Por Pe. Helio Fronczack
A imagem de um tabuleiro de xadrez, com suas peças dispostas em uma complexa dança de estratégia e poder, é uma significativa metáfora da sociedade humana. Reis, rainhas, bispos, cavalos, torres e, claro, os humildes peões, cada um com seu movimento, sua função e seu valor intrínseco no jogo. No entanto, a sabedoria popular nos lembra de uma verdade fundamental que transcende a hierarquia do tabuleiro: “Quando a partida de xadrez termina, o peão e o rei vão para a mesma caixa”.
Esta frase encerra uma importante reflexão sobre a igualdade inerente a todos os seres humanos, independentemente de suas posições, títulos ou responsabilidades na grande partida da vida. Na sociedade, assim como no xadrez, desempenhamos papéis diversos. Há aqueles que ocupam posições de liderança e influência, os “reis” e “rainhas” que traçam planos; há os facilitadores, os “bispos” e “cavalos”, que garantem a fluidez e a inovação; e há a maioria, os “peões”, que com seu trabalho diário e persistente, formam a base e o motor de qualquer comunidade.
É inegável que essas funções e encargos são distintos e, muitas vezes, essenciais para o funcionamento complexo da sociedade. A diversidade de talentos e habilidades é uma riqueza que impulsiona o progresso. Contudo, essa diversidade funcional jamais pode ser confundida com uma desigualdade de valor ou dignidade humana. A essência do ser, aquilo que nos torna humanos, precede qualquer rótulo ou posição social.
O cerne da questão reside no respeito à dignidade de cada pessoa. Não importa se alguém move as grandes peças no centro do tabuleiro ou se avança passo a passo na linha de frente; todos compartilham a mesma condição humana e, portanto, merecem o mesmo tratamento respeitoso e a garantia de seus direitos fundamentais. A dignidade não é um privilégio de poucos, mas um direito inalienável de todos.
Ao final do dia, quando as “partidas” da vida chegam ao seu epílogo, sejam elas bem-sucedidas ou desafiadoras, as distinções sociais se diluem. Resta a humanidade compartilhada, a vulnerabilidade comum e a verdade de que, fundamentalmente, somos todos iguais. Reconhecer essa igualdade não significa desvalorizar as contribuições individuais ou as funções necessárias; significa, sim, construir uma sociedade onde a valoração do ser humano não seja atrelada ao seu cargo ou fortuna, mas à sua própria existência.
Que a lição do tabuleiro de xadrez nos inspire a cultivar um mundo onde a dignidade do “peão” seja tão reverenciada quanto a do “rei”, e onde o respeito mútuo seja a regra, não a exceção. Pois, no final da vida terrena, todos estamos destinados à mesma caixa, unidos pela nossa inalienável humanidade.