Os pobres do mundo com o Papa no Vaticano

A "festa" dos movimentos populares

Alegria, esperança e emoção marcaram a audiência do Papa com os participantes do V Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Eles chegaram à Sala Paulo VI após uma caminhada pela cidade de Roma. O evento foi precedido por danças e cantos em várias línguas, além de uma procissão em direção à Praça São Pedro. Na abertura, cardeal Michael Czerny agradeceu ao Papa: “obrigado por nos encorajar a encontrar um lugar no coração da Igreja”.

A maioria dos participantes via o Papa em pessoa pela primeira vez. Tomados pela esperança e pela gratidão, sentiram-se ouvidos e acolhidos pela Igreja. Vindos de todas as partes do mundo, os participantes do V Encontro Mundial dos Movimentos Populares – que está acontecendo em Roma nesta semana – viveram na tarde desta quinta-feira (23/10) o momento mais esperado do encontro: a audiência com o Papa Leão XIV.

O vínculo do Papa com os pobres

O evento foi aberto na Sala Paulo VI pelo cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que organiza o evento. Ele recordou o profundo laço do Papa Leão XIV com os pobres — desde os tempos de sua juventude em Chicago, depois como missionário no Peru e mais tarde como superior geral dos agostinianos.

O cardeal também agradeceu ao Papa por mencionar os movimentos populares em sua primeira exortação apostólica, Dilexi te, dedicada ao amor pelos pobres: “obrigado pela sua compreensão e solidariedade”, disse. “Quando políticos e profissionais não escutam o povo, correm o risco de excluí-lo de sua luta cotidiana por dignidade e da construção do próprio destino”. O cardeal ainda acrescentou: “com humildade e sinceridade o senhor disse: ‘o mesmo vale para as instituições da Igreja’. É verdade. Obrigado por reconhecer nosso lugar em seu coração e por nos encorajar a encontrar o nosso lugar no coração da Igreja.”

Caminhar com a Igreja

O Pe. Mattia Ferrari, coordenador do Encuentro Mundial de Movimientos Populares (EMMP), lembrou que “os Movimentos Populares são formados por pessoas excluídas e oprimidas que se organizam para lutar contra as injustiças e praticar a solidariedade”. E acrescentou:

“Eles tornam possível outro mundo, construindo-o com humildade e perseverança, a partir da vida concreta e das comunidades.”

O sacerdote destacou que “muitos movimentos populares encontraram a Igreja em seu caminho e descobriram que é possível e bonito caminhar juntos”. Ele recordou também que o Papa Francisco “quis estender esse caminho a toda a Igreja, pois sabia que a sociedade, a política, a economia e até a própria Igreja precisam ouvir e envolver os movimentos populares para tornar o mundo verdadeiramente humano, solidário e fraterno”. “O processo iniciado em 2014 continua”, afirmou o Pe. Ferrari, referindo-se ao primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares, realizado em Roma naquele ano por iniciativa do Papa argentino.

Rumo a uma cultura do encontro

Guadalupe, uma imigrante mexicana residente nos Estados Unidos, falou em nome de todos os participantes, agradecendo ao Papa e reafirmando o compromisso dos Movimentos Populares “em avançar rumo a uma cultura da vida, uma cultura do encontro, uma cultura samaritana que ajude toda a humanidade a encontrar caminhos de paz e dignidade”. A jovem lembrou também de todos aqueles “que perderam a vida por defender os direitos sagrados à terra, à moradia e ao trabalho”.

“Chegamos cheios de dor, trazendo os gritos de sofrimento de nossos povos e da nossa casa comum. Mas vivemos uma resistência cheia de esperança, porque acreditamos no valor da solidariedade e das alianças fraternas. Não queremos fazer parte da narrativa da ‘globalização da impotência’: nosso compromisso, por mais humilde que seja, transforma realidades de sofrimento”, declarou ela, pedindo uma cultura de paz e de não violência. Em seguida, dirigindo-se diretamente ao Papa, citou as palavras que o Santo Padre disse do balcão central no dia de sua eleição: “desejamos o sonho compartilhado de uma paz desarmada e desarmante”.

Um longo aplauso acompanhou as palavras de Guadalupe, e o Papa Leão levantou-se para saudá-la e demonstrar afeto. Ela também lembrou a primeira peregrinação jubilar dos Movimentos Populares que será realizada neste sábado, 25 de outubro, com a passagem pela Porta Santa da Basílica de São Pedro.

A mexicana concluiu citando as palavras do cardeal Czerny: “é a celebração de uma visão, de uma declaração, de um mundo onde ninguém viva sem comida nem água, nenhuma família sem casa, nenhum trabalhador rural sem-terra, nenhum operário sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem futuro e nenhum idoso sem uma velhice digna”.

Peregrinação por Roma e festa no Vaticano

Centenas de participantes do V Encontro Mundial dos Movimentos Populares partiram logo após o almoço do Spin Time Lab, um edifício ocupado no bairro romano do Esquilino, onde vivem cerca de 400 pessoas em situação de emergência e que serve de “casa” para muitos Movimentos Populares em Roma. Rumo ao Vaticano, pegaram o metrô e, antes de iniciar o trajeto, prepararam-se com músicas e danças. Violões, ritmos africanos, palmas, aplausos e coros: “¡Viva la lucha de lospueblos!

Uma onda de alegria e entusiasmo tomou as ruas ao redor do Vaticano durante a procissão, que seguia atrás de uma grande faixa onde se lia: “Bem-vindo, V Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Terra, casa e trabalho”. Alguns gritavam: “os pobres do mundo caminham para encontrar o Papa Leão!”. O clima de festa e emoção continuou dentro da Sala Paulo VI, onde se respirava alegria, esperança e entusiasmo. Um verdadeiro mosaico de culturas preenchia o espaço, com conversas em diversas línguas que se misturavam em harmonia.

Entre os presentes havia camponeses, catadores de material reciclado, pescadores, costureiras, artesãos e trabalhadores humildes de todas as partes do mundo, acompanhados por sacerdotes e representantes das igrejas locais de suas comunidades. O Pe. Mattia Ferrari, em entrevista à mídia vaticana, destacou o valor do acompanhamento da Igreja: “estamos todos emocionados por ter encontrado o Papa Leão XIV, assim como tantas vezes fizemos com o Papa Francisco, na alegria de saber que o caminho continua. Juntos, de mãos dadas, seguimos caminhando. É isso que torna a esperança bela e real”.

Fonte: Vatican News /Lorena Pacho

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