Missa pontifical na basílica de São Pedro

Missa solene pontifical celebrada em 25 de outubro de 2025 pelo cardeal Raymond Leo Burke no Altar da Cátedra, na basílica de São Pedro, no Vaticano, na 14ª Peregrinação Internacional Ad Petri Sedem em Roma. | Cortesia de ElvirTabaković
Missa solene pontifical celebrada em 25 de outubro de 2025 pelo cardeal Raymond Leo Burke no Altar da Cátedra, na basílica de São Pedro, no Vaticano, na 14ª Peregrinação Internacional Ad Petri Sedem em Roma. | Cortesia de ElvirTabaković

Milhares de fiéis de várias partes do mundo participaram de uma solene missa pontifical na basílica de São Pedro, no Vaticano, celebradapelo cardeal Raymond Burke no último sábado (25), ponto alto de uma tradicional peregrinação a Roma que teve seu maior público de todos os tempos.

Parte da peregrinação internacional anual SummorumPontificumà Sé de Pedro, que começou em 2012, a missa pontifical foi suspensa em 2022 pelo motu propioTraditioniscustodescom que o papa Francisco restringiu severamente, no ano anterior, o uso da liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II.

Mas no que foi chamado de uma resposta pastoral “inovadora “, o papa Leão XIV deu permissão para que a missa pontifical fosse celebrada neste ano — um gesto visto como um momento crucial na abordagem da Santa Sé, reflexo do crescimento da frequência às liturgias tradicionais do rito romano ao redor do mundo e uma forte reação contra as restrições.

Uma carta enviada ao papa Leão XIV depois do conclave de maio, assinada por cerca de 70 grupos católicos tradicionais, pediu entre outras coisas, permissão para celebrar a missa como parte da peregrinação anual a Roma.

Estima-se que entre 3 mil e 5 mil peregrinos, muitos deles famílias jovens, compareceram à missa — um número tão grande que pegou os organizadores e a Santa Sé de surpresa, levando alguns fiéis a serem impedidos de entrar na basílica e participar da missa, embora os funcionários da basílica “fizessem o possível para acomodá-los”, disse um organizador da peregrinação. A maioria dos peregrinos entrou unindo-se à tradicional procissão de 1,6 km de extensão que começava do outro lado do rio Tibre, em frente ao castelo Sant’Angelo, e seguia em direção ao Vaticano, pela via dellaConciliazione.

Destacando em sua homilia o “amor incomensurável” do Senhor e o amor incessante do Imaculado Coração de Nossa Senhora, o cardeal Burke falou sobre a rebelião generalizada contra a “boa ordem e paz” do Senhor. O remédio, disse ele, pode ser encontrado na prática das instruções de Nossa Senhora de Fátima, como a devoção dos primeiros sábados, e por meio da adoração sadia em “comunhão com Cristo Rei”. No calendário tradicional, a festa de Cristo Rei é celebrada no último domingo de outubro.

Falando sobre o tema do rito romano tradicional, o cardeal Burke disse que já se passaram 18 anos desde que o papa Bento XVI promulgou seu motu proprioSummorumpontificum, que “tornou possível a celebração regular do rito da Missa conforme esse modo usado desde a época do papa são Gregório Magno”.

O papa Francisco revogou o decreto de Bento XVI de 2007 com Traditioniscustodes, dizendo que ele não havia promovido a unidade na Igreja, alegação contestada, especialmente depois que mais tarde revelou-se que Traditioniscustodes havia sido baseado em dados deturpados sobre opiniões dos bispos.

Privilégio de participar

“Privilegiados por participar do Santo Sacrifício da Missa hoje”, disse o cardeal Burke, “não podemos deixar de pensar nos fiéis que, ao longo dos séculos cristãos, encontraram nosso Senhor e aprofundaram sua vida n’Ele por meio desta venerável forma do rito romano. Muitos foram inspirados a praticar a santidade heroica, até o martírio”.

O cardeal destacou que o antigo rito, também chamado de ususantiquior, inspirou os fiéis a “manter o olhar fixo em Jesus”, especialmente ao responder a uma vocação, e agradeceu a Deus por como a “venerável forma do rito romano” aprofundou a fé de tantos e os ajudou a descobrir a “beleza incomparável” da sagrada liturgia.

“Testemunhando agora a grande beleza do rito da missa, deixemo-nos inspirar e fortalecer para refletir essa beleza na bondade da nossa vida diária sob o cuidado maternal de Nossa Senhora”, disse ele.

Na missa, o cardeal Burke fez questão de rezar uma oração especial pelo papa Leão XIV na coleta, em gratidão por sua concessão para permitir que a missa pontifical acontecesse.

No fim da missa, o cardeal Ernest Simoni, de 97 anos de idade, subiu ao púlpito por iniciativa própria e fez um exorcismo, recitando de cor e em latim a oração completa do papa Leão XIII a são Miguel Arcanjo. O ato sagrado de libertação ocorreu na esteira do escândalo da Pachamama, da admissão de ativistas LGBT na basílica de São Pedro como parte das celebrações do Jubileu 2025, e de duas recentes profanações dos altares da basílica.

Muitas pessoas consideraram apropriado que o cardeal Simoni fizesse o exorcismo. O cardeal albanês, elevado ao cardinalato pelo papa Francisco em 2016, foi perseguido por muitos anos sob o comunismo, sofrendo prisão, tortura e condições severas, nas quais fazia vários exorcismos por dia.

As reações à missa foram extremamente positivas. John Egan, de Nova York, disse ao jornal NationalCatholicRegister, da EWTN, que foi “realmente muito especial” que a missa pontifical fosse celebrada novamente “no trono de São Pedro e tão perto dos ossos de Pedro”. A basílica estava tão lotada que ele não conseguiu ver a missa, mas conseguiu “ouvir tudo, e sabia que estava exatamente onde deveria estar para aquela missa”.

O padre MatthieuRaffray, sacerdote do Instituto Bom Pastor, que celebra a missa tradicional, disse acreditar que isso marcou um “ponto de virada” para o futuro da Igreja no Ocidente. “Quando algo funciona na Igreja, e quando é realmente católico, não se precisa lutar contra isso —precisa-se apoiar e, talvez, dar alguma direção”.

Um dia antes, o arcebispo de Bolonha, Itália, cardeal MatteoZuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, celebrou as vésperas pontificais na tradicional festa de são Rafael Arcanjo na basílica romana de São Lourenço, em Lucina. O templo também estava lotado, com fiéis lotando o corredor e o pórtico externo.

Em sua homilia, o cardeal Zuppi enfatizou a importância de ver a comunhão como um dom do Espírito Santo, promovendo a unidade e não tornando os fiéis “iguais, nem uniformes, mas unidos e obedientes ao Senhor”. Ele falou contra a abordagem da comunhão com “nosso próprio conjunto de condições” ou “só se atender às minhas expectativas”, porque então “não seria Comunhão, mas conveniência, oportunismo”.

Poderoso sinal de unidade

O cardeal Zuppi é visto como um forte defensor do pontificado anterior e, portanto, sua participação foi considerada um poderoso sinal de unidade. O padre Raffray, que assistiu às vésperas no santuário, disse que o cardeal Zuppi espontaneamente se aproximou para cumprimentar calorosamente o cardeal Burke, que também estava presente. O cardeal Burke é conhecido por ter frequentemente criticado respeitosamente o pontificado de Francisco.

“Não estava na programação, mas dava para perceber que eles estavam muito felizes por estarem juntos e que foi uma troca honesta e autêntica”, disse o padre Raffray. “Era como se estivessem dizendo: Estamos todos na mesma Igreja, adoramos o mesmo Jesus Cristo e estamos aqui pelo futuro da civilização ocidental. Acho que isso foi algo fantástico”.

Naquele mesmo dia, a peregrinação SummorumPontificum fez sua conferência anual no Pontifício Instituto Patrístico Agostiniano, perto da praça de São Pedro. A conferência também teve grande participação e contou com palestras de Korantin Denis sobre uma nova e bem-sucedida peregrinação tradicional que ele ajudou a fundar na Bretanha, região na França, que cresceu de 120 peregrinos para 2,2 mil em oito anos, e um testemunho de PietraBertolazzi, jovem mãe brasileira que se converteu, apesar da oposição de sua família e amigos, das crenças da nova era para a Missa tradicional.

A conferência também ouviu Eduardo McGregor, jovem espanhol convertido à fé, que falou sobre sua conversão. “Qualquer verdadeira restauração da Igreja e da cultura cristã, qualquer verdadeira restauração do que o Ocidente um dia quis ser e foi, passa inevitavelmente pela porta estreita da antiga e venerável tradição, a liturgia tradicional”, disse ele.

Os eventos, e particularmente a missa pontifical, receberam cobertura de destaque na imprensa secular, como da agência de notícias americana Associated Press, do jornal New York Times e de muitos veículos de comunicação italianos. O principal programa de notícias do horário nobre da Itália, o TG1, também tratou disso.

Falando ao Register no fim dos eventos do fim de semana, Marco Sgroi, advogado italiano e membro do comitê organizador do evento, disse acreditar que o sucesso do evento, depois de quatro anos de restrições, foi “uma demonstração clara do fracasso da Traditioniscustodes e do fato de que a perseguição injusta sempre produz o efeito oposto”.

Volta ao Realismo

Nicola Bux, padre da diocese de Bari, Itália, e ex-consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, disse ao Register achar que a peregrinação “parece marcar uma volta ao realismo por parte da Santa Sé, no sentido de que reconhece a celebração contínua do antigo rito romano em muitas dioceses da Igreja”.

“O papa Leão XIV parece disposto, o mais breve possível, a abordar a questão já considerada e, até certo ponto, posta num caminho de resolver pelo papa Bento XVI, com Summorumpontificum”, disse Bux.

O padre diz acreditar que a abordagem do papa Leão XIV “poderia ser de escuta e diálogo, com o objetivo de promover uma aceitação mais clara da coexistência das duas formas do único rito romano, desde que se garanta que isso não ponha em risco, mas antes enriqueça, a unidade católica”.

Christian Marquant, presidente da organização tradicional PaixLiturgique (Paz Litúrgica) e principal organizador da peregrinação Summorumpontificum, disse: “Somos muito gratos ao papa por permitir a missa pontifical. Acredito que ela marca um ponto de virada e um sinal paternal de que o rito romano tradicional pode ter a liberdade e a paz para prosperar e dar seus frutos espirituais no futuro”.

Fonte: ACI Digital / Por Edward Pentin

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