Pastoral Carcerária trabalha perdão e esperança junto aos presos

Neste domingo, 14, a Igreja celebra Jubileu dos Reclusos

Pastoral Carcerária leva proximidade e evangelização a quem está preso / Foto: Dick Luria de PhotoImages via Canva
Pastoral Carcerária leva proximidade e evangelização a quem está preso / Foto: Dick Luria de PhotoImages via Canva

O Ano Santo tem sido um período de reflexão à luz da esperança para os fiéis católicos. E neste domingo, 14, a Igreja celebrará o Jubileu dos Reclusos, atividade que integra o calendário do Jubileu da Esperança.

Esperança é o que traduz a atuação da Pastoral Carcerária dentro das unidades prisionais espalhadas pelo país. A privação de liberdade à qual os detentos são submetidos pode ser aliviada pelo trabalho desenvolvido por este braço da Igreja, que realiza visitas, acolhe e escuta essas pessoas.

“A Pastoral está atenta ao que ele/ela partilha e relata, das violências, falta de alimentos, abusos e torturas”, afirma o padre Almir Ramos, vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Diante das denúncias dos maus-tratos, busca os meios cabíveis e encaminha as denúncias para investigação. A visita da pastoral reacende na pessoa presa a esperança, pois sabem que agimos com seriedade e está ali por causa deles/as”.

Muitas vezes, segundo o pároco, nem a família importa-se em visitar essas pessoas. O trabalho da Pastoral torna-se um alento a quem está encarcerado. “O impacto desta ação da Pastoral em sua vista sócio-religiosa fortalece-os para que consigam suportar viver os dias que ainda tem que passar atrás das grades, a escuta atenta alivia o coração e abre a possibilidade de novos sonhos, para além dos muros. Isto cria uma nova perspectiva, os horizontes se alargam”.

Perdão e esperança

O perdão e a esperança são conceitos trabalhados pela Pastoral junto aos presos. O trabalho envolve um significado espiritual e psicológico que acaba adquirindo contornos ainda mais intensos para quem se encontra privado de sua liberdade.

“O perdão e a esperança adquirem um sentido profundo no contexto prisional a partir do momento em que os indivíduos em privação de liberdade se sentem genuinamente amados e percebem que alguém se importa com eles, não por interesse material, mas simplesmente por serem pessoas”, observa padre Almir.

A gratuidade e o esforço dos agentes da Pastoral Carcerária em realizar as visitas são notados, fazendo com que as pessoas presas aguardem ativamente por essa presença. “Essa atuação configura-se como uma presença profética nos espaços de cárcere, onde a Pastoral se estabelece como anunciadora da misericórdia e da esperança, e também como denunciadora no combate à tortura”, diz o vice-coordenador.

Essa consistência histórica na ação construiu a credibilidade e a confiança da Pastoral junto à população carcerária, sendo um pilar fundamental para o trabalho espiritual e psicológico realizado.

E é por meio da Justiça Restaurativa que a Pastoral Carcerária concretiza no cárcere um trabalho diretamente voltado para os conceitos de perdão e reconciliação. “A Justiça Restaurativa através dos encontros oportuniza a pessoa presa olhar para sua história, se perdoar e perdoar o outro. Isto possibilita a ele/ela alargar seu olhar para reescrever um novo caminho, além das grades que aprisionam o seu corpo”, diz o religioso.

É desta forma que o perdão e a esperança se transformam em ferramentas ativas de ressignificação da vida, promovendo a cura interior necessária para a reinserção e a construção de um futuro renovado.

“Estava na prisão e fostes visitar-me (Mt 25, 35)”

Enquanto uma obra de misericórdia, o trabalho da pastoral adquire uma dimensão profunda de visita aos encarcerados e se torna um gesto de presença e escuta que ressoa e transforma, também, a experiência de quem realiza a visita.

“No momento em que faz a visita, o agente da Pastoral encontra Jesus atrás das grades e com as mais diversas feridas, não poucas vezes destituídos de humanidade por tantos maus tratos e violências a que estão expostos”, lamenta padre Almir.

Este trabalho, porém, revigora e ajuda quem recebe e quem o põe em prática. “O agente da Pastoral é o grande evangelizado, é uma troca, a pessoa presa sente-se revigorada, acalentada, que alguém se importa com ela, mas o visitador pode tocar as chagas do Senhor sofredor, ouvir sua voz através das grades e portões”, afirma o vice-coordenador da Pastoral.

Questionado acerca de algumas das principais dificuldade enfrentadas pela Pastoral, padre Almir responde sem titubear: operários. “Os desafios da Pastoral Carcerária é o desafio da Igreja: são poucos os operários! A questão de empecilhos que se desdobram em alguns lugares quanto à realização da visita, o acesso e dificuldade de contato com a pessoa presa”, pontua.

Além do conforto espiritual

Não só conforto espiritual, o papel de ressocialização praticado pela Pastoral leva uma vivência de fé e valores espirituais que podem ser decisivos na prevenção da reincidência criminal após o cumprimento da pena.

“O Brasil é o terceiro país do mundo que mais encarcera pessoas, e quem são as pessoas que estão presas?”, indaga Padre Almir. “Seu contexto sócio-histórico e geográfico e se observarmos qual é a cor, idade e condição social de quem está preso, percebemos que faltou o acesso às políticas públicas, não foram contempladas no direito mínimo”, lamenta.

O religioso reforça que se os direitos básicos desde a tenra idade das pessoas fossem atendidos — como alimentação, educação, cultura, saúde — seriam formados adultos que buscariam seus sonhos e contribuiriam para o seu próprio desenvolvimento. “E a falta disto que joga a pessoa desde sua infância na criminalidade e o jovem na prisão.”, contextualiza o padre.

Mas o trabalho da Pastoral não se restringe apenas a uma singela visita religiosa. “Seu objetivo é a evangelização e a promoção da dignidade humana, a luta para que seus direitos não sejam violados”, define o vice-coordenador nacional da Pastoral.

Há um momento fundamental para que a conversão do indivíduo encarcerado aconteça: nas saídas permitidas pela Justiça. “Estes dias são fundamentais na reinserção de quem está preso na sociedade. Prevenir a reincidência ao crime está ligada diretamente com acesso às políticas públicas, à educação, ao trabalho com uma remuneração que lhe permita acessar moradia e alimentação digna para ele e sua família”, diz.

A Pastoral Carcerária faz a visita a todas as pessoas, não somente a católicos, pois sua agenda abrange desencarceramento e o combate a toda forma de tortura. “A Pastoral Carcerária acredita num mundo sem prisões, um mundo sem cárcere”, finaliza padre Almir.

Fonte: Canção Nova / Por Thiago Coutinho

Compartilhe essa Notícia

Leia também