Mundo juvenil e a fé cristã: Dia Mundial dos Pobres: «Estende a tua mão ao pobre»

Foto: Divulgação
 
Introdução
 
"Estende a tua mão ao pobre» (Eclo 7,32). Esse é o lema da IV Jornada Mundial dos Pobres, a ser celebrado no próximo domingo na Arquidiocese de Belém. Devido à pandemia, o cronograma de atividades foi concentrado na dimensão formativa através de diversas “lives” veiculadas nos últimos três meses, abordando diversos temas. 
 
Neste texto queremos lhe oferecer uma síntese da mensagem do Papa Francisco para essa IV Jornada, que tem como foco um sério convite à solidariedade, a sairmos de nós mesmos, a perceber os necessitados e a estender as mãos a eles, ou seja, dar-lhes a nossa contribuição para amenizar seus sofrimentos. 
 
O versículo bíblico que constitui o lema desta IV Jornada nos convida a superar as barreiras da indiferença, a frieza da passividade, o conforto do comodismo; por isso, hoje a pobreza tem muitos rostos, se manifestando de muitas formas. 
 
1 O livro do Eclesiástico
 
O livro do Eclesiástico é um maravilhoso compêndio de orientações para as relações humanas pautadas na Sabedoria. O autor, Ben-Sirá, nos convida a olhar para Deus e para a realidade humana.
 
Oração a Deus e a solidariedade (com os pobres e os enfermos) são inseparáveis. O culto agradável ao Senhor nos leva a reconhecer que toda pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, é imagem de Deus. O tempo dedicado à oração não pode tornar-se uma fuga do encontro com o pobre; a verdadeira oração nos leva ao encontro dos pobres, necessitados e a servi-los.
 
Esse convite continua sendo válido na atualidade, pois a Palavra de Deus ultrapassa o espaço, o tempo, as religiões e as culturas; a generosidade apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga seus sofrimentos e promove a dignidade humana.
 
O bem que devemos fazer aos pobres não está condicionado ao tempo disponível ou a interesses privados. Não se deve fazer o bem por desejos narcisistas; a dignidade do outro deve estar em primeiro lugar.
 
2 O encontro com o pobre
 
A Palavra de Deus nos pede de ir ao encontro dos pobres. Esse foi e continua sendo o comportamento do próprio Deus. A Palavra de Deus nos provoca e nos questiona como aliviar o sofrimento alheio e como ajudá-lo concretamente. “Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra”.
 
Movidos pela fé somos chamados a estar atentos aos clamores silenciosos dos que sofrem calados hoje. A Igreja não tem solução para os graves problemas sociais, mas devemos nos manifestar sensíveis e sermos capazes de partilha!
 
Os que fazem o bem, perto de nós, são um reflexo da presença de Deus, porque testemunham santidade, generosidade, respeito… Infelizmente, hoje, em nossa sociedade, há indiferença, maldade, violência, prepotência, corrupção…
 
3 Lições da pandemia
 
Somos chamados a estender as mãos aos mais necessitados. Nem todos são capazes disso; mas neste tempo de pandemia, apesar do sofrimento, do medo, dor, morte, desconforto, perplexidade, isolamento, há muitas mãos estendidas para ajudar; por exemplo, as mãos de médicos, mãos de enfermeiras (os), administradores, farmacêuticos, sacerdotes, voluntários… Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, para apoiar e consolar!
 
Neste tempo de pandemia estamos aprendendo algumas importantes lições: a importância da simplicidade e a manter os olhos fixos no essencial; amadurecer em nós a exigência da promoção de uma nova fraternidade, capaz de ajuda recíproca e estima mútua; crescer na consciência de responsabilidade para com os outros e o mundo; desenvolver a cultura do cuidado do meio ambiente. 
 
4 A misericórdia não se improvisa
 
O papa Francisco também nos convida a refletir sobre a importância da educação para a solidariedade, pois a “misericórdia não se improvisa”. A pandemia veio de improviso e nos causou desorientação, impotência, medo; causou-nos a sensação da limitação, a restrição da liberdade; nossas riquezas espirituais e materiais foram postas em questão. Mas a mão estendida ao pobre não chegou de improviso. Não nos improvisamos como instrumentos de misericórdia. Para a prática da misericórdia requer um treino diário, que parte da consciência de quanto nós próprios, em primeiro lugar, precisamos duma mão estendida em nosso favor.
 
O versículo “estende a mão ao pobre» é na verdade um convite para crescermos na  responsabilidade uns para com os outros. Trata-se de um encorajamento a assumir o peso dos mais vulneráveis, daqueles que sofrem. 
 
Esse convite está fortemente presente na Sagrada Escritura quando afirma: «Não fujas dos que choram» (Eclo 7, 34); «Não sejas preguiçoso em visitar um doente» (Eclo 7,35); «Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros” (Gal 5,13); “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Gal 5,14); “Carregai as cargas uns dos outros» (Gal 6,2). 
 
Enfim, o convite «estende a mão ao pobre», é também uma denúncia da indiferença diante dos pobres e do cinismo dos ricos; há mãos que só se estendem para o dinheiro, para o luxo, para aquilo que é efêmero (passageiro); há mãos também que se estendem para a corrupção! “Mas não poderemos ser felizes enquanto estas mãos que semeiam morte não forem transformadas em instrumentos de justiça e paz para o mundo inteiro”, adverte o papa. Ele está falando da importância da evangelização dos corruptos. Recordemos Zaqueu (cf. Lc 19,1-10). 
 
5 Cuidar do sentido da vida
 
O Papa Francisco conclui sua mensagem recordando-nos o sentido da vida nos apresentando o versículo: «Em todas as tuas obras, lembra-te do teu fim» (Eclo 7,36). A consciência do fim da nossa existência nos estimula a viver e a fazer o bem.  
 
O objetivo de cada ação nesta vida só pode ser o amor: tal é o objetivo para onde caminhamos, e nada deve distrair-nos dele. Este amor é partilha, dedicação e serviço, mas começa pela descoberta de que primeiro fomos nós amados e despertados para o amor. 
 
A “mão estendida” é muito mais que um gesto, é o estilo de vida dos discípulos de Cristo, em contínua abertura aos mais necessitados. O papa nos estimula a promover a cultura da solidariedade! 
 
Neste caminho de encontro diário com os pobres, acompanha-nos a Mãe de Deus que é, mais do que qualquer outra, a Mãe dos pobres. A Virgem Maria conhece de perto as dificuldades e os sofrimentos de quantos estão marginalizados, porque Ela mesma Se viu a dar à luz o Filho de Deus num estábulo. Devido à ameaça de Herodes, fugiu, juntamente com José, seu esposo e o Menino Jesus para outro país; a Sagrada Família conheceu a condição de refugiados. 
 
PARA REFLEXÃO PESSOAL
 
Como você se sente em relação à solidariedade?
 
O que mais lhe afasta dos mais necessitados?
 
O que significa afirmar que “a misericórdia não se improvisa”?
 

Compartilhe essa Notícia

Leia também