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Olá meu irmão e minha irmã. Sempre achei que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e obviamente os valores que nele estão presentes, são poderosamente católicos. Sinais dessa característica podem ser percebidos nas mais variadas dimensões da vida. No entanto precisamos treinar nossos olhares para percebermos esses sinais nas coisas mais prosaicas e realizar uma catequese eficiente.
Tenho muita admiração por Sherlock Holmes. Ele é, sem sombra de duvidas, o melhor e mais amado detetive de toda a literatura policial. Holmes foi criado pelo médico Artur Conan Doyle (1858-1930). As aventuras de Holmes e de seu inseparável amigo Dr. Watson, já foram retratadas de diversos modos. O mais recente é uma edição em estilo Mangá que reproduz uma serie produzida para TV.
No cinema, a mais recente adaptação de Sherlock Holmes foi encarnada pelo ator Robert Downey Jr. (o mesmo que representou o Homem de Ferro). Nesse filme, intitulado “Sherlock Holmes: o jogo das sombras”, o genial detetive enfrenta o igualmente genial professor James Moriarty. O vilão pretende deflagrar uma guerra mundial e lucrar vendendo armas.
Moriarty representa o mal. Ele é um intelectual rico, influente, ganancioso, que quer ter mais e mais. Para isso vai promover a discórdia que resultará na morte de milhões de pessoas. Para Moriarty a vida humana não significa nada. O que conta é o lucro. Prevalece em Moriarty o ter mais do que o ser. Ele promove no mundo um “vale de lagrimas”. Quanto mais lágrimas mais poder.
Voltando ao filme: Holmes e Moriarty se enfrentam num jogo de xadrez que representa o duelo que ambos vêm travando. Moriarty, ao perceber que seus planos foram frustrados, dirige-se a Holmes nestes termos: “O homem esconde no seu subconsciente o desejo insaciável pelo conflito. Então, não está lutando apenas contra mim, mas também contra a condição humana. Eu só quero ser o dono das balas e dos curativos”. Moriarty está se referindo à concupiscência que é a inclinação humana para o mal, o apetite que vai contra a razão humana (cf. CIC, 2515). Ele quer “apenas” se aproveitar dessa inclinação. Satânico, não é?
Mas é verdade que carregamos essa inadequação: queremos a paz, mas amamos a guerra. Diz a Igreja: “A inadequação entre o querer e o fazer indica o conflito entre a ‘lei da razão’ e a outra lei, ‘que acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros (Rm 7,23)” (CIC, 2542). Todos nós padecemos dessa assimetria: sabemos o certo, no entanto, muitas vezes não conseguimos realizá-lo. Até o gigante da fé, São Paulo, padeceu dessa inadequação: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7, 18-19).
Sherlock está longe de ser perfeito. É arrogante e algumas vezes egocêntrico. Porém, apesar de suas falhas e limitações, dedica-se a vencer o mal, a ajudar pessoas que nem conhece, sem esperar reconhecimento. Muitas vezes o mérito das resoluções dos casos vai para o Lestrade, medíocre inspetor de polícia. A Sherlock basta a satisfação de ter solucionado o caso. Mesmo em suas imperfeições, ele luta contra o mal, procurando fazer uso dos seus talentos, fazendo bem ao próximo. Holmes, ainda que não seja um exemplo de piedade, não poderia ser classificado como o servo inútil da parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30).
Mais do que o fictício detetive, os santos experimentaram isso em suas próprias vidas. Portanto, seja na ficção, seja na realidade, o que é bom sempre vem de Deus.
Sigamos em frente, procurando pensar com a Igreja, no serviço da Verdade. Fique com Nossa Senhora e São José.