Sal e Luz: Colo de mãe


 
 
“Segura teu filho no colo, sorria e abrace seus pais enquanto estão aqui, que a vida é trem bala, parceiro, e a gente é só passageiro, prestes a partir” A bela música da paranaense Ana Vilela, leva-me a muitas reflexões e destas, fico com a do trecho acima que, de certa forma, traz à luz a imagem da alegria para uns e da saudade para muitos que viverão mais um dia dedicado às mães no próximo domingo. Como cita a canção, a vida, dom de Deus, generosamente oportuniza momentos para valorizar e dar graças ao Senhor pela vida dos que amamos, momentos para dizer aos nossos o quanto eles são importantes e todos os dias, manifestar a gratidão a essas mulheres que de forma decidida disseram seu “sim” à vida e, desde então, dedicam tempo e afeto, cuidando dos seus, harmonizando os ambientes, trazendo aquele toque sutil e jovial, típico do feminino que acolhe e gera vida. São oportunidades para pensar ainda no que vale a pena ofertar em termos de tempo e afeto. Sim, certamente, nossas respostas recairão no cuidado e na qualidade que precisamos cultivar em nossos relacionamentos, com Deus e para com as pessoas, toda esta gente que nos é tão cara e que jamais gostaríamos que partisse de perto de nós. Afinal, a experiência de amar e de sentir-se amado é algo maravilhoso, realizador. Outro jovem talento católico, Thiago Brado, em sua “Verdades do tempo”, reforça esta análise, alertando: “Ame mais, abrace mais, pois não sabemos quanto tempo ainda temos (…) vale a pena lembrar que a vida é curta demais”.
 
Para os que, como eu, tiveram a graça de conviver com sua mãe, o segundo domingo de maio é um dia de agradecer por este amor vivido em instantes de alegria e de aconchego. Lembro de sua voz cantarolando baixinho, ao embalar a rede, as cantigas que me faziam adormecer, com a certeza da segurança deste amor, sem preocupar-me em racionalizar ou explicar, apenas sentir esta presença de alegria e conforto e que em casa, aquecia o coração por sentir-se família. Lembro de suas palavras nos momentos difíceis, de seu humor desconcertante e de sua habilidade em fazer de um simples almoço algo que alimentava o corpo e também a alma, cardápio que reunia talento e carinho no preparo que nutria o ser de cada um de nossa casa modesta onde vivemos a esperança de cada dia.
 
Penso que demorei certo tempo para entender estas coisas e aí as músicas de Ana e Thiago me fazem despertar para viver mais e melhor as oportunidades que hoje existem para demonstrar e experimentar os momentos prazerosos na companhia dos que amo. Afinal, a vida,  “curta demais”, “trem bala”, não perdoa o perder tempo com mágoas e ressentimentos. É preciso virar a página a cada dissabor que acontece nos nossos relacionamentos. Há que se seguir adiante, posto que o amor “tudo suporta, tudo crê, tudo perdoa”, como diz o texto paulino e que o salmista nos adverte no Salmo 90, 10 “a vida passa depressa”, e ela é mesmo uma dinâmica que precisamos estar atentos para não perder a viagem e depois lamentar ter ficado nas estações do tempo onde somos apenas “passageiros prestes a partir”.
 
Neste domingo, vivamos a alegria de celebrar a vida de nossas mães e, em especial devoção, celebrar a Mãe de todos os viventes da nova criação, a Virgem Mãe de Deus e da Igreja em nossas famílias, aquela que primeiro acreditou no Filho de Deus, aquela que ao dizer seu “sim” abandonou-se na plena confiança nas palavras do anjo e se ofertou como sacrário vivo, ostensório de amor totalmente preenchido pela graça do Espírito Santo. Maria, a bem-aventurada que nos leva a perceber a substância, a identidade da mulher revelada no dom da maternidade. Ao receber a Salvação, a Sabedoria encarnada em seu ventre, foi ela quem a conduziu e gerou, alimentou e educou o filho querido, acompanhando-O de forma resignada até o altar da Cruz e como primeira cristã gera hoje os filhos da Igreja, dia a dia guiando-os para o encontro com o Senhor Ressuscitado.
 
Rainha dos Apóstolos, Arca da Nova e Eterna Aliança é Maria, que traz em si não mais a lei em tábuas de pedra, mas a lei do amor pleno, perfeito; não mais o maná, mas o Pão descido do Céu; não mais o cajado de Aarão, o primeiro sacerdote, mas o Sacerdote Eterno, o Sacerdote Verdadeiro. Maria, nela buscamos a referência de Virgem, Esposa e Mãe, nela se compreende o sentido eloquente de um silêncio fecundo, harmonizado com a vontade de Deus, mesmo diante da dor e das incertezas. Nela as três letras que resumem a maternidade são como estrelas a brilhar permanentemente como sinal de esperança.
 
Passados mais de vinte anos desde que minha mãe partiu, algo me conforta além da certeza de que Deus a acolheu em seu amor; sentir hoje o aconchego do amor materno de Maria na escravidão de amor a Jesus. “Só quem já foi órfão sabe o valor de um colo de mãe” e este colo de amor maternal, vivido na contingência do amor esponsal e filial que me aquece é precisamente pleno nos braços de Maria. Por isso, aprendo que não há tempo a perder, o amor tem de ser vivido na liberdade do afeto gratuito, pois a vida, como o trem que passa, segue sempre adiante. Feliz Dia das Mães! Acaso não sabeis? Eu sou da Imaculada! 
 

 

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