Por: Padre Romeu Ferreira
A) Texto: Mc 6,1-6
1“Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. 2Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu ele tudo isso? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? 3Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” E ficaram escandalizados por causa dele. 4Jesus lhes dizia: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. 5E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. 6E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando.
B) Comentário
A mãe de Jesus era de Nazaré, norte da Terra Santa, Galileia. Logo, Jesus passou sua vida de garoto, na cidade da mãe. Ele sai de lá e volta, como jovem mestre.
Em seu retorno, já famoso pela cura da mulher hemorroíssa e a filha de Jairo (Mc 5, 21-43), é um bom início para sua pregação na sinagoga de Nazaré, arrebatando interesse e curiosidade do público: “De onde recebeu ele tudo isso? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? (v 2). E ponderavam: não parece ser o homem que conhecemos tanto! Ele faz coisas extraordinárias, como pode ser isso? E tal situação causava escândalo (v 3). Ora o escândalo é primo da admiração. Assim sendo, Jesus se admirava “com a falta de fé deles” (v 3). Outrora ele declarara: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (Jo 11,40). Portanto, a falta de fé é empecilho para a ação do Senhor em prol das pessoas: “E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles” (v 5s).
Nota-se que a antiga mentalidade judaica sobre o “Messias” permanecia: “Este homem humilde não pode ser o eleito de Deus” (Lc 4,21ss).
Em geral o homem julga conforme sua medida. Os elementos de juízo são obtidos no seu entorno: parentes, familiares, nas condições da raça. Mas Jesus não pode ser identificado só pela linhagem familiar: aquilo que se vê e se conhece dele, não é todo ele; e nem se pode conhecê-lo apenas por suas palavras. Ora, se o escuto, dando oportunidade em aceitar bem sua cultura, seu caráter, algo deveria mudar em mim, a seu respeito. Ele falava e operava como os profetas. Então pelo menos deveriam reconhecê-lo como profeta. E Jesus comenta: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (v 4). Os distantes são mais sensíveis aos sinais e valores de quem os realiza. Jesus se admira amargamente tal comportamento, e se vê na mesma línea dos profetas: o fracasso deles é o de Jesus. Ele já vislumbra o caminho que tem diante: incredulidade, perseguição e morte.
A missão de Jesus é ensinar a conhecer o Pai: “tudo o que ouvi do Pai vos dei a conhecer” (Jo 15,15). Só ama quem conhece, e quem conhece ama. E o texto conclui “Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando”. Aprendamos amar, conhecendo.