Não se trata de uma pessoa analfabeta ou ingênua. Ela era formada, e tinha uma vida normal. Talvez tenha sido educada (ou deseducada?) num ambiente de dominação, de imposição de obrigações, etc. Muitas ameaças e cobranças.
A idéia de Deus que criou para si era o oposto do que nos apresentou Jesus de Nazaré na sua vinda ao encontro da humanidade. Um Deus legalista e cruel ocupou grande espaço na sua catequese. Deus seria um patrão exigente a quem temos obrigação de servir e fazer tudo certinho para agradá-lo, sob pena de sermos castigados por qualquer deslize.
Ela acreditava que o demônio podia se apossar dela e essa idéia se agravou com a lembrança de ter cometido alguns pecados graves.
Criou no seu inconsciente um mecanismo de autopunição que fazia com que acreditasse que o demônio queria dominá-la. Ela precisava sofrer para se punir das faltas cometidas. Sua mão açoitava com violência o seu corpo e costumava afirmar que não era responsável por esses movimentos, mas ele, o demônio. Nós sabemos que sua mente, inconsciente, era responsável por tudo isso. É o que chamamos de movimentos incoercíveis do inconsciente (MII).
Seu estado se agravou quando um religioso afirmou ser mesmo o demônio o causador desse desacerto. Ela acreditou. Sua mente captou e aceitou o que lhe foi dito e passou o comando para o resto do corpo, que somatizou a proposta. Resultado: crises histéricas quase sempre na presença de padres, nas igrejas e diante de plateias numerosas.
Observação: na crise de histeria o paciente realmente não controla a situação, não age conscientemente, mas sob impulso.
Ela acreditava também que só o exorcismo seria capaz de curá-la. Foram feitas muitas orações, água benta foi usada, orações deprecativas e imperativas. Tudo em vão. A mulher se retorcia no chão, fazia careta, botava a língua para fora, cuspia no padre e suava em bicas.
Terminada a oração, quando a paciente estava exausta, o sacerdote falou: “está tudo bem agora, não existe mais demônios a atormentá-la. Deixe Deus agir em sua vida. Jesus é a luz. Se você está com Jesus, as trevas não têm vez. Acredite. Se eram os demônios que a estavam atormentando, eles já foram embora”.
A mulher respondeu: “Não foram não. Ainda estão comigo. Eu estou sentindo”.
A situação criada parecia não ter solução. Da parte do padre, o que devia ser feito, foi feito.
Em casos como este, três coisas são importantes: a oração, o acompanhamento médico (remédios, talvez) e a força de vontade de querer sair desse quadro. O equilíbrio consiste em harmonizar nossa área física com a mental e espiritual.
Às vezes os casos se complicam porque não buscamos soluções adequadas e batemos muitas vezes em portas erradas, onde são oferecidas soluções imediatas para todo tipo de situações adversas.
O exorcismo seria o último recurso se os avanços não forem percebidos.
O potencial da mente humana ainda não foi totalmente explorado. Ela, a mente, abre grandes possibilidades quando direcionada para uma vida saudável, mas pode tornar-se despótica quando mal orientada.
Consta que o problema foi resolvido com a ajuda de uma psicóloga e de um psiquiatra. Deus seja louvado!
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Um caso de difícil solução
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