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Olá, meu irmão e minha irmã. Como anda sua caminhada quaresmal? O mundo não colabora, mas precisamos seguir em frente buscando nosso amadurecimento espiritual. E é sobre essa vertente da Quaresma que gostaria de refletir, ou seja, como um tempo adequado para caminharmos no amadurecimento espiritual e moral, já que são dois “lados da mesma moeda”.
Essa maturidade implica no desenvolvimento da capacidade de nos tornarmos senhores de nós mesmos, ainda que as circunstâncias sejam adversas.
Muitas vezes tenho a alegria de ser convidado para ministrar encontros de formação para casais e não é incomum alguém querer “dar uma palavrinha” durante o intervalo. Nesse momento, as pessoas desejam ser ouvidas e logo confidenciam certas dificuldades e revelam coisas como: “professor, nesses dias encontrei por acaso uma namorada de minha juventude. Sabe, parece que voltou todo aquele sentimento”.
Ora, isso não deve ser motivo de escândalo. Na verdade, é algo bem comum, visto que somos influenciados por lembranças que estão arquivadas na mente. Algo assim vem à tona por fazer lembrar um tempo que contém certo saudosismo. Isso pode mexer com a imaginação e é aqui que começa o perigo.
A questão é: o passado não volta e é imaturidade trocar a felicidade construída diariamente na realidade por algo como: “o que aconteceria se eu tivesse ficado com ela?”. Ruminar e alimentar essa pergunta não resulta em nada de bom, já que a pessoa deixará de viver a beleza e as graças do momento presente (com todas as lutas que ele comporta) e também não será capaz de viver o passado. Isso é fragilidade espiritual que pode desaguar em imaturidade moral.
Logicamente ninguém é culpado por brotar uma “paixonite”, mas tornam-se vítima de sua própria opção, se se deixar mergulhar e se afogar nela.
O homem que é espiritualmente maduro sabe que Deus dá a graça. Mas sabe que cabe a ele escolher se corresponde ou não à graça dada. No final somos responsáveis pelas escolhas e consequentes realizações de nossas vidas. Diz o Padre Francisco Faus (“A Conquista das Virtudes”, pag. 9) “que o dom da graça divina não é dado a uma pedra nem a uma planta, mas a seres humanos, inteligentes e livres que pensam, que decidem, que podem dizer ‘sim’ e dizer ‘não’.
A vida de uma pessoa madura exige coerência entre ação, pensamento e sentimento. A incoerência denota e indica fragilidade espiritual. O homem incoerente não tem profundidade espiritual e seus alicerces morais são frágeis. Um padre ou um religioso não pode ficar suspirando pela vida de casado que não tem. Um casado não deve ficar suspirando pela namorada que não desposou. A maturidade exige que estejamos naquilo que somos. O homem imaturo é um homem incompleto. Sempre vai suspirar pelo que não tem, porém se vier a ter, vai lamentar o que perdeu por ter feito essa escolha. A imaturidade leva à frivolidade.
O que preocupa é que essa frivolidade se alastra como uma espécie de epidemia espiritual. O pensador Gilles Lipovetsk diz que vivemos no império do efêmero.
O império do efêmero é composto por pessoas que se recusam a amadurecer, que são escravos de seus desejos (dos que realizam ou dos que querem realizar) e são incapazes de estabelecer compromissos para a vida toda. Uma pessoa assim não é capaz nem de estabelecer amizade verdadeira. Pois não suportará ouvir a verdade. O imaturo aprecia constantemente ser agradado, não suporta ser contrariado. E se for contrariado? Vai querer romper a relação: “esqueça meu telefone!”, “vou excluí-lo do meu face!”, “não fale mais comigo!”. Todas essas atitudes expressam a imaturidade e o temperamento efêmero da criança que “fica de mal” quando o coleguinha não quer fazer sua vontade. Efêmeros não constroem pontes, cavam abismos.
Se nos vemos nessas linhas, façamos um exame de consciência e uma boa confissão.
Sigamos em frente, procurando pensar com a Igreja no serviço da Verdade. Fique com Nossa Senhora e São José.
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