Vacinas experimentais impedem infecção no útero pelo vírus Zika

 
Com informações Instituto Evandro Chagas (IEC). Estudo de autoria de pesquisadores do Instituto Evandro Chagas, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde no Pará, em cooperação com pesquisadores de diversas instituições americanas, entre elas o National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) e a University of Texas Medical Branch (UTMB), comprovou a capacidade de duas vacinas experimentais contra a Zika de impedir a infecção pelo vírus dentro do útero de fêmeas de camundongos. 
O estudo aponta ainda que os dois candidatos vacinais foram capazes de impedir as síndromes de malformações nos fetos desses animais. Uma das vacinas estudadas e desenvolvidas foi fruto da parceria entre o IEC e a UTMB. Os principais resultados do estudo foram publicados no dia 13 na revista Cell, periódico americano considerado um dos mais importantes do mundo especializados em ciência.
 
O artigo intitulado “Vaccine mediated protection against zika virus induced congenital disease” (Vacina media proteção contra doença congênita causada pelo vírus da Zika) demonstra que a vacina de vírus vivo atenuado, desenvolvida pela parceria IEC e UTBM, foi injetada em 23 fêmeas de camundongo e um grupo controle de fêmeas de camundongos recebeu placebo. 28 dias após a vacinação das 23 fêmeas, a análise das amostras de sangue apontou altos níveis de anticorpos neutralizantes contra Zika. Uma semana depois, os dois grupos acasalaram-se com machos e depois foram infectadas com vírus Zika no sexto dia de gestação. 
 
Os cientistas avaliaram as fêmeas e os respectivos embriões uma semana depois da infecção. A placenta e o tecido cerebral dos fetos do grupo inoculado com a vacina de vírus vivo atenuado apresentou claramente menores níveis de RNA viral em relação ao mesmo material no grupo “imunizado” com placebo, a maior parte daqueles fetos inclusive apresentou carga viral quase não detectável ou até mesmo indetectável.  Além disso, não foram isolados vírus das placentas e dos tecidos cerebrais dos fetos do grupo inoculado com a vacina de vírus vivo atenuado.
 
Vírus vivo
 
Uma das maiores vantagens de uma vacina feita com vírus vivo atenuado é a capacidade de induzir proteção com uma única dose, ou seja, garantir uma proteção rápida, efetiva, robusta e duradoura contra o vírus, potencialmente gerando proteção para a vida toda. A vacina foi obtida pela retirada de uma parte do material genético do vírus, dando origem a uma vacina altamente atenuada, imunogênica e protetora.
 
A outra vacina analisada pelo estudo foi elaborada a partir de DNA recombinante do vírus Zika pelo grupo Valera, da empresa americana Moderna Therapeutics. No estudo, foram dadas a 19 fêmeas de camundongo 2 doses da vacina de mRNA com 28 dias de diferença entre as doses. Um grupo controle de 23 fêmeas recebeu 2 doses de placebo. 49 dias após a aplicação das doses foram detectadas altas taxas de anticorpos neutralizantes contra Zika no grupo inoculado com a vacina de mRNA. 56 após a vacinação, a fêmeas acasalaram e no sexto dia de gravidez foram infectadas com o vírus Zika. Os cientistas analisaram as fêmeas e os embriões uma semana após a infecção. 
 
O grupo inoculado com a vacina apresentou níveis de RNA viral diminuído nos tecidos das mães, da placenta e dos fetos se comparados ao grupo inoculado com o placebo. Poucos dos vacinados com o candidato de mRNA, quando desafiados com o vírus selvagem, apresentaram vírus Zika infeccioso nas placentas e nos tecidos cerebrais comparados com o grupo placebo.
 
Os dados mostram que as duas vacinas podem restringir a transmissão no útero do Zika em camundongos. A maior parte  dos fetos de camundongos não apresentou evidência de infecção pelo vírus da Zika, resultando em proteção contra danos às placentas e malformações congênitas.
 
Histórico

O desenvolvimento desta vacina contra o vírus Zika é resultado da parceria firmada entre o Instituto Evandro Chagas e a UTMB, Estados Unidos, e foi intermediada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O acordo de cooperação internacional, assinado em fevereiro de 2016, foi um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus Zika. A UTMB é um dos principais centros mundiais de pesquisas com arbovírus, e detém corpo técnico especializado no desenvolvimento de vacinas – assim como o Instituto Evandro Chagas, referência nacional e mundial em pesquisas científicas com arbovírus. 
 
O estudo conta com um investimento de aproximadamente R$ 10 milhões do Ministério da Saúde. “Os frutos dessa cooperação com a UTMB são promissores. Além do desenvolvimento do atual candidato vacinal, nós abrimos uma perspectiva e trazemos uma expertise para o IEC que abre campo para o desenvolvimento de pesquisas para a produção de vacinas e imunobiológicos que são necessários para uso em saúde pública dentro do Ministério da Saúde do Brasil”, destaca o diretor do Instituto Evandro Chagas Vasconcelos, Pedro Vasconcelos. 
 
A vacina de vírus vivo atenuado contra Zika deverá ser administrada em dose única. Inicialmente, o público-alvo da imunização serão mulheres em idade fértil e seus parceiros, mas prevê-se a vacinação de crianças de ambos os sexos com 10 anos ou menos o que impediria que gestantes pudessem se vacinar inadvertidamente. O imunobiológico não poderá ser aplicado em gestantes, mas o Instituto Evandro Chagas, juntamente com a UTMB, também desenvolve outra tecnologia, a partir do DNA recombinante do vírus para ser utilizada em mulheres grávidas.
 

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