Olá, meu irmão e minha irmã. Quero refletir sobre nossas vocações comuns e primordiais, tentando captar minimamente quais seriam essas vocações. Pensei neste artigo a partir de um “bate papo” entre Vitória (minha primogênita), Igor (seu namorado e candidato a meu genro) e eu. Falávamos sobre a vida e sobre sua finalidade. Ou seja, qual é a razão de ser de nossa existência temporal? Ou ainda: quais nossas vocações primordiais?
A palavra “vocação” significa “chamado”. Então, nesse sentido, quando alguém diz ser vocacionado está afirmando que foi chamado por alguém. A vocação implica em atender a um chamado. Nós católicos sabemos que quem chama é Deus. Foi ELE que nos chamou a nossa primeira vocação que é a vida, como está bem claro na Escritura:“Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão’. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele os criou. Homem e mulher ele os criou. E Deus os abençoou e disse: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os que se movem”. (Gn1, 26-28).
Assim, a vida é a vocação originária e originante, já que é ela que permite a realização de todas as outras vocações.
Mas vivemos para quê? Aristóteles já dizia que os nossos atos tendem à felicidade. A busca da felicidade é algo natural na pessoa humana. Ninguém vive buscando ser infeliz. Mas, supondo que existisse alguém que buscasse ser infeliz, estaria estabelecendo um paradoxo: se o sujeito procura ser infeliz e consegue, ao conseguir o que pretende, não será mais infeliz.
A Igreja ensina que Deus nos fez para a felicidade: “Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem aventurada” (CIC, 1). Bem-aventurança é felicidade. Deus no fez para gozarmos de Sua felicidade.
Assim, somos chamados à vida para sermos felizes. Mas Ele (Deus) nos fez à Sua imagem e semelhança. Então, precisamos existir refletindo Deus que é Amor (1Jo 4,16). Aqui está a realização de nossa felicidade.
Porém, amar não é gostar. Gostar é fazer uso de algo e depois descartar a coisa usada. Gosto de laranja, faço uso dela e depois, o que não me serve mais, jogo fora. Logo, o amor não pode ser egoísta. Amar é dar-se, é fazer-se presente no outro, é tornar-se importante. Nesse sentido concordo com Mario Sergio Cortella: “Importante é aquela pessoa que é importada por outra. Isto é, que a pessoa leva para dentro. Isso significa importar” (2017, p.12)*. A pessoa importante é aquela que se faz presente no outro e que, quando se vai, faz falta, deixa uma lacuna, fica a presença da ausência.
Ser importante não quer dizer ter “status”, ser celebridade. Ser importante implica em amar de modo adequado. A felicidade está em amar. Amar implica em ser importante. Ser importante quer dizer ser para o outro, não ter uma vida egoísta, mesquinha, mas viver de modo a fazer-se presente na vida do outro, ser por ele interiorizado. São João Paulo II dizia que o homem se realiza na medida em que se doa. Se a pessoa vive assim, faz falta quando se vai. Uma vida vivida desse modo enriquece outras vidas.
Disse o Senhor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (Jo15, 12). É na vivencia do mandamento do amor que nos tornamos importantes e felizes. Como Ele nos amou? Doando-se até a cruz. Eis o amor adequado!
Nossas vocações primordiais: vida, amor e felicidade. Detalhe: A vida nós temos (é dom), amor e felicidade estão presentes potencialmente, precisamos realizá-los.
Sigamos em frente, procurando pensar com a Igreja, no serviço da Verdade. Fique com Nossa Senhora e São José.
*COTELLA, Mario Sergio. Viver em paz para morrer em paz: se você não existisse, que falta faria? São Paulo: Planta, 2017.
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