Entrevista com representante do Papa na COP30

Cardeal Pietro Parolin fala das expectativas da Igreja Católica

Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé, veio a Belém para participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025. Representante do Papa Leão XIV, ele é a autoridade máxima da Igreja Católica na Conferência das Partes (COP30), que acontece no Brasil, em Belém, capital do Estado do Pará, no período de 10 a 21 de novembro.

À chegada à cidade sede da conferência, no dia 6 de novembro, o Secretário concedeu entrevista à Rede Nazaré de Comunicação para falar das expectativas para o encontro mundial sobre as condições climáticas do planeta.

O Cardeal conversou com o jornalista Padre Wagner Maria, Diretor Geral da Rede Nazaré de Comunicação, em entrevista para TV Nazaré, canal 30. Confira!

 Padre Wagner: Estamos em Belém do Pará, capital do Brasil, durante os dias em que acontece a conferência do clima (COP30). A Amazônia se torna a “capital do clima”, onde grandes personalidades se reúnem para discutir o clima no mundo e, de maneira especial, a Amazônia, tão falada, querida e amada no Brasil e no mundo. A Igreja, com sua comitiva, participa da COP30. Hoje temos a alegria de conversar com o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, que vem, justamente, em nome da Igreja Católica e do Papa, participar da COP.

Padre Wagner: Eminência, bem-vindo!

Cardeal Pietro Parolin: Obrigado, obrigado por este convite, por esta oportunidade que me é dada de me dirigir aos telespectadores da televisão Nazaré, me parece que assim se chama…

Padre Wagner: E para todos os meios de comunicação católicos do Brasil.

Cardeal Pietro Parolin: E todos os meios de comunicação. E, portanto, o cenário se alarga imensamente, porque o Brasil é um continente, então os telespectadores são muitos. E saúdo vocês muito cordialmente, aqui, da casa do arcebispo de Belém.

Padre Wagner: Eminência, que contribuição a Igreja pode oferecer a partir das encíclicas Laudato Si’ e Laudate Deum, para os desafios da preservação do meio ambiente?

Cardeal Parolin: Sim, faria uma referência ao que disse o Papa Leão. Como, justamente, o senhor dizia, eu estou aqui em representação da Santa Sé e, em particular, do Papa Leão XIV, sucessor do Papa Francisco, que deu um impulso fundamental ao tema da ecologia e da ecologia integral, justamente, através dos dois documentos, a Laudato Si’  e a Laudate Deum. O Papa Leão nos recordava que há dez anos de distância. Estamos celebrando o décimo aniversário da Laudato Si’, permanecem ainda atuais e mais do que atuais os desafios que Papa Francisco sublinhou nos dois documentos precedentes. Estes desafios são de várias naturezas: são, certamente, desafios técnicos e será preciso dar respostas técnicas; são também desafios sociais; são desafios políticos; e são também desafios espirituais. Não devemos esquecer este aspecto, que talvez seja o aspecto típico que a Igreja deve destacar. Diante desses desafios, então, o convite e o chamado são para uma conversão. A conversão significa, sobretudo, assumir responsabilidade em relação a nós mesmos, pois nossa atitude para com a criação diz também quem somos, que imagem temos de nós mesmos e do mundo, e que senso de responsabilidade possuímos. Mas, sobretudo, em relação ao futuro e às gerações futuras devemos nos fazer a pergunta: que mundo deixaremos para as gerações que nos seguem, melhor ou pior do que o que nós encontramos? Enfim, creio que a contribuição que a Igreja pode trazer se coloca, sobretudo, nestes níveis, ou seja, este caminho de conversão que significa assumir responsabilidade diante de nós mesmos e diante do futuro e das gerações que virão.

Padre Wagner: Eminência, a Igreja se faz presente na Amazônia por meio de leigos, de tantos padres, religiosos e religiosas. Como a Igreja vê o papel dos missionários nas comunidades originárias da Amazônia?

Cardeal Parolin: Creio que a resposta é muito fácil e simples ao mesmo tempo, ou seja, a Igreja vê esta presença e este papel de maneira extremamente positiva. Sob o ponto de vista, eu diria, das duas dimensões fundamentais com as quais a Igreja vive em relação ao mundo e a todas as realidades, e também a realidade da Amazônia, que são a evangelização, o primeiro, o anúncio do Evangelho é o principal dever da Igreja; e, em seguida, a promoção humana que significa também a defesa e promoção dessas comunidades, a defesa e promoção do ambiente em que vivem, a conservação de suas boas tradições, a promoção de todos aqueles aspectos que, realmente, constituem suas características fundamentais. Portanto, é uma, digamos, uma visão positiva e eu gostaria de dar também aqui uma palavra de encorajamento, justamente, a estes leigos, digamos a estes missionários, sejam leigos ou sacerdotes, porque sei, um pouco também por experiência direta, pois conheci a Amazônia — talvez não como no Brasil, mas, enfim, há um pouco de Amazônia também na Venezuela. Eu pude, de fato, conhecer a Amazônia através da minha experiência de núncio apostólico. Sei que muitas vezes eles se encontram em grandes dificuldades. Que eles sintam a proximidade, que eles se sintam próximos dos seus bispos, naturalmente, da comunidade cristã local, mas também do Santo Padre da Santa Sé.

Padre Wagner: Na Amazônia não somos apenas católicos, mas muitos, muitos crentes de várias doutrinas. O que a Igreja diz sobre o diálogo inter-religioso na Amazônia?

Cardeal Parolin: Creio que o diálogo inter-religioso, digamos, pode ter um papel importante também no que diz respeito à defesa e promoção da Amazônia, que é, afinal, um bem da humanidade, um bem de toda a humanidade, até porque cada religião, digamos, contém em si um aspecto de atenção para com a criação, para com a natureza. E então, para enfrentar um problema que é global, como, de resto, deve ser toda a comunidade, a comunidade mundial, internacional, que o enfrenta, ao mesmo tempo, digamos, há um papel a ser desempenhado também entre as religiões e pela colaboração das religiões entre si. O diálogo inter-religioso, certamente, tem a dimensão ecológica como uma de suas dimensões e pode trazer uma contribuição importante. Gostaria de citar este evento que foi celebrado em 2021, por ocasião da COP26, no Vaticano, onde houve um encontro inter-religioso que tratou a fundo deste tema, em diálogo também com as ciências e com as várias contribuições, digamos, de um ponto de vista técnico. Foi um evento muito bem-sucedido e creio que pode constituir um modelo, uma espécie de exemplo também para o compromisso futuro.

Padre Wagner: Diante do que estamos vivendo aqui, neste clima da COP30, qual é a mensagem que a Igreja deseja transmitir não apenas a nós que vivemos na Amazônia, mas também aos líderes de tantos países presentes na Amazônia nestes dias?

Cardeal Parolin: Recordo o que disse o Papa Francisco: que os homens do século passado se mostraram mais irresponsáveis em relação ao meio ambiente porque, evidentemente, não souberam cuidar e, ao invés, agrediram; e que hoje, no início deste novo milênio, os homens deveriam dar demonstração de serem sábios e de dar uma resposta conveniente a este problema. A Igreja convida a todos para dar esta resposta, levando em conta que não é um aspecto secundário este do compromisso cristão e do testemunho cristão, mas também de um compromisso que nasce, efetivamente, da própria pertença ao cristianismo, da própria fé e da mensagem evangélica. Portanto, o convite que a Igreja faz é o de ser capaz de dar uma resposta e, assim, mais uma vez volto a sublinhar este tema da responsabilidade: responsabilidade em relação ao presente, responsabilidade em relação ao futuro.

Padre Wagner: Agradecemos eminência. O aguardamos em uma outra ocasião.

Cardeal Parolin: Enfim, mas para talvez dar uma volta no interior, nos rios da Amazônia, precisamos organizar algo nesse sentido.

Padre Wagner: De bom grado, venha.

Cardeal Parolin: Tudo bem, então reserve um período em que esteja tudo certo, poderei vir, sim.

Padre Wagner: Combinado.

Fotos: Luiz Estumano

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