiência da espera na sua autenticidade é a impaciência; ela é a falta de percepção e respeito pela natureza das coisas; a impaciência gera violência porque, por sua vez, gera o imediatismo. Quem é impaciente não espera! Mas o amor é paciente e respeita o ritmo do outro. Esperar é um gesto de amor, pois o “amor tudo espera” (1Cor 13,7).
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
1. O que significa afirmar que “somente o ser humano é capaz de advento”?
2. Qual é a diferença entre a “espera passiva” e a “expectativa dinâmica”?
3. O que dificulta a experiência da espera?
|