O Congresso Eucarístico irá realizar-se de 10 a 13 de julho. O tema do evento remete ao mistério da Encarnação do Verbo que se faz Pão da Vida e se oferece por amor.
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,51).
O Congresso Eucarístico da Arquidiocese de Porto Velho – RO marca a caminhada desta Igreja centenária na Amazônia brasileira, ao longo do rio Madeira, com um território de exuberante cultura e biodiversidade. Confiada à Congregação dos Salesianos, a então Prelazia recebeu dos missionários Filhos de Dom Bosco as primeiras sementes de uma fé encarnada e comprometida. Por meio da evangelização, educação, promoção humana e defesa dos mais pobres, consolidou-se uma Igreja missionária, próxima aos povos originários, aos migrantes, aos ribeirinhos, aos operários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e aos trabalhadores da floresta. Hoje somos uma Igreja “em saída”, sustentada pela Eucaristia e movida pela força transformadora do Evangelho.
O tema “Do Céu para o Altar da Amazônia” ilumina o Congresso Eucarístico comemorativo do nosso centenário. O evento será realizado de 10 a 13 de julho de 2025, remetendo ao mistério da Encarnação do Verbo que se faz Pão da Vida e se oferece por amor. Na Eucaristia, Cristo se torna presença real, viva e transformadora. Ele desce do céu para estar em nossos altares, desejando alcançar os caminhos da Amazônia com suas dores, esperanças e a ternura do Reino. A Encarnação de Jesus assumiu a nossa história e humanidade. Por isso, a evangelização na Amazônia segue essa mesma lógica encarnada: levar Cristo, o pão vivo descido do céu, à vida dos povos através das suas culturas, lutas e alegrias. Evangelizar é tornar Cristo presente, multiplicar o pão da partilha e edificar comunidades de fé, solidárias e comprometidas.
A Eucaristia é o centro da missão. Dela brota o compromisso com os pobres, a defesa da vida, o cuidado com a Casa Comum e o anúncio da esperança. O altar da Catedral do Sagrado Coração de Jesus em Porto Velho, não por acaso, traz gravada em sua base a cena do lava-pés, narrada com profundidade no Evangelho de João 13,1-17. Esse gesto não é apenas simbólico ou cerimonial, mas a chave para a compreensão da Ceia do Senhor e da missão da Igreja. Jesus, “sabendo que o Pai tudo lhe dera nas mãos” (Jo 13,3), levanta-se da mesa, depõe o manto, toma a toalha e se ajoelha (Jo 13,4). O Mestre se faz servo. Aquele que é o Pão da Vida (Jo 6,51) é também o Servo por excelência (Is 52,13–53,12). O lava-pés antecede e interpreta o dom da Eucaristia. Jesus não apenas reparte o pão, mas reparte a si mesmo, pois “Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,15). Nesse gesto condensa-se todo o mistério pascal.
O lava-pés é uma catequese viva e encarnada sobre a Eucaristia. O altar e a bacia, o pão e a toalha formam um mesmo sacramento: o da entrega total por amor. A Eucaristia nos confirma a kenosis do Cristo que “se esvaziou a si mesmo, assumindo a condição de servo” (Fl 2,7), chamando-nos a “oferecer nossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Não há culto autêntico sem vida comprometida. A comunhão com Cristo nos impele à comunhão com os pequenos, à solidariedade com os que sofrem e à denúncia profética das estruturas de pecado.
No altar da Catedral do Sagrado Coração de Jesus está a vocação desta Igreja centenária: pronta para o lava-pés, com os pés descalços para a missão, abaixada para o serviço e com as mãos abertas para a partilha. Por isso, a vocação da Igreja no altar é o lava-pés. A Eucaristia não pode ser celebrada sem que a vida dos pobres esteja no centro da comunidade, pois “a oração e a adoração que não terminam no serviço concreto aos irmãos são falsidade” (EG 281). Celebrar a Ceia do Senhor é estar disposto a ajoelhar-se diante da humanidade ferida: lavar os pés das vítimas da exclusão, escutar os gritos da terra e do povo, consolar os que choram e repartir o pão com os que têm fome de dignidade.
A Eucaristia encarnada transforma a mesa litúrgica em mesa da vida, e a assembleia em povo peregrino e missionário. Alimentados pelo Pão do Céu, somos enviados aos confins da Amazônia, com as suas periferias reais e existenciais, para anunciar com gestos e palavras que o Reino de Deus está entre nós (Lc 17,21). Neste centenário, a nossa Igreja Particular de Porto Velho é chamada a renovar sua missão. Somos convidados a ser uma Igreja com rosto amazônico, da escuta, inculturada, pobre com os pobres e cuidadora da criação. Diante dos desafios da realidade urbana, dos clamores da Amazônia ferida, das juventudes inquietas e daqueles que ainda não conhecem Jesus, queremos seguir em missão permanente e fiéis ao Evangelho.
Guiados pelo Concílio Vaticano II e em comunhão com a Igreja universal, somos iluminados com o magistério deixado pelo Papa Francisco e na unidade proposta pelo Papa Leão XIII. E assim possamos, com humildade, superar o fantasma do clericalismo, que insiste em ressurgir com práticas contrárias ao Evangelho. É preocupante a pastoral que se esquece da Igreja do lava-pés, ferindo a sensibilidade dos pobres. Esses, em sua situação de vulnerabilidade, partilham generosamente de sua pobreza, por crerem que são parte do Povo de Deus.
Celebrar o centenário não é apenas recordar o passado, mas assumir com coragem os desafios do futuro. Que Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da Arquidiocese, interceda por nós, para que continuemos sendo uma Igreja viva, servidora, profética, do lava-pés, do altar, sinodal e sinal visível do Reino de Deus na Amazônia.
Fonte: Vatican News / Por Pe. Geraldo Siqueira de Almeida – coordenador de pastoral e do Congresso Eucarístico da Igreja de Porto Velho – RO