Por Dom Alberto Taveira Corrêa

A Igreja nos põe diante da dos olhos e do coração a magnífica cena da Multiplicação dos Pães e dos Peixes, narrada com detalhes pelos quatro Evangelistas, o que mostra a importância que tal fato adquiriu na vida dos primeiros cristãos. No décimo sétimo Domingo do Tempo Comum, estamos com a narrativa de São João (Jo 6,1-15), que chama os milagres com título muito expressivo: são sete sinais, assim chamados por causa de seu valor profético, e que colocam os que os veem diante da decisão de crer ou não crer (cf. Jo 1,19 – 12,50)!

Vejamos o que diz o Evangelho, introduzindo-nos no milagre: “Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, ou seja, de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, vendo os sinais que ele fazia a favor dos doentes. Jesus subiu a montanha e sentou-se lá com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus” (Jo 6,1-4).

Acontece uma manifestação do poder de Jesus realizar milagres e ao mesmo tempo a responsabilidade confiada aos seus discípulos, da primeira hora e de todos os tempos. Ele quer que toda a multidão seja alimentada, recolhe o pouco que havia à disposição, cinco pães de cevada e dois peixes, apenas uma merenda, trazida por um menino! Multiplicado o pouco que foi partilhado, a multidão se saciou, “tanto quanto queriam”! E recolheram doze cestos com os pães que sobraram! E aqui proponho a nossa entrada em cena!

Sobraram doze cestos para o novo Israel de Deus, novas doze tribos que nasceram e se multiplicaram em torno de doze escolhidos por Jesus. Quer dizer que sobrou para nós! No plano de Deus, ninguém é destinado à exclusão do amor infinito que é Jesus e que ele manifesta. Não dá para ser cristãos de verdade e acomodar-nos diante da fome, da carência, a miséria e a marginalização de quem quer que seja. Mas Jesus realiza sinais que indicam sua “receita” para multiplicar! A própria escolha de seus apóstolos foi um modo generoso de olhar para todo lado e escolher quem parecida pequeno, limitado ou pecador, incluindo-os no grupo daqueles que viriam a ser colunas da Igreja! Pequenos que crescem com a graça de Deus. Com a força do Espírito a ser derramado, fariam maravilhas!

Jesus multiplica a cura para os doentes, acolhe e reintegra leprosos, supera a convicção corrente de que uma cegueira fosse um castigo ao doente ou à sua família, vai ao encontro da viúva de Naim ou à casa de Jairo, e um menino e uma menina voltam à vida! O derradeiro sinal profético, antes de sua paixão, foi o milagre a nova vida dada  a seu amigo Lázaro, num evento que reunia um misto de amizade, profissão de fé das irmãs do falecido e vitória sobre a morte. Até tocar em sua roupa significa espalhar generosamente suas manifestações de amor. Pecadores, publicanos, prostitutas, uma mulher adúltera, ninguém fica excluído de seu amor, e quanto mais o distribui, mais cresce e se multiplica.

Quando institui a Eucaristia, pensa em todos, oferecendo, pelo ministério daqueles que são ordenados e pela celebração do Mistério com a Comunidade Cristã, a abundância de seus bens mais preciosos, sua própria presença, dada como alimento: “Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: Na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em minha memória’” (1 Cor 11,23-24).

As consequências em nossa vida concreta também se multiplicam! Comecemos por aceitar o convite à multiplicação da presença do Senhor, que está conosco na Eucaristia, até o fim dos tempos. A mesa está pronta, preparemo-nos bem para comer o Pão da Vida, que nos sustenta para a vida eterna, aqui e depois de nossa Páscoa Pessoal. Sejamos como os servos de uma Parábola, a sair pelas ruas e praças, com o testemunho e a palavra,  homens e mulheres transformados pela Eucaristia, na multiplicação de  sorrisos, acolhida e convites, a fim de que todos tenham um dia assento à mesa do Senhor.

Multiplicação de pães fala de alimento e de sustento! Se nos deixa indignados a falta de pão para todos e as injustiças sociais que estão por trás das misérias existentes, multiplique-se nossa sensibilidade e responsabilidade social. Nas primeiras comunidades cristãs, o apelo à participação e solidariedade já se manifestava, quando as comunidades da Judeia passaram necessidades: “Os discípulos decidiram, cada um segundo suas possibilidades, mandar uma ajuda para os irmãos que viviam na Judéia. Assim foi feito. E enviaram a ajuda aos anciãos, por meio de Barnabé e Saulo” (At 11,29-30).

Cada cristão, homem ou mulher, recolha os cinco pães e dois peixes, que podem ter nome de roupa, alimento, ajuda material, apoio, envolvimento em projetos sociais e caritativos, e ponha à disposição daquele que multiplica tudo o que generosamente é ofertado. Já pensamos em rever nossas gavetas e armários, onde guardamos o que pensamos ser útil e só serve para acumular coisas? Vale ainda o desafio, de que todos nós cristãos assumamos um compromisso, em primeira pessoa, de alguma iniciativa de caridade e serviço, de acordo com o que o Espírito Santo inspirar.

E quem pensa não ter nada, aceite o convite de ir aos Atos dos Apóstolos, quando um paralítico pediu ajuda: “Pedro disse: ‘Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!’ E tomando-o pela mão direita, Pedro o levantou. Na mesma hora, os pés e os tornozelos do homem ficaram firmes, ele saltou, ficou de pé e começou a andar’” (At 3,6-7). Os dons que cada um recebeu sejam postos à disposição, e Jesus os multiplica, ele faz o milagre. Nada se perde do que cada um tem e oferece para servir. Tudo vale, porque Deus quer envolver, salvar e dar a vida plena para todos, aqui nesta terra e na eternidade.

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