Coletiva de Dom Júlio Endi Akamine

Arcebispo Coadjutor chegará dia 19 de maio em Belém

Ultimando os preparativos para mudar-se para Belém, Dom Júlio Endi Akamine concedeu entrevista coletiva à Imprensa no dia 3 de abril. Durante a entrevista, ao vivo, retransmitida pela Rede Nazaré de Comunicação (TV, rádio e redes sociais), ele falou da sua nomeação como Arcebispo Coadjutor de Belém, despediu-se da Arquidiocese de Sorocaba (SP) e declarou que vem para a capital do Pará com “grande Esperança” de desenvolver bem a sua missão de servir à Igreja de Belém, onde ele será apresentado ao Povo de Deus no dia 31 de maio próximo.

O encontro com jornalistas ocorreu às 9h30 no auditório Dom José Lambert, na Cúria Metropolitana, situada à avenida Dr. Eugênio Salerno, nº 100, na cidade de Sorocaba, interior do Estado de São Paulo. Acompanhado do padre Fernando Giuli, Vigário Geral da Arquidiocese de Sorocaba, o pastor falou sobre esta nova realidade em jornada: ser Arcebispo Coadjutor, exercendo sua missão junto a Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Belém do Pará.

A nomeação de Dom Júlio deve-se ao fato do Papa Francisco ter atendido a solicitação de Dom Alberto: poder contar com a colaboração de um arcebispo coadjutor. O Arcebispo de Belém aproxima-se dos 75 anos de idade, e segue a norma estabelecida pelo Código de Direito Canônico (Cân. 401 – §1), que determina que os bispos apresentem seu pedido de renúncia ao Santo Padre ao atingirem essa idade. Cabe, contudo, ao Papa avaliar e decidir sobre a aceitação da renúncia e o momento oportuno para sua efetivação.

Dom Júlio foi nomeado pelo Papa Francisco no dia 7 de março de 2025 e o anúncio foi feito pelo Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, às 8h da manhã daquela data, por meio dos canais oficiais de comunicação da Arquidiocese, a Rede Nazaré de Comunicação, acompanhado do seu Bispo Auxiliar Dom Paulo Andreolli.

Nomeado, Dom Júlio enviou uma saudação ao Arcebispo de Belém: “A Dom Alberto Taveira saúdo afetuosamente no Senhor. A delicada e preciosa fraternidade a mim demonstrada, me encoraja a me unir a V.Ex.a.Rev.a. e aos bispos auxiliares da Arquidiocese de Belém na prática incansável do bem. O Pastor dos pastores nunca me deixou sossegado e, por esse constante impulso, sou grato. Temo, cada dia mais, receber a graça em vão e deixá-la infrutífera nos fiéis a mim confiados. Peço que orem por mim. De minha parte, garanto a todos minhas orações e sacrifícios”.

À chegada de Dom Júlio, a Arquidiocese de Belém passará a contar com dois arcebispos, pois Dom Alberto continuará no governo pastoral até que o Papa aceite sua renúncia, passando a ser Arcebispo Emérito, momento em que Dom Júlio assumirá, automaticamente, como Arcebispo Titular.

Até o aceite da sua renúncia, Dom Alberto seguirá desempenhando suas funções normalmente, assim como vem fazendo há 15 anos à frente da Arquidiocese de Belém, ao longo de seus 28 anos como arcebispo e 33 anos de episcopado.

Dom Júlio será transferido de Sorocaba (SP) onde, atualmente, é o Administrador Arquidiocesano. Também cumpre os últimos compromissos como presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na conversa com os jornalistas ele deu detalhes da intensa agenda de compromissos anteriores à nomeação, despediu-se de Sorocaba e deteve-se sobre o significado da nomeação na sua vocação e falou das suas expectativas para realizar sua missão na Arquidiocese de Belém.

Comunicado de sua nomeação pelo Papa Francisco no dia 10 de fevereiro de 2025, ele deveria estar em Belém até o dia 10 de abril, mas compromissos assumidos antes da nomeação o impediram de vir ao Pará no tempo estabelecido pela Nunciatura Apostólica do Brasil. Após negociações para um novo prazo, Dom Júlio chegará a Belém no dia 19 de maio.

Dia 30 de março, às 16h, houve Missa em Ação de Graças pelo pastoreio de Dom Júlio, que também é Bispo referencial da Pastoral Nipo Brasileira da CNBB, à frente da PANIB (Pastoral Nipo-brasileira) da sub-região de Sorocaba.

A celebração eucarística foi na Comunidade Santa Teresinha (Paróquia São Carlos Borromeu), presidida pelo próprio Arcebispo e concelebrada pelos padres Dirceu Sudário de Freitas e Antônio Isau Yamamoto.

Confira, a seguir, a íntegra da entrevista coletiva de Dom Júlio:

A coletiva

 Damos início à coletiva de Imprensa, convocada por Dom Júlio Endi Akamime, agora Administrador Arquidiocesano da Arquidiocese de Sorocaba, nomeado pelo Santo Padre, o Papa Francisco, Arcebispo Coadjutor da Arquidiocese de Belém, no Pará.

Sou padre Fernando Giuli. Em nome da Arquidiocese de Sorocaba, como Vigário Geral, quero acolher em nossa Cúria Metropolitana, nessa sala Dom José Lambert os senhores e as senhoras aqui presentes, especialmente, a Imprensa e os meios de comunicação, bem como a Pastoral da Comunicação da nossa Arquidiocese de Sorocaba.

Também registro a presença dos alunos do nosso Instituo de Teologia “João Paulo II”, a presença de nosso Ecônomo, padre Júlio Fernandes, a presença de outros padres, diáconos. Também acolho os irmãos e irmãs que nos acompanham pelo nosso canal da Arquidiocese de Sorocaba no Youtube, especialmente, através da Rede Nazaré de Comunicação, da Arquidiocese de Belém, no Pará, que nos dá a alegria de compartilhar este momento e, também.(O padre menciona outras emissoras presentes).

Momento alegre pela nomeação de Dom Júlio para a nova missão na Arquidiocese de Belém, mas também um misto de melancolia pela sua partida. Foram oito anos de pastoreio nesta diocese, que muitas saudades nos deixará, além dos ensinamentos, testemunho, amizade e fé. Nos despedimos do arcebispo, mas não do amigo-irmão que terá sempre portas abertas para estar conosco”.(Menção do padre Fernando Giuli).

Coletiva Dom Júlio | Foto:  Pascom Arquidiocese de Sorocaba
Coletiva Dom Júlio | Foto: Pascom Arquidiocese de Sorocaba

Dom Júlio Akamine faz esclarecimentos

Bom dia a todos, irmãos e irmãs! Todos aqueles que também nos acompanham pelas redes sociais, a Rede Nazaré de Comunicação, também os canais, os meios de comunicação da nossa Arquidiocese de Sorocaba.

Por que que eu demorei tanto para convocar esta coletiva? Na verdade, a pergunta por uma coletiva foi imediata! Mas eu preciso explicar como é que aconteceu esta nomeação.

A comunicação da nomeação no dia 2 de fevereiro de 2025, então já faz quase dois meses que eu tinha recebido do Núncio Apostólico a comunicação desta nomeação feita pelo Papa Francisco, ou melhor, dia 10 de fevereiro, não dia 2. Dia 10 de fevereiro eu estava já de malas prontas no aeroporto, para viajar para o Japão.

Foi uma viagem longamente preparada, era uma viagem de férias, mas era também uma viagem de cunho pastoral, porque a gente iria visitar as comunidades católicas do Japão, de modo especial, na cidade de Hamamatsu (cidade costeira em Honshu, a ilha principal do Japão), onde tem a maior concentração de brasileiros trabalhando no Japão. Iríamos visitar Nagasaki, que é o centro católico do Japão e, em Tóquio, uma comunidade dos Salesianos onde tem também uma comunidade de brasileiros católicos que se reúnem lá.

Eu avisei ao Sr. Núncio (Dom Giambattista Diquattro – Núncio Apostólico do Brasil)que eu aceitava a nomeação, mas que eu estava de partida e que não seria possível fazer esta comunicação. Ele me perguntou quando eu retornava, e eu retornava no dia 1º de março.

A viagem, de fato, foi muito boa, levei comigo essa notícia, que eu não podia comentar com ninguém, nem com minha mãe eu falei. Alguns me perguntam se isso foi uma algo pesado, algo difícil: não, não foi, eu já tinha dado a resposta, então, para a minha consciência, estava resolvida.

Alguma expectativa, preocupação, como é que vai acontecer, o que me espera…tá bom, isso tudo é da psicologia. Agora, na questão da consciência, eu estava bastante sereno, não tinha nenhum problema pra carregar, tanto que a viagem foi, de fato, excelente, foi muito boa, foi um momento de descanso porque era uma viagem de férias, mas foi também um momento muito frutuoso de encontro com uma comunidade que está lá no Japão e que passa por todas as dificuldades de um estrangeiro num país muito diferente.

Levei uma mensagem de esperança para estas comunidades, às vezes, tão sofridas, com tantas dificuldades de adaptação, de língua, de cultura. 

Falei, principalmente, da experiência dos imigrantes japoneses aqui no Brasil. Eles também sofreram muito para se integrar à sociedade brasileira. E um dos pontos, acho que decisivos, na integração dos japoneses à sociedade brasileira, foi a fé católica, a fé cristã.

Eu acho que o caso brasileiro-japonês é um caso de sucesso, de encontro intercultural: há entre a cultura brasileira e a japonesa uma recíproca admiração. Uma identidade muito clara, mas ao mesmo tempo, um encontro cultural em que as duas culturas se respeitam, se admiram e também se enriquecem, reciprocamente.

A nomeação

Depois da minha volta no dia 1º de março, no dia 2 de março, o Núncio me liga me pedindo que a gente achasse uma data para fazer o anúncio da minha nomeação, eles queriam anunciar ainda no mês de março, mas eu tive que explicar para o Núncio que eu já estava de viagem marcada também na semana seguinte para pregar retiro em Juiz de Fora para os padres Palotinos do Rio de Janeiro.

E, logo em seguida, voltando, eu iria viajar, primeiramente, para Álvares Machado, onde eu iria participar do congresso da Pastoral Nipo-brasileira nos dias 8 e 9; no dia 10 de março eu já iria para pregar o retiro, voltaria no dia 15 de março; e no dia 18, uma reunião no Conselho Permanente, em Brasília. Então, vocês imaginam como estavam apertadas as datas!

Por isso, então, que foi feito o anúncio da minha nomeação no dia 7 de março. Na verdade, no dia 6 de março, eu mandei a carta para o Papa dizendo que eu aceitava, nas férias eu não tive tempo de responder para o Papa! Então no dia 6 de março, respondi ao Papa que aceitava a nomeação. E no dia 7 de março foi feito o anúncio da minha nomeação.

Por isso, então, que por conta dos diversos compromissos que eu tive depois da publicação da minha nomeação, é que eu não pudemos fazer essa coletiva antes, meu desejo era de fazer no dia, mas como é que eu ia preparar uma coletiva sem que o pessoal soubesse por que eu estava convocando uma coletiva? Primeiro tinha que esperar o anúncio da minha nomeação. Mas já no outro dia, eu estava viajando para Álvares Machado, depois, no outro dia, quando eu voltava, já estava viajando para Juiz de Fora; depois eu já estava viajando para Brasília, e só podia marcar depois destes compromissos já assumidos.

Coletiva Dom Júlio | Foto:  Pascom Arquidiocese de Sorocaba
Coletiva Dom Júlio | Foto: Pascom Arquidiocese de Sorocaba

Agradecimentos

Quero, primeiramente, agradecer por esses oito anos na Diocese de Sorocaba, foi uma experiência muito boa, às vezes difícil, mas sempre muito positiva.

E quero aproveitar também para agradecer à Comunicação Social daqui da região de Sorocaba, a Imprensa – a TV, o rádio -, também a Pastoral (da Comunicação), mas principalmente os meios de Comunicação Social que não estão ligados à Igreja, pelo modo respeitoso com que sempre me trataram, não só isso, não se trata só de uma relação respeitosa, mas uma relação profissional. E uma relação baseada na verdade.

É muito triste quando a gente fala alguma coisa e isso é manipulado e fazem a gente dizer uma coisa que a gente não disse e depois a gente tem que ficar fazendo notas de esclarecimento. Não foi essa a experiência que eu tive aqui na Arquidiocese de Sorocaba, graças a Deus!

Quero reconhecer o trabalho profissional dos meios de Comunicação Social em relação à Igreja. Muitas vezes se veiculam notícias falsas (mens) sobre a Igreja, não foi este o caso aqui na Arquidiocese de Sorocaba. Por isso sou, de fato, não só grato, eu quero aqui, publicamente, reconhecer o profissionalismo das pessoas, por isso eu não poderia ir embora sem dar esse testemunho pessoal.

Já tive experiências, infelizmente, de dizer uma coisa e sair outra. Eu acho que isso é um exemplo de mau jornalismo, de falta de profissionalismo, de desejo de especular, não foram muitas, mas estas experiências negativas deixam a gente armado. Quando eu cheguei aqui na Diocese de Sorocaba, eu tinha uma certa prevenção, graças a Deus este preconceito meu não se tornou um conceito, o preconceito foi superado, desfeito também pela relação bastante profissional com os meios de Comunicação Social.

Coletiva Dom Júlio | Foto:  Pascom Arquidiocese de Sorocaba
Coletiva Dom Júlio | Foto: Pascom Arquidiocese de Sorocaba

Perguntas dos jornalistas

Como foi a emoção de ser nomeado para Belém do Pará? Qual é a sua relação com a cidade?  O senhor fez uma pesquisa? Qual a sua relação com a arquidiocese de lá?

R:Foi com muita emoção! Qual foi a emoção?…A gente só pode dizer que foram muitas! Posso dizer também que na questão emocional, os sentimentos são sempre contraditórios, e acho que isso partilho com todos os que estão aqui presentes, todos aqueles que souberam desta nomeação.

Quando o Núncio me anunciou a nomeação eu tive a convicção, de fato, de que seria uma surpresa para todos.

Foi uma surpresa pra mim e sabia que também seria uma surpresa para todos. Para responder ao Núncio se eu aceitava ou não, eu pensei em duas pessoas: a primeira pessoa foi o meu fundador, São Vicente Pallotti(Fundador daCongregação dos Padres e Irmãos Palotinos da Província São Paulo Apóstolo). Não tinha como não dirigir o meu pensamento a ele, São Vicente Pallotti.

Ele foi um santo da cidade de Roma, foi um homem da Igreja, foi um homem que obedecia ao Papa em tudo, e ele não só obedecia ao Papa como também incentivava, promovia e defendia a necessidade de, de fato, a gente ter com o Papa uma relação de confiança e também de obediência.

A segunda pessoa que eu pensei, já que eu estava partindo para o Japão, foi Monsenhor Domingos Chōhachi Nakamura. Ele foi um padre da Diocese de Nagasaki que veio aqui para o Brasil quando ele já estava idoso. Ele veio aqui para o Brasil…quando os japonês chegaram aqui no Brasil, eles tiveram muitas dificuldades com a língua, e a comunidade católica japonesa fez um pedido ao bispo de Nagasaki, que eles desejavam, precisavam de um padre japonês para atendê-los, espiritualmente.

O bispo de Nagasaki reuniu o seu clero, que não era muito numeroso – nunca foi! -, mas reuniu o seu clero, e fez a proposta de quem poderia vir como missionário aqui no Brasil? Ninguém se dispôs. Depois que terminou a reunião, o padre Domingos Nakamura disse: “Olhe, seu bispo, eu já sou velho! Mas se quiser me mandar, eu me disponho!”.

Imagine, gente…uma pessoa que já estava perto dos 60 anos de idade. Naquela época, 60 anos de idade, uma pessoa estava se preparando para morrer, né? E ele deixou o seu país e veio para o outro lado do mundo, onde ele não conhecia absolutamente nada e veio para o Brasil trabalhar como missionário. Ele percorreu os Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, muitas vezes viajando até a pé, carregando malas na mão para visitar lá uma família, 10 pessoas…a comunidade tinha lá 20 pessoas, mas ele fazia estas viagens para atender as pessoas que necessitavam de sua assistência espiritual.

Atendeu também aqueles que não eram católicos, ajudou também aqueles que não eram cristãos e fez aqui no Brasil um trabalho admirável. Ele está agora em processo de beatificação pela Diocese de Presidente Prudente.

Ele foi um dos fundadores da Associação “Estrela da manhã”, que era uma associação civil que ajudou muitos japoneses a se integrarem na sociedade brasileira por meio, exatamente, da fé católica. Então, quando o Núncio me comunicou e perguntou: “O senhor aceita?”. Então eu estava já pensando nestas duas pessoas – eu disse: “Olha, sr. Núncio, – a minha resposta é a mesma que eu já dei há tantos anos atrás. A resposta é sempre “sim”, a única coisa que eu tenho que fazer é confirmar aquilo que eu já disse aos meus superiores, que eu já disse à Igreja e que eu já disse a Deus. Foi com esta disposição interior que eu reagi à nomeação como Arcebispo Coadjutor de Belém do Pará.

Nos aspectos burocráticos e administrativos, até que dia o senhor fica em Sorocaba? Já tem a pessoa que deve ocupar o seu cargo aqui em Sorocaba? Belém vai receber a COP 30, o senhor estará lá. Como o senhor considera participar desse momento tão importante para a Organização das Nações Unidas e para todo o planeta?

Sobre a sede vacante

R: Então, primeiramente, essa questão mais burocrática. Muitos perguntam: como vai ficar a diocese sem o bispo? Eu quero assegurar pra vocês: continua tudo como antes, mesmo que não tenha o arcebispo.

A Igreja tem um negócio que se chama Código de Direito Canônico, e aqui está previsto como deve funcionar a arquidiocese durante este período da sede vacante, ou seja, não tem o bispo.

Então, todas as coisas estão garantidas, nada vai ser deixado porque não tem o bispo, tudo funciona como antes! Tá certo que algumas coisas não podem ser feitas, mas são muito poucas, são casos bem restritos com relação ao governo da arquidiocese.

Apresentação em Belém

Desde o anúncio da minha nomeação, eu tenho o prazo de dois meses para chegar em Belém do Pará. Então, foi no dia 10 de fevereiro, dia 10 de abril eu já deveria estar lá em Belém do Pará. Mas eu expliquei para o Sr. Núncio todas essas dificuldades dessas viagens, desses compromissos, além disso, tem a Semana Santa e tem a Assembleia Geral da CNBB que vai ser em Brasília, agora no mês de abril.

Então expliquei toda essa situação, pedi ao Dicastério dos Bispos uma autorização para chegar em Belém do Pará depois de dois meses. Por isso, então, eu vou partir no dia 19 de maio – já tenho a passagem comprada, falta fazer a minha mudança, mas dia 19 de maio eu parto para Belém e dia 31 de maio, eu sou apresentado lá na Arquidiocese de Belém.

Expectativas para a missão na Arquidiocese de Belém

Mas, antes da COP 30, tem o Círio de Nazaré, que é durante o mês de outubro inteiro. Então, eu já vou ter muito trabalho no mês de outubro.

A COP 30 vai ser no mês de novembro, então tem o Círio de Nazaré – que acho que é a maior festa Mariana do mundo -, o maior número de peregrinos que tem, são milhões de peregrinos lá na cidade de Belém do Pará, então, a Igreja já está toda mobilizada também para a celebração do Círio de Nazaré.

E, depois, a COP 30, que vai falar sobre as mudanças climáticas. A Igreja vai participar, isso está sendo organizado a nível de Secretaria de Estado do Vaticano, e a representação da Igreja é uma representação do Vaticano. Tanto que o Núncio Apostólico e a Secretaria de Estado do Vaticano é que está organizando a sua participação ali na COP 30, participa como observador, mas é uma participação importante. 

E nós, estando lá, lógico, inevitavelmente, vamos estar envolvidos na COP 30. Na verdade, nós estamos muito envolvidos na COP 30, para além da COP 30, porque a COP 30 fala da mudança climática e nisso nós já estamos engajados desde já!

Na década de 70, teve a Campanha da Fraternidade: Preserve o que é de todos! Depois tivemos várias campanhas da Fraternidade sobre água, sobre a ecologia. Neste ano estamos celebrando a Campanha da Fraternidade sobre a ecologia integral, temos uma encíclica social do Papa – Laudato Si-, que fala da Casa Comum, da Criação.

Então, nós estamos muito engajados, a Igreja – como tal – está muito engajada nesta questão da ecologia integral e das mudanças climáticas para além da COP 30. Lógico que na COP 30 nós também vamos procurar participar e vamos promover a participação nesta COP 30.

O que mais marcou o seu episcopado em Sorocaba?

R: Sorocaba!!! A Arquidiocese de Sorocaba! Eu acho que não tem como, não a cidade, mas a arquidiocese, que é composta de 12 municípios, a Igreja particular de Sorocaba. Aquilo que eu já disse: a gente é designado para uma Igreja particular pelo Papa, e não tem como a gente desenvolver o trabalho sem amar!

A relação do bispo com a sua diocese, com a Igreja particular, é uma relação esponsal. Por isso que o trabalho que a gente realizou aqui, lógico que tem impacto na Arquidiocese, é verdade, mas a recíproca também é verdadeira!

Eu saio daqui impactado, não da mesma forma que cheguei. Então, o que me impactou, de fato, é a própria Igreja particular de Sorocaba. Dizendo isso, eu estou falando das pastorais, dos movimentos, dos serviços, das comunidades, das paróquias, das pessoas, dos fiéis, dos católicos e não católicos com quem a gente teve o privilégio de travar relações, de cultivar amizades muito profundas, tudo isso impacta! E o que a gente pode dizer que é tudo isso? É a própria Diocese de Sorocaba!

Durante seus oito anos de pastoreio na Arquidiocese de Sorocaba, o senhor dedicou grande esforço e apreço pela formação dos futuros sacerdotes. Neste momento de partida, que mensagem o senhor tem para deixar para os seminaristas?

 R: Vale a pena!!! Apesar de todas dificuldades e desafios, vale a pena. Posso dizer, por experiência pessoal, que Deus nunca me deixou acomodado.

Lógico que pela nossa psicologia, a gente sempre gosta de segurança, a gente escolhe o ninho quente, a gente escolhe o lugar onde a gente está mais acostumado e seguro, mas todos esses anos em que eu sou padre e, agora, bispo, Deus nunca me deixou sossegado num lugar.

Exatamente quando eu achava que estava acostumando, que eu estava bem, que estava tudo assegurado, fazia planos agora para continuar, é nesse momento que a Igreja para outros lugares.

Eu gostaria de deixar essa mensagem para os nossos seminaristas. A gente sempre tem a tendência de buscar a nossa zona de conforto, é uma tendência natural, eu acho que a gente não tem que ter vergonha disso. Mas, a gente também tem que estar abertos às surpresas de Deus, Ele bagunça a nossa vida! E esta bagunça é divina, sempre faz com a gente cresça, amadureça, se santifique. Por isso, sou muito grato a Deus, que nunca me deixou sossegado.

Saudação para Belém

Decorrida meia hora de entrevista, Dom Júlio dirigiu-se à Arquidiocese de Belém.

“A minha saudação: quero dizer para vocês que eu estou chegando! Vai demorar um pouco mais do que o normal, mas eu estou chegando!

Chego com boas expectativas, chego com “pequenas esperanças”, quais são? Aquelas de poder me adaptar bem, de poder realizar o meu trabalho, de encontrar colaboradores, uma “pequena esperança” também, aquela de não fazer muito estrago aí em Belém do Pará.

Mas vou também com a “Grande Esperança”, a Esperança que não decepciona, a Esperança que nos é dada no dia que a gente é batizado, a virtude da Esperança, a Esperança em Deus. Por isso, estou chegando aí com “pequenas esperanças” na mala, mas também carregando pela “Grande Esperança”, Esperança que não decepciona, que faz a gente caminhar.

Vigário Geral da Arquidiocese de Sorocaba, Pe. Fernando Giuli, pergunta: Que legado o senhor deixa para a nossa Arquidiocese?

 Estar presente no meio do Povo de Deus

 Difícil de responder essa pergunta. Legado é muito difícil de definir, eu não sei definir isso, acho que isso vai se tornar claro com o tempo, é a história que vai, de fato, nos julgar, além de Deus e da nossa consciência, mas a história vai julgar, de fato, aquilo que a gente deixou de positivo.

Agora, eu gostaria de compartilhar com vocês, aquilo que acho que posso dizer que mais me preocupou durante estes oito anos que estive aqui na Arquidiocese de Sorocaba.

Primeiramente, o desejo de estar presente. Nos primeiros anos aqui na Arquidiocese de Sorocaba, eu fiz questão de visitar não só as paróquias – bom, todas as paróquias visitei, sem dúvida nenhuma -, mas visitei também todas as capelas, todas as comunidades, urbanas e rurais.

Foram mais de 420, gente! Demorei, acho que uns quatro anos, para visitar todo mundo, e muitas comunidades, muitas capelas nunca tinham recebido o bispo, foi a primeira vez.

Para mim, foi um privilégio, foi uma alegria muito grande encontrar essas comunidades, muitas vezes perdidas no meio do mato, nas fronteiras das outras cidades, às vezes tinha abrir porteira, fechar porteira, passar pelo meio do pasto, só não tive que atravessar rio, mas o resto aconteceu. Foi, de fato, uma experiência muito boa!

E não só! Estar presente em todas as impressões da Igreja particular de Sorocaba, os movimentos, as novas comunidades, as pastorais, eu procurei me desdobrar! E isso não era uma questão pessoal, era uma questão de que me dava muita alegria poder encontrar as pessoas e marcar uma presença, ainda que fosse um grupo pequeno ou fosse um grupo perdido ali no meio da multidão, mas de procurar estar presente.

Presente também nas grandes manifestações da Arquidiocese, uma delas, a Romaria de Aparecidinha, fiz questão de participar, não faltei nenhuma, mesmo operado do joelho, eu participei também da Romaria de Aparecidinha. Não é heroísmo, é a presença, é estar presente.

O Papa tem um a expressão muito boa: o pastor tem que ter o cheiro das ovelhas! Algumas pessoas diziam que eu estava lá para cheirar as ovelhas. Não, eu não vim para cheirar ninguém. A expressão é diferente, a expressão é outra: é o pastor que tem que ter o cheiro, ele não vai cheirar as ovelhas, ele tem que ter o cheiro das ovelhas, ou seja, estar presente, estar misturado, estar junto, estar próximo, acessível.

Então, bem ou mal, se eu consegui ou não, essa sempre foi uma disposição interior minha de poder estar presente. Eu acho que o Papa Francisco me indicou um caminho no início do meu episcopado, nesse sentido. Ele falou que o pastor tem que ter o cheiro das ovelhas, ou seja, tem que estar em contato direto, de tal modo que ele também tem o cheiro das ovelhas! Ele não cheira a Chanel, não cheira a perfume francês, ele cheira às ovelhas! Então, primeira coisa é isso: um grande desejo de estar presente, de estar acessível, de estar à disposição, a serviço das pessoas.

Outra coisa que eu me dediquei muito, acho que dediquei bastante tempo, porque achava que era necessário foi a pregação da Palavra. Por isso, procurei preparar bem as homilias, ainda que nem sempre as homilias fossem boas, nem sempre talvez saísse do jeito que eu queria, mas de me preparar, sempre, todos os dias.

Quando eu cheguei aqui em Sorocaba, tinha esse blog, o “Gotas da Palavra”. Para mim, foi uma alegria saber que tinha esse serviço já há mais de dez anos esse serviço, para mim foi um grande privilégio colaborar com o “Gotas da Palavra”. Quero homenagear aqueles que criaram e mantiveram durante tantos anos este blog, agora site, podcast, o ”Gotas da Palavra”. Colaboração também do laboratório de comunicação(menciona uma universidade), que disponibilizou os seus serviços para poder fazer estas gravações.

Então, uma grande preocupação com a pregação da Palavra. E os seminaristas sabem muito bem, que eu tenho cobrado deles. Meu desejo não é que eles sejam grandes pregadores, não é esse o objetivo, não é que eles tenham sucesso na pregação deles, não é este o objetivo. O objetivo é pregar a Palavra, mas para pregar a Palavra precisa preparar bem, estar sempre preparado, sempre se preparar. Ter este grande apreço pelo Ministério da Palavra, estamos a serviço da Palavra de Deus!

Estes dias também estou vendo um pouco os artigos que publiquei(principalmente no jornal local de Sorocaba).Toda semana, gente! Oito anos escrevendo artigos, oito anos! Toda semana! Tenho lá os meus arquivos, tá tudo guardado. Estava olhando um pouquinho os temas, o que foi que escrevi. Meu Deus, quanta coisa!

Mas fiz isto, por quê? Porque eu acho que a gente precisa dialogar com a sociedade. A Igreja tem uma palavra a ser dada para a sociedade civil, uma palavra que está ancorada na Palavra de Deus, sem dúvida nenhuma, mas a gente procura dialogar com as pessoas.

Não quero impor as coisas, mas eu quero mostrar as razões, desejo mostrar o porquê a gente faz assim e não do outro jeito. Vi, nesta presença também (nas publicações)uma forma de poder colaborar, dialogar com a sociedade civil.

Recebi, muitas vezes, uma resposta bastante positiva, agradeço aos leitores que acompanharam também esses artigos, agradeço pela gentileza da atenção, mesmo que não concordem comigo, mesmo que achem que estou ‘viajando’, mas tá bom, pelo menos prestaram atenção naquilo que a gente fala, não é minha opinião, eu procurei, de fato, exprimir aquilo que é a fé que está nas nossas raízes.

Uma terceira coisa também que eu queria chamar a atenção, uma preocupação, acho que isso é uma responsabilidade que incumbe a mim, pessoalmente. Lógico, eu não faço isso sozinho.

Os formadores estão aí, muita gente colabora, (não sei se vocês sabem, tem padres, leigos e leigas que colaboram na formação dos futuros sacerdotes da Arquidiocese de Sorocaba) e as mulheres ajudam muito, graças a Deus! 

E isso não está fora do programa de formação da Igreja, não! A RatioInstutionis fala, exatamente, da importância da participação das mulheres no processo de formação presbiteral, e aqui na Arquidiocese de Sorocaba isso tem acontecido, antes de eu chegar. Para mim, foi uma surpresa muito positiva saber que tem mulheres envolvidas na formação presbiteral.

E eu assumi, tenho que dizer que foi, de fato, uma preocupação constante de assumir minha responsabilidade pessoal na formação presbiteral dos novos padres daqui da Arquidiocese de Sorocaba. Espero não ter feito muito estrago, mas de ter colaborado, ajudado, de fato, para a formação dos padres daqui de Sorocaba.

Acho que é isso. Acho que mais legado, acho que a história vai julgar.

Muito obrigado!

Assista aqui a Entrevista coletiva – Sorocaba – 03/04/2025

Voz de Nazaré Online
Com Arquidioceses de Belém e Sorocaba
Fotos: Luiz Estumano/Rede Nazaré de Comunicação
Pascom/Arquidiocese de Sorocaba

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