Sal e Luz: A graça da paternidade


 
 
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Esta é a mais bela, precisa e maior referência da paternidade, a de Deus Pai, inspiração de tantas obras de arte, peças musicais e afago nos nossos corações, certeza que o mor é mesmo imortal e neste dom que tem em Deus Pai a meta do amor que chega até o coração humano ressoando a misericórdia, o perdão e a alegria própria dos que se sentem amados e por isso, amam com a força indestrutível capaz de gerar vida, de fecundidade, a paternidade é fonte de alegria e realização humana.
 
Ser pai é mesmo um desafio e uma permanente descoberta e reinvenção de si mesmo, um desalojar-se em direção a um outro, tão indefeso quanto capaz de mobilizar nosso mundo para acolhê-lo, paternidade evoca em nós, homens, a renúncia, a doação de si, do tempo, dos talentos, do cansaço e de tudo quilo que constrói e que cria, ser pai é uma bênção e uma bela missão que também se dá no sacerdócio, na fecundidade dos filhos dados por Deus que são acolhidos na Igreja por seu pastor, filhos amados e instruídos no caminho da graça e que testemunham dia a dia, seja na família, na comunidade, um amor de entrega e de dedicação que não vê obstáculos mas oportunidades para amar sempre mais, que não para diante da dificuldade mas extrai da dor, do suor e da exaustão, a força para colocar-se permanentemente a serviço.
 
Nos tempos em que vivemos, em pleno século XXI, ser pai é também ser alvo do inimigo das almas, aquele que odeia os filhos de Deus, que quer devorar os que dizem seu “sim” à procriação, à paternidade responsável, voluntária, decidida, fruto de um matrimônio que busca a santidade, no permanente diálogo de amor entre um homem e uma mulher, na realidade que “desde o princípio” foi querida e abençoada por Deus, que evolui do Eros ao Philia, no caminho capaz da meta agápica de uma fecundidade permanente, possível somente em Deus, sentido de nossas vidas.
 
Homem é aquele que se abre na confiança ao Senhor a este dom, seja na decisão da conjugalidade, abençoada pelo sacramento matrimonial ou na escolha da vida religiosa consagrada, dois únicos caminhos de resposta ao chamado vocacional à fecundidade e alvos dos imensos e contumazes atos de desestímulo a este dom. O mundo, em cuja adoração se prostra ao dinheiro, não nos quer fecundos, ele trabalha sob a ordem das raposas para produzir homens incapazes de viver esta realidade, efeminando-os ou os deixando fracos, covardes, medrosos, ambiciosos ou voltados apenas para si mesmos, narcisistas, individualistas e destruidores de valores, relativistas e fechados ao amor, tão diferentes da imagem sobre a qual fomos criados, tão distantes do Cristo de Deus, o novo Adão, cuja graça, sabedoria e sintonia com o Pai são indiscutivelmente a raiz de onde brota a água que jorra para a vida eterna (Jo 4, 14).
 
Próximos de vivenciar mais uma sagrada semana, desde a entrada do Senhor em Jerusalém até sua morte de cruz e a ressurreição que nos abriu o caminho para o céu naquele que é o próprio caminho para a eternidade, vida e verdade, o Espirito nos faz recordar deste amor que nos amou primeiro, perfeito, pleno, para que entendamos também os diversos sinais, pontuados ao longo da história de Israel de pais que nos deram o exemplo de seu “sim”, desde Noé, passando pelos patriarcas; Abraão, Isaac, Jacó, por tantos outros e chegando aquele cuja paternidade putativa é um imenso farol de confiança em Deus, de coragem e de docilidade ao Senhor, o glorioso e justo São José, modelo pra todos nós que ao lado da Virgem Maria, experimentou a cruz das perseguições e os silêncios em sua missão mas protegeu o Messias com inigualável destemor, próprio dos heróis, dos servos preciosos de Deus.
 
Há poucos dias um amigo tornou-se pai de uma menina e dedico a ele este artigo, lembrando-o por certo das dificuldade que virão e noites de sono, vigílias e angústias ofertadas pelo amor que nossos filhos recebem de nós, virão também momentos caros, memórias construídas no amor dos primeiros dias, dos meses e anos, da infância e da meninice própria de cada filho que recebe de nós um amor único como única é a personalidade de cada um e no caso dele, como o meu, do complexo mas apaixonante mundo feminino, permeado dos mistérios próprios do ser mulher que desde os primeiros tempos encantam e perfumam por onde passam. A coragem da paternidade em nossos difíceis dias é mesmo um confiar no Senhor, um olhar para Maria Santíssima que em permanente “sim” ao amor de Deus e como Mãe, nos estende a mão para buscar a santidade de nossas famílias que quando está a findar-se o vinho bom, o tem renovado por seu pedido a Jesus e volvendo pra nós seu olhar, repete como em uma cantiga singular que nos embala o coração…..”Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Que assim seja!

 

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