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Olá meu irmão e minha irmã. Feliz e Santa Páscoa. Sim, chegamos à Páscoa depois de termos caminhado com o Senhor, em Seu Corpo Místico que é a Igreja durante todo o período quaresmal.
Em razão das celebrações desses dias os meios de comunicação não deixam de falar de Jesus, da Igreja. Filmes com a temática religiosa são apresentados, grupos teatrais encenam a “Paixão de Cristo”. Isso lembra que Jesus é, sem dúvida, o personagem histórico mais admirado do mundo. Praticamente todos querem segui-lo. Ainda mais glorioso, Ressuscitado. Mas Jesus foi exigente com aqueles que querem segui-lo: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24). Que fique claro: ninguém é obrigado a ser discípulo de Jesus, ninguém é obrigado a segui-lo. Ninguém vai para o Paraíso obrigado e, no final das contas, ninguém vai para o inferno forçado. Porém, se alguém (eu, você), desejar ser discípulo de Jesus precisa querer de verdade; esse querer deve realizar-se em renúncia de si, essa renúncia implica em abraçar a cruz. Assim, seguir a via do Ressuscitado é seguir o itinerário do Crucificado.
Ensina a Igreja: “Em benefício de todo homem, Jesus experimentou a morte (Hb2,9). Foi verdadeiramente o Filho de Deus feito homem que morreu e que foi sepultado” (CIC,629). Deus não teatralizou sua morte, se assim fosse, a Ressurreição seria uma ficção, a redenção uma simulação, uma trágica invenção. Teríamos, ao contrario, a certeza absoluta de nossa perdição. Jesus experimentou todos os estágios da perdição humana e ao fazer essa experiência ele nos salva. Foi o que nos ensinou o Cardeal Ratzinger em uma meditação da Via Sacra em 2005: “O Senhor experimentou todos os estágios e degraus da perdição humana, e em cada um desses degraus é, com toda sua amargura, um passo da redenção: é precisamente assim que ele traz de volta a ovelha perdida”. Deus se fez um conosco, para que sejamos unidos a Ele. Ele se fez homem, para nos proporcionar a vida divina. Por isso a renúncia de si, abraçar a cruz são condições irrenunciáveis para segui-lo. No momento em que escrevo essas linhas me vem em mente: quantas pessoas realmente te seguem Senhor? Eu te sigo?
Para melhor entender a experiência humana da dor feita por Deus, recorro à explicação de Bruno Forte* (2005, p.60), que de modo claro traduz essa dor (ou dores) como experiência da finitude, da limitação. Deus experimentou a finitude humana em suas dimensões física, psicológica, moral e espiritual.
A fome e a sede são limitações impostas pela nossa mortalidade (cf Mt 4,2 e Jo 19, 28). Considero a maior evidencia dessa limitação o grito na cruz: “E à hora nona Jesus bradou em alta voz: ‘Elói, Elói, Lamma sabactani?’ que quer dizer: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”(Mc15, 34). Será que você, um momento de grande dor, nunca perguntou algo semelhante?
A limitação interior (psicológica, moral e espiritual) percebemos na necessidade que teve em ser confortado por um anjo quando sua agonia se manifestava em suor que eram como sangue(cf. Lc 22, 43-44). Ele sentiu a tensão interior da exigência da vontade do Pai (cf Jo 12,27), por isso Ele reza insistentemente. Diz Pierre Barbet** (2014, p.195): “O medo, o terror e o abalo moral estão no auge. É o que Lucas exprime por ‘agonia’, que em grego significa luta, ansiedade, angustia”
Deus passou por nossas limitações. Foi exigente em sua doação. Amar exige doação. Não podemos amar sem nos doarmos. É impossível! Saborear a Ressurreição implica em experimentar a Paixão. Que Deus, nessa Páscoa nos concede esse maduro entendimento espiritual.
Sigamos em frente buscando pensar com a Igreja no serviço da Verdade. Fique com Nossa Senhora e São José.
*FORTE, Bruno. Exercícios Espirituais no Vaticano: Seguindo a ti, Luz da Vida. RJ, Vozes: 2005.
**BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo segundo o cirurgião. Ed. Cléofas, Ed. Loyola. SP: 2014.
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