Tatuar o corpo parece ser um hábito que não apenas veio para ficar, como está se transformando em modalidade artística, tamanha é qualidade das peças produzidas pelos tatuadores. Algumas são verdadeiras telas criadas sobre a pele, sem, todavia, direito à assinatura. Tatua-se de tudo, mas as mais interessantes e inusitadas que já vi foram imagens de Nossa Senhora de Nazaré.
Na saída da procissão do traslado, ano passado, fotografei as costas de um rapaz, onde havia sido gravada, de alto a baixo, a imagem da Padroeira. O trabalho era tão cuidadoso, que incluía detalhes do manto. Imagino que tenha sido um processo longo e doloroso, cujo resultado o devoto só conseguia ver num espelho ou através de foto.
A outra tatuagem encontrei semana passada. Um rapaz gravou, na parte posterior da perna, uma composição Basílica, Nossa Senhora de Nazaré e duas cordas. Com a curiosidade de repórter que sou há 35 anos, perguntei o porquê daquela homenagem. Educado, contou que era mais do que uma homenagem. Tratava-se de um gesto de gratidão e que a dupla corda representava dois milagres recebidos – não disse graça ou cura, falou milagres. Isso é forte!
Essa incomum forma de demonstrar um tipo especial de devoção à Nossa Senhora parece estar dizendo, até o fim da vida, de uma fidelidade incondicional à mãe de Deus. Algumas pessoas colocam adesivos no carro com a imagem da Senhora. Outros, valem-se da tradição do painel de azulejos, deixam a memória de Maria por décadas nas paredes. Em Belém, milhares de pessoas pregam o cartaz do Círio em casa ou no trabalho. Há quem use pingentes em colares ou broches da Virgem de Nazaré. Mas tatuagens tão grandes e tão bonitas jamais havia visto.
Apesar do imenso amor que tenho pela Virgem Maria de Nazaré, não me vejo com uma tatuagem desse tipo. Tatuagem é uma questão de estilo e esse não é o meu.
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