Outubro começou com um tempo diferente. Normalmente, nesta época do ano, há uma prévia do “inverno”, uma espécie de benefício celeste para aplacar o calor, a secura, dar nova cor à grama e fazer as mangueiras se encherem de frutos, mas não me lembro de haver chovido tanto, como na saída da Trasladação de 2017.
Tenho memória de uma chuvinha, um chuvisco, uma neblina, ou na saída ou pelo meio do trajeto, mas aquele pé d´agua foi novidade. Como todos os anos, eu estava ao lado da berlinda, quando o céu desabou. Na saída de casa, percebi nuvens escuras sobre São Brás e Nazaré, mas jamais acreditei que fosse chover tanto. O vento, invariavelmente, leva a chuva para longe, mas, este ano, não houve conversa. Um trovão forte anunciou o aguaceiro e, logo depois, quando os fiéis que chegaram cedo, entraram no pátio do Colégio Gentil, estavam recebendo a sagrada Comunhão, começou a chover.
Como muita gente sai de casa prevenida, havia, perto de mim, umas quatro senhoras com sombrinha, mas o povo queria mesmo era se molhar. Além do que, sombrinha empata a visão e logo um coro de “fecha a sombrinha” se formou. Eu, que estava protegido, fiquei encharcado. Molhado dos pés à cabeça. A romaria custou a sair e o coordenador da Diretoria, Beto Souza, – um homem extraordinário, a quem o Círio muito deve – ficou firme, diante da berlinda, aguardando a chuva diminuir para dar início à romaria. Quando a chuva estiou, a Peregrina assumiu seu lugar de Rainha e a Trasladação começou, mesmo debaixo de uma chuvinha fina.
Muita gente falava na chuva que lavava os pecados, na chuva de bênção, na chuva de Nossa Senhora. Para mim, foi uma chuva encantadora, que deixou o cenário ainda mais bonito. Meu medo era pegar uma gripe e não poder trabalhar no domingo. Mas quem, protegido de Nossa Senhora, corre algum risco? Estou bonzinho, pronto para outra chuva.
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