Missa do Crisma e Nota de Esclarecimento

Missa do Crisma | Foto Luiz Estumano
Missa do Crisma | Foto Luiz Estumano

“Com a Virgem Maria e debaixo de seu manto que aqui iniciei meu Ministério. Vim para dar minha vida, para ficar com cada um de vocês e aqui permanecerei”, foram as palavras de Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém, na manhã desta quarta-feira, 17 de abril, ao presidir a Santa Missa do Crisma, também conhecida como Missa dos Santos Óleos e da Unidade.

A celebração eucarística contou com a participação de centenas de fiéis e de todo o clero da Arquidiocese, ocasião em que os sacerdotes renovaram seus compromissos ministeriais.

 Esclarecimento

A homilia de Dom Alberto foi lida para o Povo de Deus, como de costume, em Missas Solenes, discorreu sobre a fé tendo como fonte a riqueza espiritual recolhida das Sagradas Escrituras, constantes da Liturgia do dia de hoje, Quinta-feira Santa.

Alguns fragmentos da homilia refletem a memória de Dom Alberto relativa a sua vida no exercício da missão como Arcebispo de Belém. “Há quinze anos, nesta Catedral da Sé, trouxe algumas palavras de São João Damasceno, que hoje repito com serenidade: “Tu me chamas, Senhor, para servir os teus discípulos. Não sei por que razão me escolheste; só tu sabes”, diz o pastor, em certo trecho.

Desde que chegou a Belém, Dom Alberto sempre evidencia com quanto zelo ele busca conduzir a missão que lhe foi confiada nesta Igreja particular, é recorrente também o Arcebispo falar do seu apreço pela cidade que o acolheu tão fraternalmente, sentimento externado para os fiéis, mais uma vez, na Missa: “Quero recordar com vocês o que me propus a viver nesta Igreja, respigando pontos de minha primeira homilia, e sugerir-lhes respeitosamente indicações para o futuro”.

A alegria de Dom Alberto à frente da Igreja de Belém permeou toda a sua homilia, porém, após a Missa do Crisma, a Arquidiocese vem a público fazer um esclarecimento, pois “houve um equívoco por parte de alguns meios de comunicação ao divulgarem que, durante a homilia, Dom Alberto teria lido sua carta de renúncia. Trata-se de uma informação incorreta, publicada sem a devida apuração”, lê-se na nota.

A Arquidiocese segue esclarecendo que, “na verdade, como é de costume em celebrações Solenes, a homilia do Arcebispo foi lida, pois é divulgada, integralmente, aos meios de comunicação, como podem acessar a seguir”.

A nota esclarece também que “carta de renúncia, conforme estabelece o Direito Canônico, é um documento pessoal e reservado, que será entregue diretamente ao Santo Padre”.

A nota ressalta ainda a importância da verificação dos fatos, antecipadamente, para a posterior divulgação. “A Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Belém, em consonância com a autoridade de seu Arcebispo, reforça a importância da verificação dos fatos antes da veiculação de qualquer informação relacionada à Igreja Católica. Ainda assim, reitera sua total disposição para prestar esclarecimentos e atender aos veículos de Imprensa que busquem informações com responsabilidade e respeito à verdade”.

A seguir, publicamos a homilia, na íntegra:

Veja a Homilia na íntegra:

Há quinze anos, nesta Catedral da Sé, trouxe algumas palavras de São João Damasceno, que hoje repito com serenidade: “Tu me chamas, Senhor, para servir os teus discípulos. Não sei por que razão me escolheste; só tu sabes. Torna, Senhor, mais leve o peso de meus pecados. Purifica minha inteligência e meu coração. Sê para mim como uma lâmpada luminosa que me conduz pelo caminho reto. Dá-me palavra fácil e concede-me uma linguagem clara e fluente, mediante a língua de fogo de teu Espírito, a fim de que tua presença sempre me assista. Sê meu pastor, e apascenta comigo, Senhor, para que meu coração não se incline nem para a direita nem para a esquerda; que o teu Espírito bom me conduza pelo caminho reto e as minhas obras se realizem segundo tua vontade, até à última delas” [1].

Naquela ocasião, propus que peregrinássemos juntos, acompanhados por Maria, Mãe e Mestra. De fato “felizes os quem em vós têm sua força, e se decidem a partir quais peregrinos! Quando passam pelo vale da aridez, o transformam numa fonte borbulhante, pois a chuva o vestirá com suas bênçãos. Caminharão com um ardor sempre crescente e hão de ver o Deus dos deuses em Sião” [2]. Tem sido uma verdadeira peregrinação, e estamos num ano jubilar de peregrinos de esperança. Quero recordar com vocês o que me propus a viver nesta Igreja, respigando pontos de minha primeira homilia, e sugerir-lhes respeitosamente indicações para o futuro.

É com a Virgem Maria e debaixo de seu manto que aqui iniciei meu Ministério. Vim para dar minha vida, para ficar com cada um de vocês e aqui permanecerei. Fui enviado para que em plena fidelidade a Cristo, à sua Igreja e ao Papa, esta Igreja que vive em Belém, pastores e fieis, continue a ser obediente ao mandato de Jesus Cristo: “fazei isto em memória de mim”. Vim para que o amor, fruto da verdade crucificada, faça ressuscitar todos nós da morte do nosso pecado, de nossas misérias pessoais e sociais, de nossas injustiças e maldades. Minha disposição continua a mesma: desapegado e esvaziado de mim mesmo, para que a vida nova do Filho de Deus feito homem, dada ao mundo pelo seu sacrifício pascal, continue sendo validamente celebrada e eficazmente comunicada na Eucaristia e nos demais sacramentos nas Paróquias e Comunidades de nossa Arquidiocese de Belém.

Que lugar e que missão Deus confiou à Igreja de Belém? O que pudemos realizar nestes anos? A Igreja de Cristo está aqui presente. Somos o novo Povo chamado por Deus, no Espírito Santo. Aqui se congregam os fiéis pela pregação do Evangelho de Cristo e se celebra o mistério da Ceia do Senhor. Quando participamos do altar da Eucaristia, manifesta-se o sinal do amor e da unidade do Corpo místico. [3] A Igreja nasceu na morte de Cristo na Cruz. Pela morte de Cristo, nasce a Igreja, diz Santo Agostinho [4]. Jesus é o divino grão de trigo que “cai na terra e morre”, e exatamente por isso, “produz muito fruto” [5]. “Cristo semeou um corpo particular e ressuscita Corpo místico, ressuscita Igreja” [6].

Bento XVI nos ensinou na Encíclica Deus Caritas est, citando Santo Agostinho: “Se vês a caridade, vês a Trindade”. Fixamos o nosso olhar naquele que foi transpassado [7], reconhecendo o desígnio do Pai que [8] enviou o Filho unigênito ao mundo para redimir a humanidade. Quando morreu na cruz, Jesus “entregou o Espírito” [9], prelúdio daquele dom do Espírito Santo que Ele havia de realizar depois da ressurreição [10]. Deste modo, se realizaria a promessa dos “rios de água viva” que, graças à efusão do Espírito, haviam de emanar do coração dos que crerem [11]. De fato, o Espírito é aquela força interior que harmoniza seus corações com o coração de Cristo e os leva a amar os irmãos como Ele os amou, quando se inclinou para lavar os pés dos discípulos[12] e quando deu a sua vida por todos. [13]

Desde os primeiros tempos, a Igreja tem os olhos fixos em Jesus crucificado. Sangue e água que escorrem do lado aberto simbolizam os sacramentos do Batismo e da Eucaristia de onde nasce o novo Povo. E Maria aos pés da cruz é o modelo realizado da Igreja, a nova Eva nascida do lado de Cristo, novo Adão [14]. Do alto da Cruz, Jesus sopra seu Espírito sobre Maria e João, que representam a Igreja [15].

Jesus nos doa o Espírito que o liga em profunda comunhão pessoal com o Pai. Na Cruz e no Abandono, Jesus tirou de si o amor e o doou aos homens fazendo-os filhos de Deus.  Jesus fez-se nada; doou tudo e este tudo não foi perdido, porque se transferiu para a alma dos homens. O seu grito representa as dores de um parto divino dos homens como filhos de Deus [16]. Ali a Igreja tem início, porque ele deu de presente o Espírito Santo, que depois descerá sobre os Apóstolos reunidos com Maria, no Cenáculo. No Pentecostes, a jovem Igreja, repleta do Espírito Santo, sai para a vida pública e inicia a sua corrida para fazer de todos “um”. “Aquilo que Babel dispersou a Igreja recolhe”, diz Santo Agostinho. “Muitas línguas tornam-se uma: não te maravilhes disto: isto é obra do amor” [17].

Esta é a Igreja: muitos homens e mulheres que, graças à participação na morte e ressurreição de Jesus, tornaram-se um só homem novo, uma só pessoa em Cristo[18]. Jesus que se oferece na cruz, está na origem daquela “nova comunidade de amor”, que une entre si próximos e distantes, pessoas de condições sociais e nacionalidades diversas[19] , para fazer deles “um só coração e uma só alma”.

No Pentecostes, começou para os primeiros cristãos o anúncio da Boa Nova do Evangelho: Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo há de voltar! É o anúncio do Querigma, que perpassa toda a formação do discípulo missionário [20]. O anúncio de Jesus crucificado e ressuscitado é a síntese do Evangelho que os Apóstolos levam a todos os povos. A fração do pão eucarístico, no qual se torna presente a oferta do Corpo e do Sangue de Jesus na Cruz, é o coração da comunidade cristã. Logo a seguir, os primeiros discípulos partilham o destino de seu Senhor crucificado, derramando o próprio sangue por ele e com ele. E, exatamente, assim o cristianismo se difunde: “o sangue dos Mártires é semente de Cristãos”, diz o antigo provérbio cristão. E nestes anos construímos juntos esta nossa Igreja, com sangue, suor e lágrimas, com dores de todos os tipos, lançadas no cálice abençoado da Eucaristia.

Mas de que modo a vida que Jesus nos deu no mistério de sua Cruz se realiza em nós? Sozinhos não somos capazes. Para que assim possamos viver, Ele nos conduz a cada dia a três fontes de graça: a comunhão com Jesus em sua Palavra, a comunhão na Eucaristia e a comunhão com os irmãos. Sim, a Igreja é Comunhão!

Assim eram as primeiras Comunidades cristãs: assíduos no ensinamento dos Apóstolos – Comunhão com a Palavra, na união fraterna – [21] Comunhão com os irmãos – e na Fração do pão, Comunhão Eucarística. Estas três comunhões se refletem também na assembleia dominical dos primeiros séculos: à leitura e ao aprofundamento da Palavra se seguia a celebração da Eucaristia que, depois, desembocava numa refeição fraterna, com a partilha daquilo que cada um tinha posto em comum. E temos buscado estas comunhões!

A Igreja busca o alimento da Palavra. Segundo a primeira carta aos Coríntios o Evangelho é “palavra da cruz” [22] que despreza toda glória humana e transmite o poder, a sabedoria e a santidade de Deus,[23] de modo que, para todo verdadeiro cristão, acolher o Evangelho não é outra coisa senão mergulhar na vida de Cristo crucificado: “Na verdade, eu não considerei saber outra coisa entre vós senão Cristo e Cristo crucificado” [24]. “Fui crucificado com Cristo e não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”  [25].

Os desafios à Evangelização têm sido enormes! É fácil desanimar e assustar-nos quando se tem a consciência de ser um “pequeno rebanho” diante de multidões incalculáveis às quais se deve levar a verdade do Evangelho. É fácil desanimar diante de pessoas cujos interesses nada têm a ver com o Reino de Deus. Parece uma missão impossível. No entanto, Jesus garante que, com a fé, podemos transportar as montanhas da indiferença, do desinteresse. Se eles tivermos fé, nada é impossível. É  a exortação de Jesus a não desanimarmos e a nos dirigirmos a Deus com muita confiança. É o que pedimos de novo nesta Missa da Unidade.

Se nossa força estiver na Cruz de Cristo, teremos toda a coragem e o entusiasmo necessários para proclamar a Palavra. “Nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. Deus é amor. E ele amou primeiro Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele. No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo, pois o medo implica castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do amor” [26]. O Senhor nos faz vencer o vão temor e nos concede o entusiasmo e a audácia dos santos! E digo que testemunhei nestes anos muita audácia e entusiasmo, que me infundiram os mesmos sentimentos!

Todas as Palavras do Evangelho sejam de novo reconhecidas por nossa Igreja como presença de Jesus morto e ressuscitado, que levam a conformar-nos com Ele, para não vivermos mais para nós, mas sejamos tudo para todos, para ganhar o maior número possível para Deus. Na Palavra da Cruz, nossa Igreja encontre de novo sentido e força para evangelizar.

Porém, Jesus quis fazer de nós uma só realidade com Ele, o seu Corpo que vive a sua vida e é sua presença no mundo. Como os grãos de trigo são moídos para se tornarem pão, ou como os grãos de uva são espremidos para se tornarem vinho, assim acontece conosco pela Eucaristia se correspondermos à graça que ela nos comunica. Nós nos tornamos uma coisa só com Jesus e entre nós, Corpo Místico de Cristo. “Pai, os que me deste estejam comigo onde eu estiver, a fim de que contemplem a minha glória, aquela que tu me deste”. [27] A Eucaristia é o dom do Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, dom que ele antecipou na última Ceia, mas que encontra seu pleno significado na oferta na Cruz. Na Eucaristia é Jesus crucificado, morto e ressuscitado que nos une a si e entre nós, rompendo a barreira do individualismo, que nos separa dos outros, fazendo de nós o seu Corpo, Igreja, “o Cristo Total”, no dizer de Santo Agostinho.

Mas este dom há de ser acolhido e vivido de novo hoje. O amor de Cristo comunicado pela Eucaristia se torna nossa vida, nosso modo de ser comunhão para os outros. Quem comunga aceite ser Eucaristia para o mundo, pão partido, entrega de amor para o bem dos outros. “O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo”.[28] Com o Documento de Aparecida, estou convencido de que “só da Eucaristia brotará a civilização do amor que transformará a América Latina e o Caribe para que, além de ser o Continente da esperança, seja também o Continente do amor” [29] e que “cada grande reforma na Igreja está vinculada à redescoberta da fé na Eucaristia”. [30]

Na Santa Missa, celebrada e bem vivida em todos os recantos de nossa Arquidiocese, está o centro de irradiação da vida da Igreja. Os sacerdotes, cujo compromisso será dentro de pouco renovado, na Eucaristia diária encontrem a fonte de seu ministério. Cada Sacrário seja como um foco de incêndio, destinado a espalhar o fogo do Amor de Cristo!

Nosso modelo de vida, para construir uma nova sociedade, está no alto, na comunhão de vida da Santíssima Trindade. “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, sejam também eles uma só coisa em nós” [31]. No início da Igreja, “a multidão dos que tinham aderido à fé tinha um só coração e uma só alma e que ninguém considerava próprio o que possuía” [32]. Ser “Igreja” significa ser como uma só pessoa em Cristo [33], ser o seu corpo que o torna presente e visível, o que exige a unidade que é comunhão, partilha dos bens, [34] comunhão de pensamento e de sentimentos.

Mas nas Comunidades fundadas por São Paulo havia também grandes divisões. Ele não se cansa de mostrar Jesus crucificado como modelo decisivo da comunidade de Igreja. “Tende entre vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” e fala do despojamento radical com que Jesus não se apegou à sua igualdade com Deus e por nós assumiu a morte de cruz [35]. Também em nossa Igreja a Comunhão tem sido sempre tarefa e desafio. O amor infinito do Cristo crucificado e ressuscitado seja sempre a “lei” com a qual queremos pautar todos os relacionamentos na Igreja de Belém, para manter a graça da unidade: “Cada um de vós, com toda a humildade, considere os outros superiores a si mesmo” (Fl 2,3). Tem sido um grande desafio para nós!

Sejamos a resposta de amor à falta de amor existente em nosso mundo. Se assim o fizermos, o grito de Cristo na Cruz, que ressoa em todos os graves problemas sociais que nos cercam, encontrará resposta ao seu dom de amor. Ele se manifesta no meio de nós, na sua Igreja, como Ressuscitado. Uma Igreja assim atesta com todo o seu ser que a vida da Santíssima Trindade que Jesus trouxe à terra é verdadeira. Como no dia de Pentecostes quando, vendo a primeira comunidade cristã, apenas nascida do Espírito do Ressuscitado, os que não acreditavam “sentiram transpassar o próprio coração” [36].

Com os padres busquei nestes anos trabalhar para sermos sejamos juntos construtores de unidade, num único presbitério, na ajuda mútua, na correção fraterna, no estímulo da caridade. Talvez muitos tenham sentido certo exagero na quantidade de reuniões, com as quais experimentamos o tão desejado estilo sinodal! Mas nosso serviço é o da comunhão! Quanto mais obedientes a Cristo, maior a nossa liberdade e eficácia no trabalho pastoral. Não tenhamos medo de nos deixar esvaziar pela obediência: seremos mais dóceis à vontade do Pai. Escutemos sempre Nossa Senhora: “fazei tudo o que vos disser”, para chegarmos à liberdade do “faça-se em mim segundo tua palavra”.

Ao lado da comunhão, existe a Missão. O novo povo de Deus é para toda a humanidade semente de unidade, de salvação e de esperança [37] e, como tal, “sente-se solidário com o gênero humano e com sua história” [38]. Como Cristo realizou a sua obra de redenção através da pobreza e das perseguições, do mesmo modo a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho para comunicar os frutos da salvação. Jesus Cristo, sendo de condição divina despojou-se a si mesmo, assumindo a natureza de servo [39] e por nós “de rico que ele era se fez pobre” [40]. Assim há de ser sempre a Igreja de Belém. [41]

Aqui está a alma da missão. Em Cristo crucificado, Deus veio morar entre os pecadores, participando plenamente de sua vida, menos no pecado, e derramou o Espírito sobre a inteira humanidade. Trata-se da solidariedade com todas as situações humanas: “Com os fracos me fiz fraco, para ganhar os fracos. Eu me fiz tudo para todos, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para dele me tornar participante” [42]. Esta é a nossa missão. É hora de assumir de novo, com amor, toda a miséria do mundo, para mergulhá-la e redimi-la na Misericórdia de Deus. A cada erro feito pelo irmão, peçamos perdão ao Pai como se fosse de cada um de nós, porque temos uma “alma Igreja”.

Com Jesus crucificado e ressuscitado, queremos ir ao encontro da humanidade, especialmente onde mais se vive na escuridão, na angústia, no afastamento de Deus. E o que encontraremos? Graças ao abandono de Jesus, em tudo isto que se manifesta como dor e separação de Deus, não se encontra apenas o vazio e o pecado, mas o próprio Cristo que, como afirma o Concílio, “se uniu, a todo ser humano”. “Cordeiro inocente, com o seu sangue livremente derramado ele mereceu para nós a vida, e nele Deus nos reconciliou consigo mesmo e entre nós. E isto não vale apenas para os cristãos. Na verdade, Cristo deu a vida por todos” [43]. Ninguém seja excluído de nosso amor. Em todos os ambientes a Igreja encontra Jesus Cristo e, amando-o exatamente naquilo que é mais difícil, é chamada a propagar a comunhão. Não haja entre nós limites para o amor ao próximo!

Renovamos a disposição para acolher um apelo feito em Aparecida, quando se diz que “a Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias. Ela não pode fechar-se àqueles que trazem confusão, perigos e ameaças ou àqueles que pretendem cobrir a variedade e complexidade das situações com ideologias ou agressões irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários” [44]. Tal propósito exige de nós uma disposição para o diálogo: diálogo entre as pessoas dentro da Igreja, diálogo com os outros cristãos, diálogo com as pessoas de convicções diferentes [45]. Podemos contribuir para que floresça o que Deus semeou em todo coração humano e em toda cultura.

Irmãos e irmãs, Deus nos ofereceu a Virgem Maria como companheira na peregrinação hoje realizada pelos caminhos da Igreja Mistério, Comunhão e Missão. Unido a Santa Maria de Belém, Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora da Graça, tenho vivido meu ministério episcopal em Belém, encontrando na obediência à vontade de Deus a minha liberdade, para que, na Eucaristia, toda minha vida fosse consumida e entregue, para que todos nós, sejamos fiéis a Nosso Senhor Jesus Cristo e levemos a todos a esperança certa de sua Vida Nova e Eterna. Continuemos unidos e fiéis a Cristo!

[1] Cf. Exposição sobre a Fé, de São João Damasceno, presbítero Cap. 1: PG 95, 417-419.
[2] Sl 83, 6-8
[3] Cf. LG 26
[4] “Moriente Christo, Ecclesia facta est – pela morte de Cristo a Igreja nasce” (Enarr: in Ps. 127,11).
[5] Cf. Jo 12,24
[6] Pasquale Foresi, Teologia della socialità, Roma 1965, p. 89; cf. Durwell, A ressurreição de Jesus, Lyon 1961, p. 220.
[7] Cf. Jo 19, 37; Zc 12, 10
[8] Cf. Jo 3, 16
[9] Cf. Jo 19, 30
[10] Cf. Jo 20, 22
[11] Cf. Jo 7, 38-39
[12] Cf. Jo 13, 1-13
[13] Cf. “Deus caritas est”, Carta Encíclica de Bento XVI, n. 19.
[14] Cf. a maravilhosa síntese no Catecismo da Igreja Católica 766.
[15] Eu creio no Espírito Santo, I Paris 1979, p. 79. Cf. também as citações apresentadas in: Chiara Lubich A unidade e Jesus abandonado, Roma, 1984, pp. 86-87.
[16] Para a imagem das dores do parto, que no Novo Testamento ocorre em Jo 16,21, cf. Chiara Lubich, O grito, p. 47 (Editora Cidade Nova) e o trecho de H. U. Von Balthasar ali citado.
[17] Sermones, 271; PL 38-39, 1245.
[18] Cf. Gl 3,28
[19] Cf. Gl. 3,28; Cl 3,11
[20] DA 278
[21] Cf. At 2,42-47
[22] Cf. 1 Cor 1,18-31
[23] Cf. De modo semelhante, também nos Atos, o conteúdo da Palavra é essencialmente o anúncio de Jesus crucificado e ressuscitado; e o efeito deste anúncio é que aqueles que o acolhem, sentem transpassar o próprio coração (cf. At 2,37).
[24] 1 Cor 2,2
[25] Gl 2,20
[26] Cf. 1 Jo 4, 16-18
[27] Jo 17,24
[28] Jo 6, 51
[29] DA 128
[30] DA 252
[31] Jo 17,21
[32] At 4,32
[33] Cf. Gl 3,28
[34] Cf. 2 Cor 8-9
[35] Fl 2,5-8
[36] Quando ouviram isso, ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Irmãos, que devemos fazer?” (At 2,37).
[37] Cf. LG 9
[38] GS 1
[39] Fl 2,6-7
[40] 2 Cor 8, 9
[41] Cf. LG 8
[42] 1 Cor 9,22-23
[43] GS 22
[44] Cf. DA 11
[45] Cf. LG 13-16

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém, Arquidiocese de Belém

Veja aqui a celebração completa

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