Por Dom Alberto Taveira Corrêa
Estamos chegando ao final do ano civil, que se conclui no último dia do mês de dezembro. Para a Igreja, o ano litúrgico começa no primeiro Domingo do Advento e se encerra com a Solenidade de Cristo Rei, que celebramos neste final de semana, desdobrando-se nos dias que se seguem, para abrir a temporada da Esperança, característica do Tempo do Advento. Tudo isso reforça nossa expectativa da abertura solene do Jubileu de 2025, no dia vinte e nove de dezembro, em todas as Catedrais do mundo, com o tema proposto pelo Papa Francisco, “Peregrinos da Esperança”, que vai iluminar toda a nossa vida cristã durante os próximos meses. E em todo o ano novo, serão muitas as peregrinações à Catedral e aos oito Santuários Arquidiocesanos de nossa Igreja de Belém, aos quais acorrerão em peregrinação os fiéis, com a disposição renovada para serem sinais de esperança para o mundo.
Não é novidade afirmar e reconhecer que estamos vivendo a chamada “mudança de época”, com verdadeira revolução nos princípios que deveriam alicerçar as decisões de pessoas, grupos e nações. As famílias experimentam a dificuldade para comunicar às novas gerações os valores que todos reconheciam como sólidos, tanto do ponto de vista ético e moral quanto à dimensão religiosa. Olhamos para o mundo e muitas pessoas até afirmam estar próximo fim do mesmo mundo, tamanhas as transformações e desafios que se apresentam.
Tal realidade pode e deve provocar uma sadia e honesta revisão de nossa vida, conduzindo-nos ao apego corajoso àquilo que é essencial, e a nossa fé oferece os elementos necessários. O conteúdo de nossa profissão de fé é sempre o mesmo, mas a forma de apresentá-lo pode e deve buscar caminhos novos, uma linguagem adequada e a coragem para aproximar-nos das pessoas e situações que chegam a causar medo!
Jesus é verdadeiramente Deus e Homem, e veio a este mundo, nas circunstâncias encontradas à época em que se fez igual a nós em tudo, exceto no pecado. Convocou discípulos vindos de um ambiente desafiador, com expectativas messiânicas cultivadas ao longo de séculos, muitas delas decepcionadas com seu jeito de ser, que veio realizar a figura do Servo, aquele mesmo Servo sofredor anunciado nas profecias. Os machucados existentes na vida das pessoas foram por ele tocados, sem rejeitar nenhum deles. O Senhor veio ao encontro de todas as situações, passando pelo mundo como aquele que faz bem todas as coisas, sem que ninguém se sentisse alheio à sua presença e seu amor corajoso e mais desafiador do que os problemas existentes. E como Jesus continua presente, pois não abandonou seus discípulos e sua Igreja, ele mesmo oferece os instrumentos para fermentar, em qualquer tempo, a realidade que o apaixonava e perpassou toda a sua pregação e seus gestos, o Reino de Deus! Ao celebrá-lo como Rei do Universo, Solenidade instituída para toda a Igreja nos primeiros anos do século XX, quando os primeiros sinais de uma mudança profunda se faziam presentes, nós desejamos proclamar o valor de seu Reino e comprometer-nos com ele!
Pode existir no coração de muitos cristãos e pessoas de boa vontade o desejo de um retorno a um clima de cristandade, no qual a palavra da Igreja e a prática da vida cristã influenciava todas as realidades humanas. Sabemos que em nosso modo de espalhar o Reino de Deus hoje há de se redescobrir a pequenez da semente de mostarda, a força do fermento no meio da massa, a humildade do sal que se perde para dar sabor à vida e a intensidade da luz, não desejosa de ofuscar, mas pronta a iluminar e realçar o bem existente nas pessoas e em todas as realidades humanas.
Ninguém pretenda aguardar um acontecimento cósmico e espetacular para espalhar o Reino de Deus. Decida-se antes a começar agora, imediatamente. Olhe ao seu redor e descubra os valores que o caracterizam, a verdade e a vida, a justiça, a santidade, o amor e a paz. Aceite estimular, em quem quer que seja, tais valores e atitudes, e no pequeno que possa parecer, estaremos todos contribuindo para o crescimento do Reino de Deus.
Outro passo há de ser nosso compromisso com a Igreja, realidade visível do Reino de Deus, malgrado nossas limitações e pecados. É da grande Santa Catarina a proposta de uma “paixão pela Igreja”, o que esta grande figura experimentou em tempos muito difíceis, questionando e apontando erros de personalidades de Igreja, mas tudo feito com um amor de dimensões impensáveis, nascidas de seu mergulho na vida da Santíssima Trindade e em seu amor pelo Sangue de Cristo, derramado pela salvação do mundo. Paixão pela salvação das pessoas, coração repleto de compaixão, pois lavado na misericórdia de Deus!
O amor à Igreja nos conduzirá à fidelidade aos pastores que a Providência Divina nos oferece a cada tempo, especialmente o amor ao Papa e aos Bispos, homens como todos os outros, mas revestidos de uma graça especial, que tem conservado a Igreja unida desde seus primórdios, preservada do ensino do erro e da mentira. Desejar um caminho “solo”, da parte de pessoas ou grupos, é destinar-se ao fracasso e à multiplicação de divisões, entrando justamente no jogo do maligno, aquele que separa e divide!
Tudo isso encontrará cotidianamente os cristãos que suplicam “Venha a nós o vosso Reino!” São milhares de corações, silenciosos ou em alta voz que, no mínimo três vezes por dia fazem este pedido. E se acrescentarmos as orações do Rosário, multiplicaremos esta súplica! Um dos frutos será a percepção de que Deus não fica dormindo, mas trabalha sempre. Infelizes seremos se não descobrirmos os sinais do Reino de Deus, a fé professada, a caridade vivida por pessoas de todas as classes sociais, o amor ao mais pobres e sofridos, a instituições de Igreja, as muitas iniciativas pastorais e o bem que acontece, bem ali, em nossa vizinhança, em nossa Paróquia ou Comunidade, os gestos de amor realizados por pessoas muitas vezes distantes da vida de Igreja, mas capazes de amar, corações que acolheram as sementes do bem e do Reino de Deus plantadas pelo Espírito Santo! Venha a nós o vosso Reino!