Durante nove dias — de 29 de novembro a 8 de dezembro — a Diocese de Santíssima Conceição do Araguaia foi envolvida por um clima de graça que parecia repousar sobre cada pessoa como um manto silencioso da Imaculada. Inspirados pelo tema “Mãe Imaculada, Sinal de Esperança na Vida do Povo de Deus”, fiéis de diversas comunidades dirigiram-se à Catedral para viver um dos momentos mais belos do calendário litúrgico: a Festa da Padroeira.
Ao longo da novena, a cada dia fiéis e devotos enchiam o templo, participando das Missas celebradas pela manhã e, à noite, da novena com celebração e Comunhão eucarística — momento em que a comunidade se reunia para rezar e meditar diante da Imaculada. Somente aos domingos havia também Missa à noite, intensificando ainda mais a vivência celebrativa do período. A presença constante do povo expressava a união da Diocese e o desejo comum de celebrar e honrar a Padroeira.
O dia 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição, reuniu filhos da terra, visitantes e devotos em uma programação marcada pela oração, tradição e comunhão fraterna. O Ofício da Imaculada, a Missa festiva pelos filhos de Conceição que vivem fora, o tradicional churrasco da padroeira e as atividades do dia reforçaram o caráter celebrativo desta ocasião tão aguardada.
Ao entardecer, a imagem de Nossa Senhora saiu em procissão pelas ruas, conduzindo o povo em orações, cânticos e profundo espírito de confiança. Neste ano, como um gesto especial e bonito de comunhão, padres, religiosas e todos os seminaristas também participaram da procissão, algo pouco comum e que marcou a celebração de maneira significativa.
Com a chegada da procissão à Catedral, onde a Santa Missa foi celebrada na praça, teve início a Missa Solene de encerramento, presidida por Dom Dominique You. A assembleia permaneceu atenta e em espírito de oração, preparando o coração para acolher a mensagem que o bispo dirigiria à comunidade.
A homilia de Dom Dominique You: O chamado que converte o coração humano
A homilia de Dom Dominique, profunda e vivida, marcou de maneira singular o encerramento da festividade. O bispo iniciou evocando o chamado de Deus no Gênesis: “Adão, onde estás?” — um grito antigo, mas sempre atual, que, segundo ele, brota “do coração ferido de Deus quando o ser humano se afasta do Seu amor”.
Dom Dominique recordou que Adão e Eva se esconderam, como se fosse possível ocultar-se de Deus. Esse clamor — explicou — continua atravessando a história e alcançando cada pessoa: “Esse chamado não ficou no amanhecer da humanidade; ele continua hoje. Deus ainda procura o coração humano.”
A partir desse ponto, o bispo conduziu a assembleia ao mistério da Anunciação. Deus, que chama o homem ferido pelo pecado, prepara um coração preservado e livre para responder com amor: o coração da Virgem Maria. Nela, afirmou o bispo, “a desobediência de Adão e Eva é substituída pela obediência perfeita, pela liberdade interior de quem deixa seu próprio projeto para assumir o projeto de Deus”.
A Imaculada, explicou, é a “terra boa” onde o Reino de Deus encontra abertura plena: “A graça transforma o coração seco em solo capaz de receber a semente. No coração de Maria, vemos a maravilha do Reino de Deus que a faz dizer: Eis-me aqui, Senhor.”
Em seguida, Dom Dominique estabeleceu uma ponte espiritual profunda entre a Anunciação e as aparições de Lourdes. Recordou a jovem Bernadette, pobre, humilhada e desprezada, chamada por Nossa Senhora na gruta dos porcos, onde trabalhava catando lenha com outras meninas.
A maneira como Maria se dirige a Bernadette — “A senhorita me faz um favor de vir aqui durante quinze dias?” — revelou, segundo o bispo, a humildade de Deus, que nunca se impõe, mas se oferece com delicadeza ao coração humano. Esse encontro transformou a menina marcada pelo sofrimento e lhe abriu “o mundo de Deus”, um mundo de respeito, proximidade, fraternidade, misericórdia e fidelidade.
Dom Dominique aprofundou: “Maria não vem expulsar o nosso mundo. Ela vem purificá-lo. Deus quer devolver à humanidade a sua beleza original, anterior ao pecado.”
O bispo então provocou a assembleia: Aceitamos nós essa visita do ‘mundo de Deus’ que vem purificar o nosso interior, nossos relacionamentos, projetos e feridas?
Chamou pais, mães, educadores, catequistas, consagradas e todo o povo a assumirem a missão de transmitir o Reino de Deus com a vida: “Vocação é deixar-se atrair por esse chamado que assusta, mas transforma. Quem encontra o mundo de Deus não pode ficar calado.”
Em um momento de grande beleza espiritual, Dom Dominique apresentou as quatro prioridades que Nossa Senhora ensinou a Bernadette — prioridades que iluminam hoje a vida da Igreja:
- Cultivar a vida interior
Silêncio, contemplação e intimidade com Deus, especialmente por meio da Eucaristia.
- Despertar misericórdia e compaixão
Compadecer-se dos pecadores, dos doentes e dos sofredores.
- Zelo pela missão
“Bernadette, tu não calarás.” Quem encontra Deus torna-se testemunha viva.
- Cultivar a liberdade interior
Liberdade que não busca proveito próprio, mas a vontade de Deus; liberdade que supera obstáculos pela força do Espírito Santo.
A homilia culminou com um apelo que tocou profundamente a assembleia: “Adão, onde estás? A resposta está no teu coração. Torna-te o que tu és. Nossa Mãezinha te acompanha todos os dias.”
A comunidade respondeu com emocionados aplausos a Deus e à Virgem Imaculada.
Agradecimentos, coroação e encerramento
Durante a celebração, por volta do momento da Comunhão, o vento começou a se intensificar, anunciando a chuva que se aproximava, o que fez com que a cerimônia avançasse de forma prudente. A chuva caiu logo em seguida, exigindo uma rápida adaptação da organização para que o restante da programação pudesse continuar dentro da catedral.
Como parte dos comunicados, foi feito um agradecimento especial ao Pe. Raimundo, que recebeu uma lembrança em reconhecimento ao seu serviço pastoral. Houve ainda uma breve palavra do sacerdote, seguida pela bênção final dada por Dom Dominique, que precisou concluí-la rapidamente em razão da chuva.
Apesar das condições climáticas, a coroação manteve seu caráter de fé e amor à Mãe Imaculada, realizada dentro da Catedral com grande devoção, zelo e organização.
O encerramento foi marcado por emoção e alegria, mesmo com as adaptações, selando a Festa da Padroeira 2025 como um tempo de profunda graça para toda a Diocese.
Texto: PASCOM Diocesana
Fotos: Paróquia Catedral Nossa Senhora da Conceição (PASCOM)















