Os pedidos de bênção do papa tiveram um aumento de cerca de 30% no primeiro mês de pontificado do papa Leão XIV.
No mês passado, a Santa Sé atendeu 20 mil pedidos de bênção papal. O número médio por mês é de 12 mil a 15 mil pergaminhos distribuídos.
Esse crescimento “nunca aconteceu na história”, disse esta semana o cardeal Konrad Krajewski, esmoleiro apostólico, à CNA, agência em inglês da EWTN.
O cardeal polonês, que é responsável pelas atividades de caridade da Santa Sé e pela concessão de certificados de bênção, disse que quando o escritório reabriu suas portas em maio, depois do interregno papal e a eleição de Leão XIV, uma fila de 160 metros se formou, serpenteando pelo prédio, descendo a rua e quase além do Portão de Sant’Anna do Vaticano.
O escritório de caridade papal teve que fechar os pedidos online por cerca de duas semanas no mês passado porque não conseguia atender aos pedidos, disse Krajewski. “Todos queriam a bênção do novo papa.”
O cardeal disse também que o início do pontificado coincidiu com uma época popular do ano para receber sacramentos, como o crisma, a primeira comunhão e a ordenação sacerdotal, contribuindo para o aumento da demanda.
O significado de uma bênção
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, as bênçãos – de pessoas, refeições, objetos e lugares – louvam a Deus e rezam por Seus dons.
“Em Cristo, os cristãos são abençoados por Deus Pai com todas as bênçãos espirituais”, diz o Catecismo da Igreja Católica. “É por isso que a Igreja concede bênçãos invocando o nome de Jesus, geralmente ao fazer o sinal sagrado da cruz de Cristo”.
Para os fiéis, disse Krajewski, a bênção do papa pode ter um significado especial, já que ele é seu pai espiritual.
“Queremos pedir a bênção do papa, que penduramos em nossa casa e que nos ajuda a viver tempos difíceis”, disse ele. “Ajuda-nos a saber que há alguém que leva o nome de Jesus, que está debaixo do meu teto e me abençoa. Isso é algo normal, algo muito humano”.
As pessoas podem receber a bênção do papa num encontro pessoal ou agora, até mesmo através das mídias sociais ou da televisão. Mas ter sua bênção apostólica no papel, pendurada em sua casa, ajuda as pessoas a se sentirem “fortemente unidas ao papa, que representa nosso Senhor”, disse o cardeal.
Ele comparou uma bênção ao beijo de uma mãe no joelho machucado de seu filho: não necessariamente tira a dor do sofrimento, mas a expressão da solidariedade do papa pode dar muito conforto enquanto as pessoas estão tentando viver a vida cristã.
Como uma bênção é feita
Desde o fim do século XIX, a Santa Sé concede certificados assinados e carimbados que concedem bênçãos apostólicas aos fiéis, geralmente para uma ocasião especial, como batismo, casamento, aniversário de casamento, primeira comunhão ou aniversário marcante.
Por um período, a Santa Sé autorizou algumas lojas de souvenirse livrarias próximas à basílica de São Pedro a também vender as bênçãos, mas essa prática terminou em 2014, e agora, a única maneira de pedir o pergaminho da bênção apostólica é online ou pessoalmente no escritório de caridade papal na Cidade do Vaticano.
Embora os pedidos de bênçãos online devam se enquadrar num conjunto limitado de categorias e só exigir uma declaração pessoal de elegibilidade, Krajewski diz que as pessoas também podem fazer pedidos pessoais de bênçãos por outros motivos, como doenças. Nesses casos, o escritório de caridade papal exige que um pároco ou um núncio apostólico se pronuncie sobre a conveniência de conceder a bênção.
O cardeal disse que isso era para evitar qualquer possibilidade de que alguém tentasse adquirir um certificado de bênção para um propósito escandaloso, como para exibição num hospital onde abortos são feitos. Os médicos daquele hospital precisam de bênçãos e orações, sublinhou Krajewski, mas uma bênção apostólica na parede, com uma foto do papa, poderia falsamente dar uma impressão de aprovação papal.
Depois que um pedido de bênção é recebido, leva entre duas e três semanas para processar o pedido, criar o “pergaminho”, que na verdade é um papel grosso e nmão um pergaminho real de pele de cordeiro, e prepará-lo para ser retirado ou enviado pelo correio.
Parte da preparação é a escrita manual dos certificados – para os quais o escritório emprega 11 calígrafos.
Krajewski disse que alguns dos pergaminhos de bênção ainda são feitos a pedido inteiramente em caligrafia, mas que a maioria das pessoas hoje deseja a impressão mais legível feita por um computador. Mas todos os papéis contêm alguns elementos desenhados à mão, como a primeira letra ornamentada de certas palavras.
Para onde vão os rendimentos
A Santa Sé cobra de US$ 23 (cerca de R$ 128) a US$ 35 (cerca de R$ 196) por cada certificado de bênção que distribui, mas diz que o custo é uma doação sugerida, e cada centavo dos lucros vai diretamente para ajudar as pessoas que lutam contra a pobreza, a guerra ou desastres.
“Dizemos que a verdadeira bênção são as esmolas”, disse Krajewski. “Porque toda [doação] obtida com as bênçãos vai para os pobres”.
Krajewski, que foi nomeado esmoleiro papal pelo papa Francisco em 2013, enfatizou a enorme ajuda que as doações para bênçãos fazem às obras de caridade que seu escritório faz. Ele se recusou a dar números exatos, mas disse que no ano passado, a maior parte dos US$ 8 milhões (cerca de R$ 44 milhões) que seu escritório gastou em ajuda em todo o mundo veio das bênçãos.
“Somos os primeiros socorros do papa Leão”, disse ele. “Quando algo acontece no mundo [nós somos] os primeiros socorros… a ambulância que corre para ajudar”.
Um projeto recente financiado pelas doações, disse ele, foi o apoio às pessoas afetadas por um tufão em Taiwan. Por meio do núncio apostólico, a Santa Sé pode enviar dinheiro para um país necessitado, às vezes em questão de horas.
“O Santo Padre nos lembra que não basta dizer sinto muito, estou unido a você, mas [precisamos também] enviar ajuda concreta”, diz Krajewski.
Outra doação recente do braço de caridade da Santa Sé foi um forno de pão para a cidade de Kharkiv, Ucrânia, devastada pela guerra. No conflito, a Santa Sé deu comida, ajuda médica e até dinheiro para pessoas que lutam na Ucrânia, muitas vezes entregues num caminhão dirigido pelo próprio Krajewski, de 61 anos de idade.
“O papa Francisco me disse uma vez que se esse dinheiro não for para os pobres, eu acabarei no inferno”, diz o cardeal. “O papa Francisco foi muito, muito direto. E então, ele sempre perguntava se nossa conta bancária estava vazia, porque se nossa conta bancária estivesse vazia, significava que tínhamos ajudado muitas pessoas”.
“Mas as bênçãos nos ajudam a ter certeza de ter recursos para ajudar e isso é uma coisa linda”, diz também Krajewski.
Fonte: ACI Digital / Por Hannah Brockhaus
