Encontro Internacional de Religiões e Culturas

Representantes das diversas religiões reuniram-se com o Papa no Coliseu para o encerramento do Encontro Internacional, promovido pela Comunidade de Santo Egídio. Seguiram-se testemunhos e orações, e um apelo conjunto a não ficarmos parados e indiferentes diante de “milhões de crianças, idosos, mulheres e homens” que sofrem com conflitos e violência. Assis é a próxima etapa do evento, quarenta anos após o primeiro encontro convocado por São João Paulo II.

Unidos em Roma, para falar, ouvir, compreender, buscar a paz e denunciar “as desigualdades escandalosas, o desinteresse pela criação e pela vida das gerações futuras”. Os líderes religiosos presentes no Encontro Internacional de Religiões e Culturas, organizado pela Comunidade de Santo Egídio, na última terça-feira (28/10), sentaram-se lado a lado, no Coliseu, que se tornou um símbolo moderno da luta contra a violência e um lugar de oração pela paz. O apelo das religiões presentes, assinado por todos os líderes, lança um chamado à ação para combater o horror denunciado pela Fratelli tutti, que afirma que “toda guerra deixa o mundo pior do que o encontrou” e que é “um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota diante das forças do mal”.

O testemunho de Omar do Sudão

No palco, o Papa Leão XIV e os líderes religiosos ouvem a voz de quem viveu a guerra na própria pele, de quem vem “de uma terra onde a paz outrora fluía como o grande Nilo, do ponto onde o Nilo Azul e o Nilo Branco se encontram”. Essa terra é o Sudão. Omar Malla Ali tem 31 anos. É médico. Suas palavras chamaram a atenção da plateia, quando recordou o dia em que tudo mudou, quando a morte e o medo invadiram o seu país que vive um conflito que dura dois anos e meio. Sua busca pela paz o afastou de tudo o que era a sua vida, o levou a refugiar-se na Etiópia, “um homem sem pátria”. Depois, foi acolhido na Itália. Chegou a Roma através dos corredores humanitários da Comunidade de Santo Egídio e pela primeira vez voltou a dormir sem medo, pela primeira vez voltou a sonhar.

O seu apelo aos homens de paz que o ouvem é para que rezem pela paz em seu país e em todos os lugares onde a guerra está sendo travada. Porque “a paz não é apenas a ausência de guerra, mas presença de amor, dignidade e humanidade”.

Abrir caminhos de paz

Não é mais hora de espera, indicam os religiosos em seu apelo, mas o momento de ter coragem, de “ousar para abrir caminhos de paz”, porque não se pode ficar parados diante de “milhões de crianças, idosos, mulheres e homens que sofrem as consequências da guerra”.

O medo, o nacionalismo, o ódio étnico e racial são fantasmas do passado que a humanidade revive hoje, devido a uma “globalização sem alma”. A força espezinha o direito internacional, enfraquece as instituições criadas para defender o mundo da guerra. As consequências são a violência e a agressão, e a justificação do conflito, onde acabamos na ilusão de “que o futuro melhor é contra o outro e sem o outro”. As religiões, porém, sabem que “nunca há um futuro sem o outro”.

Mudança de paradigma

“Uma paz desarmada e desarmante” é necessária, este é o apelo que se eleva do coração de Roma, de um Coliseu repleto de todas as crenças e imbuído da convicção de que “a paz é o apelo silencioso de povos inteiros, refugiados, crianças, mulheres” e que não há futuro “se a guerra substituir a diplomacia e o diálogo na resolução de conflitos”.

O apelo aos poderosos é por uma “mudança de paradigma”, que recoloque a comunidade humana no centro, que vivamos juntos construindo pontes, não muros, para pôr fim às guerras e inaugurar um tempo de reconciliação, por “uma segurança fundada no diálogo, não na escalada da produção e da ameaça de armas”. Ousar a paz significa que o futuro verá a gratidão das novas gerações, que receberão das religiões “o que receberam de Deus: amor, sabedoria, o valor da vida e o perdão”. Porque “nenhuma guerra é santa, só a paz é santa!”

A oração pode mudar a história

As religiões repetem o que São João Paulo II disse em 1986, ao final do encontro de líderes de todos os credos, em Assis, para a oração conjunta pela paz: “A paz é um canteiro de obras aberto a todos”. Do palco, a Comunidade de Santo Egídio narra a trajetória percorrida ao longo destes 39 anos, em que o encontro prosseguiu com a constante convicção de que “a paz é sempre possível”, que a oração “pode ​​mudar a história” e que “Deus escuta” as “invocações e os clamores daqueles que sofrem com a guerra”. O caminho até aqui prosseguiu contracorrente, pois a linguagem da guerra continuou sendo usada para falar de paz, mantendo “os caminhos do diálogo abertos”, porque, como disse Francisco, “o mundo sufoca sem diálogo”.

O espírito de Assis ainda sopra, carregando uma grande responsabilidade e “uma memória decisiva: o horror da guerra”. O anseio pela paz deve unir as pessoas “porque os pobres e humildes da terra olham para nós com esperança! Porque a paz é sempre possível!”

Em Assis em 2026

O caminho continua, assegura o presidente de Santo Egídio, Marco Impagliazzo, sempre contracorrente diante dos “muitos conflitos abertos”, opondo a linguagem da violência à linguagem da paz, combatendo os ventos da guerra e do mal com o Espírito de Assis, porque “a paz é sempre possível” com o olhar fixo “naquilo que o Papa Leão chamou de faíscas de esperança”. No próximo ano, completam-se quarenta anos de diálogo e encontro, que levarão os líderes religiosos de volta à cidade de São Francisco, onde tudo começou em 26 de outubro de 1986.

Fonte: Vatican News /Francesca Sabatinelli

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